Aspectos nutricionais da dieta e a imunidade de leitões

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O período que compreende o nascimento e o desmame é crítico na vida dos leitões. Sabe-se que, logo após o nascimento, um insuficiente consumo de colostro tem sido identificado como uma das maiores causas de mortalidade neonatal (Edwards, 2002).

Já o desmame caracteriza-se por um período extremamente estressante na vida dos animais. Desde a separação da mãe até as mudanças bruscas na dieta e no ambiente influenciam negativamente e tornam a fase crítica.

Na natureza, o desmame ocorre como um processo gradual, se dando por volta das 10 a 12 semanas de vida – quando o trato gastrointestinal desses animais está mais maduro. Nos sistemas industriais de produção, o desmame ocorre repentinamente entre as três e quatro semanas de idade (Worobet et al., 1999).

Mortalidade neonatal e ingestão de colostro

Cerca de 50% da mortalidade pré-desmame ocorre três dias após o nascimento (Tuchscherer et al., 2000). As causas dessa mortalidade são diversas. Contudo, leitões que apresentam menor peso ao nascimento e lento ganho de peso são os mais suscetíveis. Estas importantes variáveis de desempenho (ganho de peso e peso ao nascimento) estão fortemente relacionadas ao menor consumo de colostro nos primeiros dias de vida (Milligan et al., 2002).

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Além de conter energia e nutrientes para a termorregulação, o colostro desempenha um importante papel na transferência de anticorpos da mãe para os leitões (Rooke and Bland, 2002). A amamentação e o consumo de colostro, em especial nos primeiros dias de vida, são cruciais para um bom desenvolvimento intestinal dos leitões. Esse fato contribui para melhor resposta imune frente a desafios, e melhores respostas produtivas.

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Fonte: www.viv.net.
Desenvolvimento gastrointestinal e o desmame

Devido ao desmame precoce em comparação as condições naturais de desenvolvimento dos suínos, há comprometimento na estrutura intestinal dos leitões. Essa estrutura e suas características desempenham um importante papel na saúde futura e na performance dos leitões. Reduções no consumo alimentar (característica do pós-desmame) são responsáveis por alterações na morfologia intestinal como a atrofia das vilosidades – estruturas responsáveis pela absorção dos nutrientes (Wiese et al., 2003).

Um baixo (ou inexistente) consumo acarreta em alterações intestinais que reduzem a absorção, reduzindo a quantidade de energia disponível aos animais. Essas alterações correm em um período crucial do desenvolvimento dos suínos: logo após o desmame, quando o peso dos animais está fortemente correlacionado ao peso final ao abate (Campbell et al., 2013).

A porcentagem de proteínas (imunoglobulinas) presente no colostro garante ao recém nascido imunidade passiva (anticorpos). Fonte: Consuitec.
A quantidade do colostro ingerida nas primeiras horas de vida, garante a saúde sobrevivência e o desempenho do leitão.
Fonte: Consuitec.
A nutrição modulando o sistema imune

Os nutrientes exercem um importante papel na resposta imune dos animais, pois atuam como substrato e cofatores enzimáticos durante a própria resposta imune, além da produção de anticorpos (Klasing et al., 1980). Adicionalmente, a imunidade é regulada por diversos hormônios dependentes de nutrientes da dieta, como proteína e glicose. Nesse sentido, todos os processos biológicos demandam energia, sendo esse outro “nutriente” essencial da dieta.

Leitões, especialmente na fase de desmame, são submetidos a estresses. Esses estresses se estendem desde fatores ambientais até possíveis infecções por patógenos gastrointestinais, como a Escherichia coli. Quaisquer alterações, de qualquer natureza, geram respostas no organismo do animal, atuando inclusive sobre o seu sistema imune. Especialmente desafios sanitários comuns às granjas, como a presença de E. coli no ambiente, ou outros patógenos gastrointestinais.

Estas respostas ao ambiente ou a desafios sanitários podem deprimir o sistema imune, que apresenta maior prioridade em relação ao crescimento, por exemplo. Isso pode ser observado quando uma restrição alimentar moderada é capaz de prejudicar as taxas de crescimento, mas não prejudica seus índices de imunocompotência (Klasing et al., 1980).

Proteína da dieta

As proteínas são o componente fundamental dos tecidos animais. São necessárias para o reparo de tecidos já formados, crescimento de novos e formação de produtos animais como a carne, o leite e os ovos (Ribeiro et al., 2008). Nos sistemas de produção, utilizam-se tabelas convencionadas para estimar as demandas nutricionais de suínos em suas diferentes fases produtivas (NRC 2012 ou Tabelas Brasileiras para aves e suínos, Rostagno et al., 2012.

Estas tabelas visam o fornecimento de nutrientes como a proteína que maximizem respostas produtivas. Contudo, a maior parte dos mediadores de respostas inflamatórias e imunes são peptídeos, ou seja, proteínas. Essas moléculas apresentam perfis diferentes das proteínas envolvidas no processo de crescimento, por exemplo. Isso indica que podem existir exigências específicas de aminoácidos e proteínas para que haja a resposta imune (Le Floc’h, 2000), e são diferentes das utilizadas para o crescimento.

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Fonte: microbasics.com

Alguns aminoácidos podem ser associados às respostas imunes dos animais, dentre eles está a glutamina. No estudo de Wu and Sabina (1996), a suplementação com 1% de glutamina para suínos aumento a eficiência alimentar em 25%, bem como a altura das vilosidades intestinais, melhorando a saúde intestinal e a absorção de nutrientes.

Energia

A energia não é um nutriente por definição. A energia é um produto da oxidação dos nutrientes (Ribeiro et al., 2008), que serve como combustível para a formação de tecidos e para o crescimento.

A energia é essencial para todos os processos metabólicos envolvidos no desenvolvimento, e também na resposta imune dos animais. Quando um animal passa por um desafio imunológico, pode haver redução no consumo de alimento. Isso caracteriza um quadro extremamente prejudicial, pois haverá consequentemente menor consumo de energia, havendo menos combustível disponível para o organismo e todos os seus processos.

Assim, quando há um desafio imunológico, pode ser importante regular a densidade energética da dieta (Klasing, 1992). A densidade pode ser regulada aumentando ou reduzindo a quantidade de energia fornecida. No estudo de Genton and Kudsk (2003), alterações na densidade da dieta não atuaram sobre a queda de desempenho ocasionada por um desafio de E. coli. Contudo, as alterações na densidade energética da dieta reduziram as respostas imunes humorais dos animais. Menores respostas a alterações na densidade de energia da dieta podem estar associadas às próprias respostas inflamatórias do animal.

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Fonte: www.zinpro.com
Minerais

Os minerais, em especial zinco, cobre, selênio, magnésio e ferro, apresentam um importante papel sobre as respostas imunes. Atuam como componentes de diversas enzimas que modulam a resposta imune dos animais. Além disso, podem atuar como cofatores de enzimas no metabolismo dos animais. Outros compõem importantes proteínas relacionadas às defesas antioxidativas. O ferro, em especial, é suplementado nos leitões logo após o nascimento a fim de evitar possíveis anemias.

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Esses nutrientes estão envolvidos nos mais diversos processos e desempenham importantes funções na fisiologia dos suínos, demandando fornecimento via dieta. Estudos mostraram que o fornecimento de zinco na dieta foi capaz de inibir a adesão de bactérias (E.coli) no intestino. Além disso, o zinco aumentou a produção de importantes hormônios do metabolismo, além de aumentar as vilosidades do intestino – conferindo maior absorção de nutrientes (Li et al., 2006). Nesse sentido, o fornecimento de selênio também é importante porque, caso haja deficiência deste micro mineral, radicais livres produzidos pelo estresse imune podem destruir importantes anticorpos (Arthur et al., 2003).

Conclusões

Nas condições industriais de produção, os leitões passam por diversos tipos de estresses desde o seu nascimento. Estes, por sua vez, podem impactar negativamente sobre as respostas produtivas desses animais, além de impactar sobre seu sistema imune.

Recomendações nutricionais comumente utilizadas nesses sistemas produtivos visam atender e maximizar as respostas de interesse zootécnico, como a deposição de massa magra ou o ganho de peso. Contudo, os desafios são inerentes aos sistemas produtivos, sejam eles imunológicos ou não. Portanto, parte dos nutrientes fornecidos na dieta também são particionados para atender outras demandas do organismo, como a resposta imune.

Dessa forma, fornecer uma dieta balanceada e que contemple todos os fatores pertinentes aos sistemas produtivos pode auxiliar em melhores respostas de interesse da indústria. Acredita-se que a nutrição das porcas, antes do nascimento dos leitões, também implique sobre o status nutricional da progênie.

O tema nutrição e modulação da imunidade ainda apresenta importantes lacunas quanto ao particionamento de nutrientes para cada variável, seja o ganho de peso ou a própria resposta imunológica frente a um desafio. Contudo, a temática apresenta um largo leque de assuntos para o desenvolvimento de pesquisas e discussões sobre a área.

Referências:

Arthur, J. R., McKenzie, R. C., & Beckett, G. J. (2003). Selenium in the immune system. The Journal of nutrition, 133(5), 1457S-1459S.

Campbell, J. M., Crenshaw, J. D., & Polo, J. (2013). The biological stress of early weaned piglets. Journal of animal science and biotechnology, 4(1), 1-4.

Edwards, S. A. (2002). Perinatal mortality in the pig: environmental or physiological solutions?. Livestock Production Science, 78(1), 3-12.

Floc’h, N. L., & Seve, B. (2000). Protein and amino acid metabolism in the intestine of the pig: from digestion to appearance in the portal vein. Productions Animales, 13(5), 303-314.

Klasing, K. C., Knight, C. D., & Forsyth, D. M. (1980). Effects of iron on the anti-coli capacity of sow’s milk in vitro and in ligated intestinal segments. The journal of nutrition, 110(9), 1914-1921.

Klasing, K. C. (1992). Researchers detail link between nutrition and disease status. Feedstuffs.

Genton, L., & Kudsk, K. A. (2003). Interactions between the enteric nervous system and the immune system: role of neuropeptides and nutrition. The American journal of surgery, 186(3), 253-258.

Li, X., Yin, J., Li, D., Chen, X., Zang, J., & Zhou, X. (2006). Dietary supplementation with zinc oxide increases IGF-I and IGF-I receptor gene expression in the small intestine of weanling piglets. The Journal of nutrition, 136(7), 1786-1791.

Milligan, B. N., Fraser, D., & Kramer, D. L. (2002). Within-litter birth weight variation in the domestic pig and its relation to pre-weaning survival, weight gain, and variation in weaning weights. Livestock Production Science, 76(1-2), 181-191.

National Research Council. (2012). Nutrient requirements of swine.

Ribeiro, A. M. L., Pinheiro, C. C., & Gianfelice, M. (2008). Nutrientes que afetam a imunidade dos leitões. Acta Scientiae Veterinariae, 36(1), s119-s124.

Rooke, J. A., & Bland, I. M. (2002). The acquisition of passive immunity in the new-born piglet. Livestock Production Science, 78(1), 13-23.

Rostagno, H. S., Albino, L. F. T., Donzele, J. L., Gomes, P. C., Oliveira, R. D., Lopes, D. C., … & Euclides, R. F. (2011). Tabelas brasileiras para aves e suínos. Composição de alimentos e exigências nutricionais, 2, 186.

Tuchscherer, M., Puppe, B., Tuchscherer, A., & Tiemann, U. (2000). Early identification of neonates at risk: traits of newborn piglets with respect to survival. Theriogenology, 54(3), 371-388.

Wiese, F., Simon, O., & Weyrauch, K. D. (2003). Morphology of the small intestine of weaned piglets and a novel method for morphometric evaluation. Anatomia, histologia, embryologia, 32(2), 102-109.

Worobec, E. K., Duncan, I. J. H., & Widowski, T. M. (1999). The effects of weaning at 7, 14 and 28 days on piglet behaviour. Applied Animal Behaviour Science, 62(2-3), 173-182.

Wu, G., Meier, S. A., & Knabe, D. A. (1996). Dietary glutamine supplementation prevents jejunal atrophy in weaned pigs. The Journal of nutrition, 126(10), 2578-2584.

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