Ácidos orgânicos: efeitos no desempenho reprodutivo das porcas e desempenho produtivo dos leitões

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A produção moderna de suínos a nível industrial está fortemente atrelada aos desempenhos produtivo e reprodutivo das porcas. Esses desempenhos, por sua vez, determinam o número de leitões desmamados e consequentemente o número de animais que entrarão em terminação – determinando a quantidade de carne produzida (MIRILOVIĆ et al., 2016).

Nesse cenário, práticas de manejo que visam melhorar a performance das porcas durante a gestação, e após a mesma, podem ser determinantes para o sucesso de um lote (CHEN et al., 2019). No ambiente produtivo, a saúde intestinal se apresenta como um importante fator, pois é responsável pela imunidade e consequentemente confere maior resistência a infecções patogênicas.

Leia também: Ácidos orgânicos na nutrição de leitões

Quando a saúde intestinal está comprometida, a digestão e a absorção de nutrientes são afetadas. Esse fator reduz o desempenho produtivo, levando a perdas econômicas e à maior suscetibilidade à doenças (ROSELLI et al., 2005).

Com as restrições no uso de antibióticos promotores de crescimento (APC) na produção animal, diversos compostos alternativos vêm sendo testados a fim de substituir os APC, conferindo saúde intestinal aos animais. Dentre essses compostos estão os ácidos orgânicos que pertencem à categoria dos acidificadores.

Ácidos orgânicos na nutrição de suínos e de porcas

Acificadores são moléculas comumente empregadas como alternativas aos APC devido a sua capacidade de contribuir para um ambiente intestinal favorável ao desenvolvimento de microrgansimos benéficos. Esses microrgansimos estão associados à melhor digestibilididade dos nutrientes, aumento da performance produtiva e redução da ocorrência de diarreias (LIU et al., 2018).

Estudos prévios demonstraram que o fornecimento de ácidos orgânicos na dieta de suínos nas fases de creche e crescimento conferiu benefícios no desempenho produtivo (CHO et al.,2006) e melhorou a digestibilidade de nutrientes (CHO et al., 2014). Apesar de escassos, alguns estudos demonstraram que a suplementação com ácidos orgânicos pode contribuir para melhores desempenhos produtivo e reprodutivo de porcas (KLUGE et al., 2010; DEVI et al., 2016), demonstrando potencial de uso, inclusive, durante o período de gestação.

Na nutrição de porcas gestantes, o fornecimento de ácidos orgânicos contribuiu para maior ganho de peso médio diário dos leitões, ocasionando um maior peso ao desmame (OVERLAND et al., 2009). No mesmo sentido, LUCKSTADT et al. (2011) observaram que porcas alimentadas com ácidos orgânicos apresentaram menor variação de peso corporal no período de desmame, além de menor perda de espessura de toucinho no mesmo período.

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Achados como esses indicam que os ácidos orgânicos podem atuar como promotores de crescimento na nutrição de porcas, contribuindo para a manutenção da condição corporal e melhorando o desempenho produtivo dos leitões. Em contrapartida, alguns resultados ainda são controversos quanto a utilização desses compostos na nutrição de porcas.

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Fonte: indiamart.com
Uma meta-análise sobre o desempenho das porcas e de sua progênie

Uma meta-análise foi conduzida a fim de avaliar os efeitos do fornecimento de ácidos orgânicos durante a gestação de porcas sobre as variáveis reprodutivas e produtivas das fêmeas, e o efeito desses compostos no desempenho dos leitões (MENDÉZ et al., 2022).

Uma síntese dos resultados pode ser observada nas Tabelas 1 e 2. A suplementação com ácidos apresentou tendência de aumentar o peso pré-parto das porcas (P=0,09). As porcas que receberam ácidos orgânicos apresentaram 253 kg no pré-parto, 2,68% mais pesadas do que as não suplementadas, 246 kg.

Porcas suplementadas com ácidos orgânicos apresentaram maior (P<0,05) número de leitões desmamados (11) em comparação às porcas não suplementadas (10,51). Leitões oriundos de porcas que receberam ácidos orgânicos durante a gestação apresentaram maior (P<0,05) peso ao desmame (6,43kg) em comparação aos leitões de porcas não suplementadas (6,23 kg).

Esses achados vão de acordo com resultados anteriores nos quais leitões de porcas suplementadas com ácidos orgânicos foram mais pesados ao desmame (OVERLAND et al., 2009; BALAMURALIKRISHNAN et al., 2016; LAN et al., 2018) em comparação às porcas não suplementadas.

Tabela 1. Desempenho produtivo de porcas alimentadas com ácidos orgânicos.

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Fonte: MENDÉZ et al., 2022.

Tabela 2. Desempenho reprodutivo de porcas alimentadas com ácidos orgânicos e seus efeitos na progênie

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Fonte: MENDÉZ et al., 2022.

Não foi observado efeito da suplementação para as demais variáveis analisadas na meta-análise peso pós-parto (kg), variação de peso pós-parto (kg), espessura de toucinho (mm), consumo médio diário (kg/d), nascidos vivos (n), peso dos leitões ao nascimento (kg) e ganho médio diário dos leitões (kg/d).

Esses resultados são discrepantes a resultados anteriores quando a suplementação com ácidos orgânicos contribuiu para a menor perda de peso das porcas no pós-parto (BALAMURALIKRISHNAN et al., 2016), e menor redução da espessura do toucinho durante o período de desmame (LÜCKSTÄDT et al., 2011).

Os ácidos orgânicos apresentam potencial para substituir os antibióticos promotores de crescimento na suinocultura. Esses compostos são usualmente utilizados em suínos nas fases de creche, crescimento e terminação, apresentando resultados relevantes na performance produtiva e na saúde intestinal dos animais.

Mesmo com um número de estudos limitado, a suplementação com ácidos orgânicos demonstrou potencial para influenciar positivamente importantes variáveis produtivas e reprodutivas de porcas, como o número de leitões desmamados, o peso dos leitões ao desmame e a menor perda de peso no do pós parto e do desmame.

Conclusão

Pode-se concluir que leitões oriundos de porcas suplementadas com ácidos orgânicos apresentam menor mortalidade quando se considera o maior número de leitões desmamados nesse grupo. Além disso, esses mesmos leitões apresentaram maior peso ao desmame.

A utilização de AO para porcas gestantes pode contribuir para o aumento do número de leitões desmamados e para o aumento do peso dos mesmos ao desmame, sem influenciar negativamente as demais respostas reprodutivas e produtivas das porcas.

Referências:

BALASUBRAMANIAN, Balamuralikrishnan; PARK, Jae Won; KIM, In Ho. Evaluation of the effectiveness of supplementing micro-encapsulated organic acids and essential oils in diets for sows and suckling piglets. Italian Journal of Animal Science, v. 15, n. 4, p. 626-633, 2016.

CHEN, Jinchao et al. Comparative effects of dietary supplementations with sodium butyrate, medium-chain fatty acids, and n-3 polyunsaturated fatty acids in late pregnancy and lactation on the reproductive performance of sows and growth performance of suckling piglets. Journal of Animal Science, v. 97, n. 10, p. 4256-4267, 2019.

CHO, Jin H.; SONG, Min H.; KIM, In Ho. Effect of microencapsulated blends of organic acids and essential oils supplementation on growth performance and nutrient digestibility in finishing pigs. Revista Colombiana de Ciencias Pecuarias, v. 27, n. 4, p. 264-272, 2014.

DEVI, Subramaniam Mohana; LEE, Kwang Yong; KIM, In Ho. Analysis of the effect of dietary protected organic acid blend on lactating sows and their piglets. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 45, p. 39-47, 2016.

KLUGE, H.; BROZ, J.; EDER, K. Effects of dietary benzoic acid on urinary pH and nutrient digestibility in lactating sows. Livestock Science, v. 134, n. 1-3, p. 119-121, 2010.

LIU, Yanhong et al. Non-antibiotic feed additives in diets for pigs: A review. Animal nutrition, v. 4, n. 2, p. 113-125, 2018.

LÜCKSTÄDT, C. Effects of dietary potassium diformate on feed intake, weight loss and back fat reduction in sows: pre-farrowing till weaning. Vet. Rec, v. 2, p. 145, 2011.

Mendéz, Maria & Andretta, Ines & Hauschild, Luciano & Silva, Ariane. (2022). ÁCIDOS ORGÂNICOS NA NUTRIÇÃO DE PORCAS GESTANTES E SEUS EFEITOS NA PROGÊNIE: META-ANÁLISE. 10.37885/220207573.

MIRILOVIĆ, Milorad et al. Determination of the economic effects in intesive production of piglets. Macedonian Veterinary Review, v. 39, n. 2, p. 233-238, 2016.

ROSELLI, Marianna et al. Alternatives to in-feed antibiotics in pigs: Evaluation of probiotics, zinc or organic acids as protective agents for the intestinal mucosa. A comparison of in vitro and in vivo results. Animal Research, v. 54, n. 3, p. 203-218, 2005.

ØVERLAND, M.; BIKKER, P.; FLEDDERUS, J. Potassium diformate in the diet of reproducing sows: Effect on performance of sows and litters. Livestock Science, v. 122, n. 2-3, p. 241- 247, 2009.

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