Impactos da presença de Cascudinhos (Alphitobius diaperinus) em sistemas de produção de aves

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cascudinhos

Comumente encontrados em sistemas produtivos da avicultura, os besouros “cascudinhos” podem estar associados a diversas perdas relacionadas à produtividade e bem-estar, além de atuar como um vetor de doenças em sistemas de criação de frangos de corte e galinhas poedeiras.

O besouro “cascudinho” (Alphitobius diaperinus)

Pertencente à família Coleoptera – que abriga os conhecidos “besouros” – o cascudinho é um inseto da espécie Alphitobius diaperinus. São conhecidos como cascudinhos devido à sua morfologia externa e coloração escura. Oriundos do continente africano, sua disseminação mundial se deu a partir do transporte de cargas de grãos colonizados pelo inseto. Sistemas produtivos de aves em confinamento proporcionam ao inseto um hábitat propício à sua multiplicação e aumento populacional, transformando-o em um problema de dimensões mundiais (Rodrigueiro, 2008).

Ciclo de vida

A duração do ciclo de vida do cascudinho varia entre 50 a 70 dias, de acordo com as condições de temperatura da região. Nas condições brasileiras de produção, estima-se que o ciclo completo dos insetos à temperatura constante de 28° C é de 42,5 dias (Fogaça et al., 2017). Seu ciclo de vida pode ser dividido nas fases ovo, larva, pupa e fase adulta. Estima-se que as fêmeas de A. diaperinus depositem em média 2.000 ovos durante sua vida adulta. Após 6 a 10 dias do acasalamento, as fêmeas iniciam a oviposição. Os ovos apresentam tamanho reduzido e coloração clara, sendo depositados na cama das aves (substrato de casca de arroz ou resíduos de palha), ou em frestas das instalações (Marques, 2010).

Ciclo de vida de A. diaperinus.
Fonte: opresenterural.com.br

Variando de acordo com as condições de temperatura e umidade, a eclosão em larvas ocorre entre 3 a 10 dias pós-oviposição. A fase larval tem duração média de 5 a 11 dias, atingindo o estágio de pupa. Essa penúltima fase, por sua vez, tem duração média de 4 a 14 dias, quando o inseto se torna adulto e pode viver de 90 dias a 1 ano (Marques, 2010). Os insetos adultos são uma espécie de besouro de tamanho reduzido, medindo entre 5 e 6 mm com coloração escura a negra. Apesar do tamanho diminuto, os cascudinhos se multiplicam rapidamente e podem colocar em risco o status sanitário de um lote inteiro, comprometendo todo o ciclo produtivo.

Hábito alimentar

Estes besouros podem apresentar hábito alimentar saprofítico, podendo alimentar-se de material orgânico em decomposição. Na cama de aviário, estes insetos alimentam-se de restos de ração misturados a excretas e penas, além da carne e órgãos internos de aves moribundas ou mortas. A alta densidade de alojamento e consequente produção de resíduos na cama, características das condições de criação de frangos de corte – e poedeiras, compõem um ambiente extremamente favorável para o desenvolvimento e reprodução de A. diaperinus.

Alta infestação por A. diaperinus.
Fonte: ourofinosaudeanimal.com
Impactos na avicultura

Leia também: Produção de Ovos em sistemas orgânicos

A presença dos cascudinhos nos sistemas de produção avícola pode ocasionar tanto problemas diretos quanto indiretos. Devido ao hábito de se alimentar de cadáveres, A. diaperinus pode atuar como um vetor de patógenos (Leffer et al., 2010). Além disso, a partir do próprio comportamento de ciscar das aves, estas podem se alimentar de estágios larvais e insetos adultos presentes na cama, substituindo a ração. Já foi observada piora da conversão alimentar associada à ingestão de larvas e adultos de A. diaperinus.

Papo de uma ave que consumiu larvas e adultos de A. diaperinus.
Fonte: agroceresmultimix.com.br

A ingestão de insetos adultos pode ser responsável por lesões no sistema gastrointestinal das aves, fato relacionado à morfologia do inseto, basicamente pela presença de um exoesqueleto e asas rígidas – tornando o trato gastrointestinal mais suscetível à ação de patógenos (Japp, 2008). Também, as larvas podem ocasionar lesões na pele dos animais, favorecendo o desenvolvimento de infecções secundárias e reduzindo a qualidade da carne (Elowni, 1979).

Doenças associadas

Devido ao seu hábito alimentar, os cascudinhos podem atuar como vetores de importantes doenças nos sistemas de produção. São associados à presença do inseto o vírus da leucose aviária, vírus da Doença de Gumboro, coronavírus aviário e diversas bactérias incluindo Escherichia coli e Salmonella spp. A contaminação por E. coli e Salmonella spp. pode ocorrer durante o ciclo produtivo, comprometendo o desenvolvimento dos animais – ou no abate devido ao contato da carcaça na extração do papo e da moela (Alves, 2010).

Controle

As condições industriais de criação de aves favorecem o desenvolvimento destes insetos, considerando que há controle de temperatura, luminosidade, umidade, alimento e água disponíveis no ambiente. Métodos alternativos para controle são escassos e pouco conhecidos, sendo comumente utilizados inseticidas químicos para controle. Os grupos químicos mais utilizados são os piretróides e organofosforados. Porém, o inseto apresenta um ciclo de vida curto e as condições da cama de aviário não favorecem a aplicação de químicos devido às altas quantidades de material orgânico e umidade. Esses fatores estão relacionados a menores níveis de controle e aumento dos custos de produção.

Sítios de ação dos principais inseticidas.
Fonte: pragaseeventos.com.br

No Brasil, a produção de aves comerciais se dá a partir da cama de reuso, quando um lote é inserido imediatamente à saída de outro. A mesma cama pode ser utilizada por até 8 lotes consecutivos, favorecendo o desenvolvimento e a multiplicação do inseto nas instalações. Este reuso ocorre devido ao alto custo associado à regular troca da cama, podendo inviabilizar a produção.

Uma boa alternativa para reduzir a população de cascudinhos está baseada em um programa de limpeza e desinfecção das instalações. Manter comedouros sempre limpos, sem sobras, e bebedouros bem regulados são medidas que auxiliam na manutenção da limpeza do galpão, desfavorecendo o ambiente para o desenvolvimento dos insetos. Também, após o desalojamento, recomenda-se a higienização dos galpões em até 24h após a saída das aves.

O método de fermentação da cama, realizado a partir do enlonamento da mesma, também tem demonstrado bons resultados auxiliares no controle dos cascudinhos. A partir do enlonamento, ocorre a fermentação do material da cama, aumentando a temperatura do material e sua decomposição. Recomenda-se que de dois a três dias após enlonamento, deve-se aplicar inseticidas líquidos nas bordas da lona, sendo o momento no qual os insetos tendem a fugir da cama para evitar o calor e os gases tóxicos produzidos na fermentação da mesma.

Considerações finais

A completa remoção dos insetos em sistemas industriais de produção de aves é um desafio. Contudo, estratégias que visem reduzir seu nível populacional são interessantes, otimizando os sistemas produtivos ao reduzir custos com controle químico, por exemplo. Planos de controle populacional, a partir de amostragens em porções dos galpões – e contagem do número de insetos presentes, podem atuar como uma alternativa para acompanhamento da infestação.

Além de práticas de controle físico e químico, o entendimento do ciclo de desenvolvimento do inseto, e das condições que favorecem seu desenvolvimento e reprodução, também são fatores que devem ser considerados para escolha de práticas que visam a redução e o controle populacional de A. diaperinus.

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Referências

Alves, L. F. A., Oliveira, D. G. P., Lambkin, T., Bonini, A. K., Alves, V., Pinto, F. G. S., & Scur, M. C. (2015). Beauveria bassiana applied to broiler chicken houses as biocontrol of Alphitobius diaperinus Panzer (Coleoptera: Tenebrionidae), an avian pathogens vector. Brazilian Journal of Poultry Science, 17(4), 459-466.

Elowni, E. E., & Elbihari, S. (1979). Natural and experimental infection of the beetle, Alphitobius diaperinus (Coleoptera: Tenebrionidae) with Choanotaenia infundibulum and other chicken tapeworms. Veterinary Science Communications, 3(1), 171-173.

Fogaça, I., Ferreira, E., Saturnino, K. C., Santos, T. R., Cavali, J., & Porto, M. O. (2017). Álcool para controle de cascudinho em cama de frangos de corte. Archivos de zootecnia, 66(256), 509-514.

Japp, A. K. (2008). Influência do Alphitobius diaperinus (Panzer, 1797)(Coleoptera, Tenebrionidae) no desempenho zootécnico de frangos de corte e avaliação da terra diatomácea como estratégia para o seu controle.

Leffer, A. M., Kuttel, J., Martins, L. M., Pedroso, A. C., Astolfi-Ferreira, C. S., Ferreira, F., & Ferreira, A. J. P. (2010). Vectorial competence of larvae and adults of Alphitobius diaperinus in the transmission of Salmonella Enteritidis in poultry. Vector-borne and Zoonotic diseases, 10(5), 481-487.

Marques, C. R. G., Mikami, A. Y., Pissinati, A., Piva, L. B., Santos, O. J. A. P., & Ventura, M. U. (2013). Mortalidade de Alphitobius diaperinus (Panzer)(Coleoptera: Tenebrionidae) por óleos de nim e citronela. Semina: Ciências Agrárias, 34(6), 2565-2573.

Rodrigueiro, T. S. C., Ginarete, C. M. A., Leite, L. G., Tavares, F. M., Goulart, R. M., & Giacometti, F. H. C. (2008). Eficiência de Heterorhabditis indica IBCB-N05 (Rhabditida: Heterorhabditidae) no controle de Alphitobius diaperinus (Coleoptera: Tenebrionidae) sob comedouros de granja avícola. Arquivos do Instituto Biológico, 75(3), 279-284.

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