Os ovos, especialmente os produzidos para consumo, compõem uma importante parcela da produção avícola brasileira. A demanda por ovos é crescente, considerando o aumento no consumo de 162 em 2011 para 257 unidades/habitante/ano em 2021 (ABPA, 2022). Um incremento de cerca de 59% na última década.
Com o crescente número de aves alojadas e o alto teto produtivo da avicultura de postura, há também uma crescente pressão no que se refere ao forcimento de boas condições produtivas para os animais. Especialmente quando se trata do fornecimento de uma alimentação de qualidade (GUL et al., 2016).
Na nutrição animal, grãos e seus coprodutos são importantes ingredientes utilizados na formulação de dietas. Ocorre que cereais, como milho, trigo, sorgo e arroz, frequentemente são contaminados por fungos (BEHERE et al., 1978). Muitos desses fungos que contaminam os ingredientes utilizados para a produção de rações produzem micotoxinas.
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Micotoxinas são metabólitos secundários tóxicos resultantes de diversas reações bioquímicas dos organismos fúngicos. Alguns autores discutiram que a presença desses metabólicos na avicultura são um dos principais fatores responsáveis pela redução da produtividade da cadeia (OGUZ, 2011). Isso ocorre porque as micotoxinas impactam tanto no desempenho produtivo dos animais quanto na qualidade final dos produtos originados pelos mesmos.
Ocorrência e principais micotoxinas na produção animal
As micotoxinas mais comumente encontradas nos ingredientes utilizados para a nutrição animal são as aflatoxinas, ocratoxinas A (OTA), tricrotecenos (por exemplo DON), zearalenonas (ZEA) e fumonisinas (Yang et al., 2020).
As aflatoxinas são as micotoxinas que apresentam maior relevância na produção animal. Esses metabólitos secundários apresentam diversos efeitos nocivos à saúde, dentre eles o potencial mutagênico e cancerígeno (ABNET, 2007). Especificamente na avicultura, as aflatoxinas são metabolizadas em aflatoxinas M e aflatoxicol após a ingestão, acumulando-se em diversos órgãos e tecidos das aves como o músculo peitoral, o fígado, moela e, inclusive, nos ovos produzidos pelas poedeiras (WOLZAK et al., 1986).
As ocratoxinas, por sua vez, apresentam potencial cancerígeno quando presentes na alimentação humana. Além disso, essas micotoxinas são capazes de reduzir a resposta imune dos animais e se acumular em diversos tecidos (TAO et al., 2018). Associadas a ocorrência de problemas urinários, foram observadas maiores concentrações de ocratoxinas no tecido renal, seguido pelo tecido hepático e por fim nos músculos de animais de produção (POZZO et al., 2010).
As micotoxinas fumonisinas, DON e ZEA são produzidas por fungos do gênero Fusarium. De acordo com KIM et al. (2013), um estudo coreano demonstrou que fumonisinas, DON e ZEA são encontradas em diversos alimentos e ingredientes nas proporções de 99, 91 e 71%, respectivamente. Especialmente a respeito das fumonisinas, pouco sabe-se sobre a sua capacidade de acumular-se em tecidos animais ou ovos. Contudo, a alta ocorrência dessas micotoxinas em diversas matérias-primas utilizadas na nutrição animal foi comprovada. Além disso, as fumonisinas são responsáveis pela redução no desemepnho produtivo de aves e suínos na cadeia animal (AKINMUSIRE et al., 2019).
Micotoxinas na avicultura de postura comercial
O consumo de rações contaminadas com micotoxinas pode acarretar efeitos adversos no desempenho e na saúde animal, gerando perdas econômidas bastante significativas (ZAIN et al., 2011). Na avicultura de postura, o consumo de alimentos contaminados com micotoxinas reduz o consumo alimentar dos animais e, consequentemente o ganho de peso. Além disso, a ingestão de micotoxinas piora a qualidade da casca dos ovos e gera lesões no aparelho bucal das aves (BURDITT et al., 1983).
CHOWDHURY et al. (2004) realizaram um experimento com poedeiras comerciais de 45 semanas de idade alimentadas com grãos contaminados por fungos do gênero Fusarium. Em comparação ao grupo que não recebeu dieta contaminada, as aves desafiadas por micotoxinas apresentaram menor produção de ovos e menor peso de ovos ao final do período experimental. Adicionalmente, o peso das cascas dos ovos das poedeiras desafiadas foi inferior em comparação ao grupo controle.
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No mesmo sentido, ZHAO et al. (2021) observaram os efeitos de aflatoxinas, DON e ocratoxinas combinadas em importantes variáveis produtivas de poedeiras comerciais de 26 semanas de idade. No experimento foi observada a redução na produção de ovos e aumento da mortalidade. Adicionalmente, foi observada pior qualidade da casca dos ovos e acúmulo de DON (249 ug/kg) os ovos das aves na 12ª semana do experimento.
Considerações finais
A presença de micotoxinas nos diferentes ingredientes utilizados na produção animal é um fato. Além disso, os impactos da presença desses metabólitos tóxicos já foi comprovado nas diferentes espécies de animais de produção, sendo alguns deles mais ou menos suscetíveis aos efeitos tóxicos das micotoxinas. Poedeiras comerciais, assim como os demais, estão suscetíveis a presença de micotoxinas na ração. Pode ser observado que o impacto da presença desses compostos se estende a diferentes esferas da produção de poedeiras, impactando desde a performance produtiva, reduzindo a produção de ovos, até a qualidade do produto, como a redução da qualidade da casca e a permanência de resíduos de micotoxinas nos ovos.
Referências
ABNET, Christian C. Carcinogenic food contaminants. Cancer investigation, v. 25, n. 3, p. 189-196, 2007.
AKINMUSIRE, Oyekemi O. et al. Mycotoxins in poultry feed and feed ingredients in Nigeria. Mycotoxin research, v. 35, n. 2, p. 149-155, 2019.
Associação Brasileira de Proteína Animal. Relatório anual. ABPA, 2022. Disponível em: abpa-br.org/wp-content/uploads/2022/05/Relatorio-Anual-ABPA-2022-vf.pdf. Acesso em: 04 out. 2022.
BEHERE, A. G. et al. PRODUCTION OF AFLATOXINS DURING STORAGE OF GAMMA—IRRADIATED WHEAT. Journal of Food Science, v. 43, n. 4, p. 1102-1102, 1978.
BURDITT, SUSAN J.; HAGLER JR, WINSTON M.; HAMILTON, PAT B. Survey of molds and mycotoxins for their ability to cause feed refusal in chickens. Poultry Science, v. 62, n. 11, p. 2187-2191, 1983.
CHOWDHURY, S. R.; SMITH, T. K. Effects of feeding blends of grains naturally contaminated with Fusarium mycotoxins on performance and metabolism of laying hens. Poultry science, v. 83, n. 11, p. 1849-1856, 2004.
GUL, Haji et al. Effects of local sodium bentonite as aflatoxin binder and its effects on production performance of laying hens. Kafkas Üniversitesi Veteriner Fakültesi Dergisi, v. 23, n. 1, p. 31-37, 2017.
KIM, Dong-Ho et al. Occurrence of mycotoxins in Korean grains and their simultaneous analysis. Korean Journal of Food Science and Technology, v. 45, n. 1, p. 111-119, 2013.
OGUZ, Halis. A review from experimental trials on detoxification of aflatoxin in poultry feed. Eurasian Journal of Veterinary Sciences, v. 27, n. 1, p. 1-12, 2011.
POZZO, Luisa et al. A survey of ochratoxin A contamination in feeds and sera from organic and standard swine farms in northwest Italy. Journal of the Science of Food and Agriculture, v. 90, n. 9, p. 1467-1472, 2010.
TAO, Yanfei et al. Ochratoxin A: Toxicity, oxidative stress and metabolism. Food and Chemical Toxicology, v. 112, p. 320-331, 2018.
WOLZAK, A. et al. Aflatoxin carryover and clearance from tissues of laying hens. Food and chemical toxicology, v. 24, n. 1, p. 37-41, 1986.
YANG, Changwon; SONG, Gwonhwa; LIM, Whasun. Effects of mycotoxin-contaminated feed on farm animals. Journal of Hazardous Materials, v. 389, p. 122087, 2020.
ZAIN, Mohamed E. Impact of mycotoxins on humans and animals. Journal of Saudi chemical society, v. 15, n. 2, p. 129-144, 2011.
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