O que são as micotoxinas?
Micotoxinas são metabólitos secundários de baixo peso molecular produzidos por determinados gêneros de fungos como Aspergillus, Penicillium e Fusarium – responsáveis por colonizar culturas como grãos a campo ou no armazenamento (Iheshiulor et al., 2011). Metabólitos secundários são componentes produzidos pelas mais diversas espécies, sendo assim chamados por não apresentarem papel principal no desenvolvimento e reprodução da espécie.
Contaminando cerca de 25% dos grãos produzidos em todo o mundo (Okoli et al., 2006b), a importância das micotoxinas está na intoxicação causada pelo consumo de produtos contaminados, trazendo riscos à saúde e afetando tanto a nutrição humana quanto a animal (Omede et al., 2008).
Quem são as micotoxinas?
Segundo a FAO (1998), as principais micotoxinas relacionadas a produtos de origem animal são as Aflatoxinas (B1, B2, M1, M2), Ocratoxina A e Zealerona. Os principais produtos associados a presença destas micotoxinas são ovos, fígado, músculo e rim de suínos, leite de vaca e salsichas.
O desenvolvimento e a proliferação das micotoxinas estão relacionados a condições ambientais que favoreçam, de maneira geral, o desenvolvimento das espécies fúngicas. Condições climáticas de regiões tropicais e subtropicais – caracterizadas por temperaturas amenas a elevadas e alta umidade, podem estar associadas a maior incidência de fungos e micotoxinas (Iheshiulor et al., 2011). Contudo, cada gênero de fungo apresenta suas particularidades quanto às condições climáticas ideais para seu desenvolvimento.
Efeitos das micotoxinas no trato gastrointestinal
O ambiente intestinal é fortemente afetado pela presença das micotoxinas, basicamente em função dos efeitos pós-absorção que se manifestam a partir de sinais crônicos ou agudos (Iheshiulor et al., 2011). Devido a sua interação direta com as micotoxinas, as células intestinais sofrem grande impacto negativo, perdendo sua viabilidade, o que compromete a absorção de nutrientes e a saúde do animal.
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Considerando que em intoxicações agudas a mortalidade é incomum, os efeitos da contaminação se dão mais comumente de maneira crônica, impactando de maneira gradual no desempenho (Iheshiulor et al., 2011). Durante a absorção do alimento contaminado, as células intestinais são expostas a uma alta quantidade de toxinas, afetando suas funções e alterando o funcionamento da barreira intestinal que atua como um filtro seletivo (Pierron et al., 2016).
Além dos danos teciduais, muitas micotoxinas apresentam baixa biodisponibilidade, ou seja, não são facilmente absorvidas pelo trato gastrointestinal e tendem a se concentrar nos tecidos dos animais (Prelusky et al., 1996), contribuindo para a intoxicação do organismo como um todo.
Efeitos das micotoxinas na performance de aves e suínos
No estudo de Kipper et al. (2020), foi realizado um estudo meta-analítico para avaliar o efeito das micotoxinas e suas diferentes variedades no desempenho produtivo de aves e suínos. Como resultados foram encontradas reduções de 15% no ganho de peso de frangos de corte desafiados por micotoxinas em comparação ao grupo controle. Já para suínos, a mesma comparação resultou em uma redução de 11% no ganho de peso dos animais.
No mesmo estudo percebeu-se que o tipo de micotoxina influencia na resposta do animal, portanto o tipo de contaminação contribui para maiores ou menores reduções dos parâmetros de desempenho avaliados. Kipper et al. (2020) também discutiram que há diferença de resposta à intoxicação por parte da espécie, sendo a suína mais afetada pela presença de micotoxinas.
No mesmo sentido, Andretta et al. (2011) constataram reduções no ganho de peso de 14% e no consumo de 12% para frangos de corte desafiados por micotoxinas em relação ao grupo controle. No mesmo estudo, Andretta et al. (2011) discutiram que a idade dos animais é um fator que apresenta influência sobre as respostas produtivas a micotoxinas, sendo os animais mais jovens os mais suscetíveis.
O tipo de micotoxina também apresentou influência neste estudo, pois as maiores reduções dos parâmetros produtivos foram observadas para as aflatoxinas e ocratoxinas.
De maneira complementar para suínos, outro estudo de Andretta et al. (2012) foi realizado para analisar as respostas produtivas de suínos em crescimento desafiados por micotoxinas. Em conformidade com Kipper et al. (2020), o estudo demonstrou que os suínos são mais sensíveis a ação das micotoxinas. Porém, Andretta et al. (2012) encontrou reduções de 18 e 21% no consumo e no ganho de peso para suínos em crescimento, respectivamente. Valores mais elevados em comparação ao estudo de Kipper et al. (2020).
Considerações sobre as micotoxinas na nutrição de aves e suínos
A contaminação de grãos por fungos, muitas vezes, apresenta-se como um fator de controle limitado tanto sob condições de campo quanto de armazenamento. Ao se considerar que as contaminações dificilmente ocorrem de maneira isolada (Iheshiulor et al., 2011), é possível que sejam encontrados mais de um tipo de micotoxinas em um mesmo lote de milho, por exemplo.
Os estudos apresentados acima demonstram que as perdas produtivas devido à presença de micotoxinas são significativas tanto na produção de aves quanto de suínos. Os estudos supra citados analisaram perdas considerando micotoxinas isoladamente, constatando sua influência negativa sobre o desempenho dos animais.
Além disto, foi constatado que o tipo de micotoxina influencia em maior ou menor intensidade nos parâmetros produtivos. Num cenário prático, os efeitos deletérios de diversas micotoxinas poderiam se somar, reduzindo de maneira mais contundente o desempenho dos animais.
A presença de micotoxinas na nutrição animal é um fato conhecido. Assim, é possível se utilizar de alternativas para mitigar os efeitos negativos destes compostos na alimentação, como a melhoria nas condições de armazenamento dos grãos até o uso de aditivos da alimentação animal.
A busca e o uso destas alternativas desempenham um importante papel quando se busca reduzir perdas e melhorar a produtividade dos sistemas de produção de aves e suínos.
Referências
Andretta, I., Kipper, M., Lehnen, C. R., Hauschild, L., Vale, M. M., & Lovatto, P. A. (2011). Meta-analytical study of productive and nutritional interactions of mycotoxins in broilers. Poultry Science, 90(9), 1934-1940.
Andretta, I., Kipper, M., Lehnen, C. R., Hauschild, L., Vale, M. M., & Lovatto, P. A. (2012). Meta-analytical study of productive and nutritional interactions of mycotoxins in growing pigs. Animal: an international journal of animal bioscience, 6(9), 1476.
FAO, 1998. Animal feeding and food security. FAO food and nutrition paper 69. Rome, Italy.
Iheshiulor, O. O. M., Esonu, B. O., Chuwuka, O. K., Omede, A. A., Okoli, I. C., & Ogbuewu, I. P. (2011). Effects of mycotoxins in animal nutrition: a review. Asian Journal of Animal Sciences, 5(1), 19-33.
Kipper, M., Andretta, I., Ribeiro, A. M. L., Pires, P. G. D. S., Franceschina, C. S., Cardinal, K. M., … & Schroeder, B. (2020). Assessing the implications of mycotoxins on productive efficiency of broilers and growing pigs. Scientia Agricola, 77(3).
Okoli, G., Okoli, C., Okorondu, V., & Opara, M. (2006). Environmental and public health issues of animal food products delivery system in Imo State, Nigeria. Online Journal Of Health And Allied Sciences, 5(2).
Omede, A. A. (2008, June). Critical issues in poultry feed quality evaluation in Nigeria. In Book of Abstracts and Congress Proceedings, XXIII World’s Poultry Congress (Vol. 64, No. supplement 2, p. 455).
Pierron, A., Alassane-Kpembi, I., & Oswald, I. P. (2016). Impact of two mycotoxins deoxynivalenol and fumonisin on pig intestinal health. Porcine health management, 2(1), 1-8.
Prelusky, D. B., Trenholm, H. L., Rotter, B. A., Miller, J. D., Savard, M. E., Yeung, J. M., & Scott, P. M. (1996). Biological fate of fumonisin B 1 in food-producing animals. In Fumonisins in Food (pp. 265-278). Springer, Boston, MA.
Respostas de 6
Muito bom Maria.