Microminerais são nutrientes essenciais na nutrição animal. Requeridos em quantidades muito pequenas em comparação aos macrominerais, como o cálcio, apesar do baixo nível de requerimento, microminerais como o zinco, o selênio e o cobre são essenciais em diversos processos da fisiologia dos animais. Dentre estes processos está o metabolismo proteico e dos carboidratos, além do desenvolvimento de órgãos imunes e da própria resposta imune (Reece et al., 2015).
Absorção
Pode-se dizer que a contribuição dos ingredientes utilizados como fontes minerais depende não somente do conteúdo mineral presente, mas também do quanto este conteúdo pode ser utilizado pelos animais (Saripinar Aksu et al., 2012). As fontes mais comuns de suplementação de microminerais na produção animal são fontes inorgânicas, basicamente óxidos e sulfatos – ou “sais”.
Sais inorgânicos são convertidos em íons livres no trato gastrointestinal, sofrendo dissociação para que possam ser absorvidos pelo sistema digestivo (Saripinar-Aksu et al., 2012). Contudo, essa dissociação pode acarretar na ligação do íon a outros componentes da dieta (uma complexação “indesejada”), reduzindo ou bloqueando totalmente a absorção do mineral.
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O Zn e o Cu são absorvidos principalmente pelas células do intestino delgado. Já a absorção do selênio ocorre de maneira mais pronunciada no duodeno (Reece et al., 2015). As diferentes porções do trato gastrointestinal podem apresentar diferentes valores de pH, alterando a dinâmica química dos microminerais.
Antagonismos
O uso de fontes inorgânicas de minerais, como sais, pode gerar interações antagônicas entre estes no ambiente intestinal, reduzindo sua biodisponibilidade e levando à necessidade de maiores níveis de suplementação na dieta. Os microminerais Zn e Cu, por exemplo, são antagonistas um do outro. Na maioria dos casos, o zinco interfere na absorção do cobre, podendo levar à deficiências (Reece et al., 2015). Da mesma maneira, o cobre pode interferir na absorção de zinco quando a razão dietética está muito alta (50:1).
Biodisponibilidade
O que pode ser de fato utilizado pelos animais é determinado como “biodisponibilidade”. O grau de biodisponibilidade é definido por quatro fatores principais (Hazell, 1985; Ammerman et al., 1995): acessibilidade (quantidade de mineral absorvido pela mucosa); absorvibilidade (potencial de transferência do que é absorvido pela mucosa para ser utilizado pelo metabolismo); continuidade (potencial de retenção do mineral) e funcionalidade (potencial de cooperação do mineral retido com formas funcionais de outros minerais).
Minerais orgânicos, ou seja, aqueles complexados a moléculas orgânicas, apresentam maior biodisponibilidade em relação aos minerais inorgânicos. Quando ingeridos na forma complexada organicamente, a absorção dos minerais pode ocorrer em praticamente qualquer parte do intestino. Chegando ao lúmen intestinal, sofrem hidrólise na região gástrica, e os átomos ligados aos íons metálicos (minerais) atuam como agentes transportadores – protegendo o mineral de interações e antagonismos (Zafar e Fatima, 2018).
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No intestino, esses complexos orgânicos são absorvidos diretamente pelos enterócitos, enquanto que as fontes inorgânicas apenas são absorvidas quando encontram transportadores específicos de íons metálicos (Świątkiewicz et al., 2014). Por conta disso, acredita-se que o fornecimento destas fontes orgânicas possa aumentar a absorção dos minerais e reduzir a excreção via fezes.
Excreção
A urina e as fezes/excretas compõem as principais rotas de excreção de diversos microminerais, contudo a absorção aparente sempre é considerada como limitante (Bao e Choct, 2009). Em um experimento com suínos na fase de desmame, as concentrações fecais de cobre Cu aumentaram de acordo com o aumento da concentração de Cu na dieta (Armstrong et al., 2004).
Contudo, quando se comparou diferentes fontes do micromineral, sulfato de cobre (CuSO4) e citrato de cobre (CuCit), a suplementação de 125 ppm da fonte orgânica CuCit apresentou menores concentrações do mineral nas fezes, em comparação aos 250 ppm suplementados pela fonte inorgânica CuSO4.
Um outro experimento de Wen et al. (2019) testou duas fontes de cobre para suplementação de frangos de corte, CuSO4 e cobre-metionina (Cu-Met). Não foi observada diferença entre as fontes no que tange parâmetros produtivos, como ganho de peso diário ou consumo alimentar.
Contudo, a suplementação com a fonte inorgânica CuSO4 resultou em maior excreção do micromineral nas fezes em comparação ao Cu-Met, resultando em um menor coeficiente de retenção de Cu.
Interações entre minerais são as maiores causas de variações na sua disponibilidade, influenciando o valor nutritivo da dieta (Bao et al., 2010). O fornecimento de microminerais organicamente complexados apresenta potencial para reduzir a excreta destes nutrientes.
Referências
BAO, Y. M. et al. Trace mineral interactions in broiler chicken diets. British Poultry Science, v. 51, n. 1, p. 109–117, fev. 2010.
BAO, Y. M.; CHOCT, M. Trace mineral nutrition for broiler chickens and prospects of application of organically complexed trace minerals: a review. Animal Production Science, v. 49, n. 4, p. 269, 2009.
REECE, W. O, et al. Dukes’ physiology of domestic animals. John Wiley & Sons; 2015 Apr 1.
SWIATKIEWICZ, S., et al. The efficacy of organic minerals in poultry nutrition: review and implications of recent studies. World’s Poultry Science Journal, v. 70, n.3, 2014. 475-486.
WEN, A. et al. Copper bioavailability, mineral utilization, and lipid metabolism in broilers. Czech Journal of Animal Science, v. 64, n. No. 12, p. 483–490, 22 dez. 2019.
ZAFAR, M. H.; FATIMA, M. Efficiency comparison of organic and inorganic minerals in poultry nutrition: A Review. Veterinary Research, p. 7, 2018.
Respostas de 2
E depois de absorvidos, ocorre dissociação dos minerais orgânicos?