Antibióticos promotores de crescimento (APCs) na produção de aves e suínos

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antibióticos promotores de crescimento

No ambiente produtivo, animais como aves e suínos estão sujeitos aos mais variados tipos de estresses e desafios. Esses fatores podem ser responsáveis pela redução da imunidade desses animais, ocasionando desordens no organismo como um todo. Algumas importantes desordens inerentes a todos os sistemas produtivos são desordens no trato gastrointestinal.

Muitas vezes relacionados a proliferação de patógenos no ambiente digestivo, problemas gastrointestinais estão associados a perda de peso, desidratação e mortalidade – portanto, atuam sobre importantes componentes do ciclo produtivo. Para reduzir e/ou evitar desordens desse tipo utiliza-se como prática comum a adição de doses preventivas ou sub terapêuticas de antibióticos.

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Antibióticos promotores de crescimento (APCs)

De acordo com a FAO, antibióticos são quaisquer substâncias (naturais ou sintéticas) que, em baixas concentrações, são capazes de inibir o crescimento de microrganismos – como bactérias. Os antibióticos promotores de crescimento (APCs), por sua vez, são definidos como antibióticos utilizados para conferir melhores respostas produtivas, como ganho de peso, em animais de produção (FAO, 2003).

Os APCs têm como finalidade controlar agentes prejudiciais ao trato digestivo dos animais e proporcionar melhor absorção dos nutrientes (Vassalo et al., 1997). São antibióticos fornecidos na dieta em dosagens baixas (ou sub terapêuticas) durante um período longo dentro do ciclo produtivo. Porém, a indústria animal passa por diversas mudanças significativas na busca por uma melhor adaptação às demandas do mercado consumidor.

Nesse cenário, consumidores desejam consumir produtos de frangos e suínos criados sem (ou com o uso mínimo) de aditivos químicos na ração, e os APCs são uma categoria de aditivos que sofre bastante pressão pela opinião pública nesse sentido (Cardinal et al., 2019).

antibióticos promotores de crescimento
Fonte: pngarea.com

Em algumas localidades, como na União Europeia, os APCs foram banidos (USDA, 2010). Essas ações ocorreram devido às especulações sobre possíveis reações alérgicas relacionadas ao uso desses aditivos. Além disso, a carga residual dos APCs nos tecidos dos animais (mais precisamente na carne) e a indução da resistência bacteriana (Roca et al., 2015) pelo uso indiscriminado dessas substâncias também são assuntos polêmicos e que contribuíram para o banimento do uso em rações de frangos de corte e suínos.

Leia também: Por que cuidar da saúde intestinal de frangos de corte

Embora nenhuma das questões acima tenha sido completamente comprovada, as determinações da União Europeia norteiam as cadeias produtoras de carne a nível mundial. Especialmente as cadeias produtivas brasileiras, considerando que uma parcela significativa do que é produzido em território nacional é exportado, inclusive, para a própria União Europeia.

No cenário brasileiro, alguns APCs tiveram seu uso restringido, como as tetraciclinas, penicilina, cloranfenicol, sulfonamidas sistêmicas, furazolidonas, nitrofurazonas, avorpacinas e mais recentemente a colinstina (MAPA, 2018) nas rações de frangos, suínos e bovinos de corte. Contudo, diferentemente da União Europeia, até a presente data o banimento não foi total.

Fonte: blog.nutron.com.br
Como agem os antibióticos promotores de crescimento (APCs)

Os mecanismos de ação dos antibióticos promotores de crescimento não foram completamente elucidados, portanto são considerados alguns “possíveis” mecanismos de ação. Os APCs têm seu sítio de ação majoritariamente no lúmen intestinal. De acordo com Rosen (1995), os APCs apresentam 72% de respostas positivas à performance animal, contudo essas respostas variam de acordo com as características de produção e podem se dar por diferentes mecanismos de ação.

Há alguns mecanismos de ação dos APCs que se dão diretamente sobre os microrganismos sensíveis, causando morte ou redução na velocidade do crescimento (Cardinal et al., 2020). Contudo, considerando que as doses dos APCs são baixas, a ação desses compostos é gradual e o fornecimento deve ocorrer por períodos mais prolongados. Foram propostos quatro principais mecanismos de ação dos APCs: redução de infecções subclínicas; redução dos metabólitos tóxicos produzidos pelos microrganismos; redução do uso de nutrientes por microrganismos indesejados e melhoria na absorção de nutrientes (Dibner e Richards, 2005).

De maneira geral pode-se dizer que a ação dos APCs ocorre por um conjunto de interações e alterações do trato gastrointestinal dos animais. Mas é possível observar que há uma melhoria na digestibilidade e na absorção de nutrientes. Somado a isso, o tratamento de possíveis infecções subclínicas – reduzindo a população de microrganismos patogênicos, além da redução da competição por nutrientes no trato gastrointestinal.

Um pouco sobre os impactos econômicos da retirada dos APCs da dieta de aves e suínos

Cardinal et al. (2020) realizaram um trabalho de meta-análise a partir de um compilado de estudos com experimentos in vivo realizados em aves e suínos contendo APCs. Nesse trabalho, os impactos econômicos das retiradas dos APCs foram calculados para a espécie suína. Para as suínos, os impactos da retirada dos APCs resultariam em um aumento de cerca de $ 1,83/animal durante todo o período produtivo, considerando não haver desafios sanitários – o que em condições práticas é raro. Assim, os incrementos nos custos poderiam ser maiores.

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Fonte: deheus.com


Já para as aves, Cardinal et al. (2019) encontraram que – sem desafios sanitários – o banimento dos APCs geraria um aumento nos custos de produção estimado de $0,03/animal. Apesar de serem valores “baixos” avaliados individualmente, somando-se aos demais custos de produção e ao elevado número de animais alojados – o banimento dos APCs pode resultar em aumentos significativos nos custos de sistemas produtivos.

Alternativas aos Antibióticos Promotores de Crescimento

Diversos produtos vêm sendo testados como alternativas aos aditivos químicos fornecidos via ração na produção animal. Dentre esses aditivos, os APCs. Fórmulas alternativas como ácidos orgânicos, fitogênicos (extratos ou produtos de origem vegetal), probióticos, prebióticos, enzimas e minerais complexados organicamente (orgânicos) vêm ganhando notoriedade em substituição aos APCs.

A utilização de probióticos apresentou bons resultados no estudo de Sartori et al. (2007), contribuindo para melhorias no desempenho de frangos de corte. O funcionamento destes aditivos consiste na colonização rápida do meio intestinal pelo probiótico, reduzindo a proliferação de microrganismos indesejáveis. Os benefícios se dão pela competição direta entre os microrganismos do probiótico (em geral bactérias ácido láticas) e microrganismos patogênicos.

O uso de alguns microminerais, como Zn e Cu, também pode auxiliar na redução da proliferação de microrganismos patogênicos. Quando fornecido em dosagens adequadas, os íons de Zn se dissociam no ambiente digestivo, sendo capazes de inibir o transporte via membrana das bactérias Escherichia coli, além do sistema de oxidação da cadeia respiratória da bactéria, reduzindo significativamente seu crescimento.

De acordo com Viola e Vieira (2007), a acidificação da dieta com ácidos orgânicos ou inorgânicos pode ser uma alternativa aos antibióticos. Acredita-se que a ação dos ácidos orgânicos se dê pela acidificação e manutenção do pH ácido de determinadas porções do trato gastrointestinal, estimulando a produção de enzimas que facilitam a digestão dos nutrientes. No mesmo contexto ocorre um desfavorecimento ao desenvolvimento de microrganismos patogênicos em pH ácido. Em teoria os ácidos orgânicos agiriam reduzindo o substrato aos microrganismos devido a melhor digestão por ação rápida das enzimas, e também pela redução do pH – gerando um ambiente menos favorável.

Considerações finais

O banimento dos APCs é uma realidade, e nesse cenário o desenvolvimento de aditivos alternativos é extremamente importante para a manutenção da produtividade nos sistemas de criação de frangos e suínos. Há diversos estudos que demonstram resultados promissores ao uso de probióticos por exemplo, ou ácidos orgânicos. Contudo, os resultados ainda não foram consolidados e fórmulas/dosagens ainda não foram completamente estabelecidas.

Referências:

Cardinal, K. M., Kipper, M., Andretta, I., & Ribeiro, A. L. M. (2019). Withdrawal of antibiotic growth promoters from broiler diets: performance indexes and economic impact. Poultry Science, 98(12), 6659–6667.

Cardinal KM, da Silva Pires PG, Ribeiro AM. Growth promoter in broiler and pig production. PUBVET. 2020;14(3).

Dibner, J. J., & Richards, J. D. (2005). Antibiotic growth promoters in agriculture: history and mode of action. Poultry Science, 84(4), 634–643.

FAO, (2003). Impacts of antimicrobial growth promoter termination in Denmark: the WHO international review panel’s evaluation of the termination of the use of antimicrobial growth promoters in Denmark: Foulum, Denmark 6-9 November 2002, Geneva: World Health Organization.

MAPA. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. (2018). PAN-BR

Roca, I., Akova, M., Baquero, F., Carlet, J., Cavaleri, M., Coenen, S., Cohen, J., Findlay, D., Gyssens, I., & Heure, O. E. (2015). The global threat of antimicrobial resistance: science for intervention. New Microbes and New Infections, 6, 22–29.

Rosen, G. D. (1995). Antibacterials in poultry and pig nutrition. Biotechnology in Animal Feeds and Animal Feeding, 172, 143.

Sartori, J.R., Pereira, K. A, Gonçalves, J.C., Enzima e simbiótico para frangos criados nos sistemas convencional e alternativo. Ciência Rural, v.37, n.1, p.235-240, 2007,

USDA, 2010 United States National Residue Program for Meat, Poultry and Egg Products: 2010 Residue Sample Results

Viola, E.S., Vieira, S.L.. Suplementação de acidificantes orgânicos e inorgânicos em dietas para frangos de corte: desempenho zootécnico e morfologia intestinal. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.4, p. 1097-1104, 2007.

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