Adsorventes: mitigando os impactos das aflatoxinas sobre o desempenho de frangos de corte

Faça parte da comunidade Zootecnia Brasil! Inscreva-se!

O Zootecnia Brasil não envia anúncios ou e-mails em excesso.

Junte-se a 1.001 outros assinantes

As micotoxinas são metabólitos secundários tóxicos produzidos por determinados gêneros de fungos. Esses fungos colonizam diversas culturas e grãos à campo, e também durante o armazenamento (OGBUEWU et al., 2011).

As micotoxinas, de maneira geral, são estáveis sob diferentes condições climáticas, e causam efeitos tóxicos em frangos de corte (CHEN et al., 2008). As aflatoxinas (AF), em especial, são produzidas por fungos do gênero Aspergillus sp., compondo um grupo de fungos responsável por colonizar praticamente todos os grãos destinados à alimentação animal.

O consumo de grãos contaminados por fungos e micotoxinas, especialmente na avicultura, traz risco à saúde dos animais, causando intoxicação e redução do desempenho produtivo (OMEDE et al., 2008). Alguns autores reportaram uma redução de cerca de 21% no ganho de peso de frangos de corte desafiados com 300 ug/kg de AF na dieta (RAJU E DEVEGOWDA, 2002).

Além da redução no desempenho produtivo, as aflatoxinas podem causar danos bioquímicos e histológicos no fígado dos animais (REZAR et al., 2007). Nesse cenário, a aflatoxina B1, de acordo com alguns autores, pode ser considerada uma das aflatoxinas de maior potencial hepatotóxico devido à sua cardogenicidade (WILSON E PAYNE, 1994).

Efeitos das aflatoxinas no fígado e no desempenho produtivo de frangos de corte. Fonte: Delia Grace, Instituto de Pesquisa Animal do Quênia, 2014.

Levando em consideração que o fígado é um dos principais órgãos alvo para a ação das aflatoxinas, e também o primeiro sítio de ativação das mesmas, as linhagens atuais de frangos de corte podem estar mais suscetíveis à ação dessas micotoxinas. Isso pode ser explicado porque uma maior eficiência alimentar demanda um metabolismo hepático mais rápido e ativo (YUNUS et al., 2011).

Alguns achados sobre as aflatoxinas e o desempenho produtivo de aves de corte

Em uma meta-análise conduzida por Andretta et al. (2011), as aflatoxinas reduziram em 11% o consumo diário e pioraram em 6% a conversão alimentar dos frangos de corte desafiados em comparação ao grupo controle (sem aflatoxinas). Esses achados vão de acordo com um estudo mais recente, de FAROOQUI et al. (2019), no qual o desafio por aflatoxinas (20 ppb) piorou a conversão alimentar das aves.

No mesmo estudo, os autores observaram que as aves desafiadas por aflatoxinas apresentaram fígados com maior peso e de tamanho dilatado em comparação ao grupo não desafiado. A alteração no fígado pode estar relacionada ao efeito hepatotóxico que as aflatoxinas exercem sobre o órgão.

No mesmo sentido, um aumento no peso do fígado de frangos de corte também foi observado por CHEN et al. (2014), quando o desafio com 2 mg/kg de aflatoxinas aumentou significativamente o tamanho do órgão em comparação ao grupo não desafiado.

Escala de dano no fígado de aves por ação das aflatoxinas. Fonte: WALIYAR et al. (2007)
Adsorventes para mitigar os efeitos nocivos das aflatoxinas

Algumas estratégias visando eliminar ou inativar as micotoxinas foram desenvolvidas, como por exemplo a irradiação, a separação física, ozonização e os tratamentos químicos de ingredientes e alimentos contaminados (GOLDBLAT E DOLLEAR, 1979). Dentre estas estratégias está o uso de adsorventes não-nutritivos, que são empregados na alimentação das aves buscando reduzir ou inativar as aflatoxinas presentes na ração.

Principais micotoxinas e seus respectivos adsorventes. Fonte: alisonvickery.com

Esses compostos apresentam boa eficácia em larga escala, também se apresentando como uma alternativa com bom custo-benefício. Essas moléculas atuam adsorvendo as moléculas de micotoxinas, formando uma estrutura de micotoxina + adsorvente que é excretada pelas fezes (BINTVIHOK et al., 2002).
Os adsorventes formam um complexo junto às micotoxinas, portanto, a absorção desses metabólicos tóxicos no intestino acaba sendo significativamente reduzida (DOS ANJOS et al., 2015). Comercialmente, há dois tipos de adsorventes comumente utilizados na produção avícola: os adsorventes à base de argilas e os adsorventes à base de leveduras (FAROOQUI et al., 2019).

Leia também: O papel das micotoxinas na nutrição de aves e suínos

Alguns autores testaram diferentes adsorventes na dieta de frangos de corte desafiados por aflatoxinas (DOS ANJOS et al., 2015). Nesse estudo, a adição dos adsorventes não surtiu efeito para mitigar os efeitos da intoxicação por aflatoxinas, pois as aves desafiadas, independente de terem recebido ou não adsorventes na dieta, apresentaram desempenho produtivo reduzido, não apresentando diferenças entre si.

Em contrapartida, CHEN et al. (2016) testaram um adsorvente à base de argilas em frangos de corte desafiados por aflatoxinas. O adsorvente foi capaz de mitigar os efeitos do desafio por aflatoxinas, contribuindo para um maior ganho de peso ao final do período experimental. Ainda no mesmo estudo, as aves que receberam adsorventes apresentaram menores danos hepáticos em relação ao grupo controle desafiado.

Adsorventes no desempenho produtivo de frangos de corte: meta-análise

Uma meta-análise foi conduzida a fim de avaliar quantitativamente a capacidade dos adsorventes de mitigar os efeitos das aflatoxinas no desempenho de frangos de corte de 0 a 42 dias de idade (MENDÉZ et al., 2021). Uma síntese dos resultados pode ser observada na Tabela 1. Os tratamentos foram: Controle – (não desafiado por aflatoxinas), Controle + (desafiado e sem adsorventes) e Adsorvente (controle desafiado + adsorventes).

Tabela 1. Síntese dos efeitos da adição de adsorventes sobre o desempenho produtivo de frangos de corte desafiados por aflatoxinas

Fonte: MENDÉZ et al. (2021)

As aves do tratamento Controle – apresentaram maior consumo médio diário de ração, seguido pelo grupo Adsorvente e pelo grupo Controle +, sendo 63,24 vs 61,22 vs 55,42 g/dia (P<0,05), respectivamente. Quanto ao ganho médio diário, o maior valor foi observado para o grupo Controle – seguido pelo grupo Adsorvente e pelo grupo Controle + (42,97 vs 37,91 vs 30,84 g/dia, respectivamente, P<0,05). Para ganho de peso no período, o grupo Controle – apresentou maiores valores (1.522,84 g), seguido pelo grupo Adsorvente (1303,63 g) e grupo Controle + (1172,48 g).

Avaliando as variáveis conversão e eficiência alimentar (g/g), foram observados os resultados Controle – 1,76 e 0,38, Adsorvente 1,79 e 0,34 e Controle + 2,02 e 0,31 g/g, respectivamente. Os grupos Controle – e Adsorvente não apresentaram diferença para as variáveis conversão e eficiência alimentar (P>0,05). Avaliando as variações relativas ao grupo Controle -, pode-se observar reduções de até 46% no ganho de peso médio diário do grupo Controle +.

Acesse também nosso LinkedIn e nos siga: Zootecnia Brasil

Conclusões

As aflatoxinas impactam negativamente as o desempenho produtivo de frangos de corte de 0 a 42 dias de idade, chegando até 46% de redução no ganho de peso médio diário. Nesse cenário, a utilização de adsorventes foi capaz de mitigar os efeitos nocivos, equiparando importantes variáveis produtivas dos animais desafiados como consumo médio diário e conversão alimentar aos animais não desafiados por aflatoxinas.

Referências

ANDRETTA, I. et al. Meta-analytical study of productive and nutritional interactions of mycotoxins in broilers. Poultry Science, v. 90, n. 9, p. 1934-1940, 2011.

BINTVIHOK, Anong et al. Residues of aflatoxins in the liver, muscle and eggs of domestic fowls. Journal of Veterinary Medical Science, v. 64, n. 11, p. 1037-1039, 2002.

CHEN, Feng et al. The combination of deoxynivalenol and zearalenone at permitted feed concentrations causes serious physiological effects in young pigs. Journal of veterinary Science, v. 9, n. 1, p. 39-44, 2008.

CHEN, X.; HORN, N.; APPLEGATE, T. J. Efficiency of hydrated sodium calcium aluminosilicate to ameliorate the adverse effects of graded levels of aflatoxin B1 in broiler chicks. Poultry Science, v. 93, n. 8, p. 2037-2047, 2014.

DOS ANJOS, F. R. et al. Efficacy of adsorbents (bentonite and diatomaceous earth) and turmeric (Curcuma longa) in alleviating the toxic effects of aflatoxin in chicks. British poultry science, v. 56, n. 4, p. 459-469, 2015.

FAROOQUI, M. Y. et al. Aluminosilicates and yeast-based mycotoxin binders: Their ameliorated effects on growth, immunity and serum chemistry in broilers fed aflatoxin and ochratoxin. South African Journal of Animal Science, v. 49, n. 4, p. 619-627, 2019.

GOLDBLATT, L. A.; DOLLEAR, F. G. Modifying mycotoxin contamination in feeds—Use of mold inhibitors, ammoniation, roasting. Interactions of mycotoxins in animal production, p. 167-184, 1979.

MENDÉZ, M.S.C. Efeitos do uso de adsorventes sobre o desempenho de frangos de corte desafiados por aflatoxinas. In: 33ª REUNIÃO ANUAL DO CBNA – CONGRESSO SOBRE NUTRIÇÃO PRÉ-NATAL E DE ANIMAIS JOVENS – AVES, SUÍNOS e BOVINOS, 2021, Campinas. Anais do 33ª REUNIÃO ANUAL DO CBNA . Campinas. Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 2021.

OGBUEWU, I. P. Effects of mycotoxins in animal nutrition: a review. Asian J Anim Sci, v. 5, p. 1933International, 2011.

OMEDE, A. A. Critical issues in poultry feed quality evaluation in Nigeria. In: Book of Abstracts and Congress Proceedings, XXIII World’s Poultry Congress. 2008. p. 455.

REZAR, Vida et al. Dose-dependent effects of T-2 toxin on performance, lipid peroxidation, and genotoxicity in broiler chickens. Poultry science, v. 86, n. 6, p. 1155-1160, 2007.

WILSON, David M.; PAYNE, Gary A. Factors affecting. The toxicology of aflatoxins: Human health, veterinary, and agricultural significance, 1994.

YUNUS, Agha W.; RAZZAZI-FAZELI, Ebrahim; BOHM, Josef. Aflatoxin B1 in affecting broiler’s performance, immunity, and gastrointestinal tract: A review of history and contemporary issues. Toxins, v. 3, n. 6, p. 566-590, 2011.

Deixe uma resposta

Compartilhar

Share on facebook
Facebook
Share on linkedin
LinkedIn
Share on telegram
Telegram
Share on whatsapp
WhatsApp

TAMBÉM QUER SEU ANÚNCIO AQUI? ENTRE EM CONTATO

Translate »