Na produção comercial de suínos, os animais são expostos a diferentes estressores. Em especial os leitões, que possuem um sistema digestivo pouco desenvolvido no momento do desmame e baixa atividade de enzimas responsáveis pela digestão de alimentos de origem vegetal (GREESE et al., 2017).
Além disso, o trato gastrointestinal de animais jovens apresenta menor produção de ácidos gástricos – o que compromete a digestão de diversos nutrientes, em especial da proteína (MAO et al., 2019). Os nutrientes não digeridos servem como substrato proporcionando condições favoráveis ao desenvolvimento de microrganismos indesejáveis no trato digestivo.
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Visando reduzir perdas relacionadas a ação de microrganismos intestinais patogênicos, a indústria animal durante décadas faz uso dos antibióticos promotores de crescimento (APCs). Os APCs são fornecidos em doses subterapêuticas durante períodos mais prolongados dentro do ciclo produtivo (MOREL et al., 2019).
Acredita-se que os APCs são capazes de modular a microbiota intestinal, inibindo a proliferação de microrganismos indesejáveis. Também, esses compostos apresentam a capacidade de alterar positivamente a morfologia intestinal, melhorando a digestão dos nutrientes e consequentemente a performance produtiva (MARSHALL E LEVY, 2011).
O banimento dos APC (Antibióticos promotores de crescimento)
Nas últimas décadas, a utilização de antibióticos na produção animal vêm sendo alvo de vários questionamentos, os quais são de notoriedade pública. Esses fatos estão relacionados a um possível desenvolvimento de resistência microbiana oriunda da utilização dos APCs. Além disso, há preocupação quanto aos resíduos desses compostos em produtos de origem animal e os riscos do desenvolvimento de resistência cruzada aos antibióticos (HUNTER et al., 2010).
No ano de 2006 os APCs foram oficialmente banidos pela União Europeia. O banimento destes compostos na nutrição animal originou uma lacuna, abrindo espaço para o desenvolvimento de diversos compostos alternativos e com potencial para substituir os APCs, atuando como promotores de crescimento na suinocultura. Dentre estes compostos estão os ácidos orgânicos.
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Desempenho de leitões suplementados com ácidos orgânicos
Um estudo conduzido por KIARIE et al. (2018) comparou os efeitos do ácido benzóico com antibióticos, não tendo sido observada diferença entre os tratamentos avaliando o desempenho produtivo dos leitões. Nesse estudo, concluiu-se que o ácido benzóico foi capaz de conferir a mesma performance em relação aos animais que receberam antibióticos, atuando como um promotor de crescimento no contexto experimental.
Além do desempenho produtivo dos leitões, alguns autores relataram a influência da suplementação com ácidos orgânicos sobre o score fecal e a incidência de diarreia em suínos na fase de creche. CHO et al. (2015) suplementaram leitões desmamados com um blend de ácidos orgânicos e observaram aumento significativo no desempenho produtivo em relação ao grupo controle, além da melhoria do score fecal dos animais.
Modulação da microbiota intestinal
Acidificadores como ácidos orgânicos vêm sendo empregados na dieta de suínos devido as suas propriedades antimicrobianas e o seu potencial de reduzir o pH do trato gastrointestinal, melhorando a digestibilidade e reduzindo a população de microrganismos pH-sensíveis (KIL et al., 2011).
Alguns autores observaram que a suplementação com blends de ácidos orgânicos reduziu a contagem bacteriana de Escherichia coli no ceco (GRECCO et al., 2018) e nas fezes (YANG et al., 2019) de suínos desmamados. Da mesma forma, a suplementação com ácido benzóico também reduziu a contagem da bactéria no íleo e no ceco dos leitões (CHEN et al., 2017).
Resultados da redução da contagem de Escherichia coli por ação dos ácidos orgânicos são interessantes para a suinocultura, especialmente na fase de desmame, quando o trato gastrointestinal dos leitões é sensível e desordens intestinais de origem patogênica podem ser determinantes.
Considerações finais
Os resultados do uso de ácidos orgânicos – individualmente ou em blends, são promissores para a suinocultura, comprovando que esses compostos atuam como melhoradores de desempenho. Os benefícios se estendem desde a melhora no desempenho produtivo até a modulação do microbioma intestinal, reduzindo a população de Escherichia coli, por exemplo.
Nesse sentido, os ácidos orgânicos poderiam substituir os antibióticos promotores de crescimento ao exercer um papel similar a esses compostos, sem os possíveis riscos de resistência bacteriana cruzada ou resíduos nos produtos de origem animal.
Referências:
CHEN, J. L. et al. Benzoic acid beneficially affects growth performance of weaned pigs which was associated with changes in gut bacterial populations, morphology indices and growth factor gene expression. Journal of animal physiology and animal nutrition, v. 101, n. 6, p. 1137-1146, 2017.
CHO, Jin H.; KIM, In H. Effects of microencapsulated organic acids and essential oils on growth performance and intestinal flora in weanling pigs. Revista Colombiana de Ciencias Pecuarias, v. 28, n. 3, p. 229-237, 2015.
GRECCO, Henrique AT et al. Evaluation of growth performance and gastro-intestinal parameters on the response of weaned piglets to dietary organic acids. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 90, p. 401-414, 2018.
GRESSE, Raphaële et al. Gut microbiota dysbiosis in postweaning piglets: understanding the keys to health. Trends in Microbiology, v. 25, n. 10, p. 851-873, 2017.
HUNTER, Pamela A. et al. Antimicrobial-resistant pathogens in animals and man: prescribing, practices and policies. 2010.
KIARIE, Elijah et al. Comparative efficacy of antibiotic growth promoter and benzoic acid on growth performance, nutrient utilization, and indices of gut health in nursery pigs fed corn–soybean meal diet. Canadian Journal of Animal Science, v. 98, n. 4, p. 868-874, 2018.
MAO, Xiangbing et al. Lentinan administration relieves gut barrier dysfunction induced by rotavirus in a weaned piglet model. Food & Function, v. 10, n. 4, p. 2094-2101, 2019.
MARSHALL, Bonnie M.; LEVY, Stuart B. Food animals and antimicrobials: impacts on human health. Clinical Microbiology Reviews, v. 24, n. 4, p. 718-733, 2011.
MOREL, P. C. H. et al. Effect of benzoic acid, sodium butyrate and sodium butyrate coated with benzoic acid on growth performance, digestibility, intestinal morphology and meat quality in grower-finisher pigs. Livestock Science, v. 226, p. 107-113, 2019.
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