O ovo é um alimento rico em nutrientes, representando um excelente alimento proteico para alimentação humana. Além disso, os ovos são uma fonte acessível de proteína, o que os torna um alimento amplamente consumido no Brasil e no mundo inteiro. Adicionalmente, além de se caracterizar como uma fonte barata de proteína e de boa qualidade, os ovos apresentam baixas calorias e são ricos em diversos minerais e vitaminas (KRALIK et al., 2018).
Na busca por uma alimentação mais saudável, há uma crescente busca pela população por alimentos funcionais e enriquecidos com nutrientes que tragam benefícios à saúde humana (ATTIA et al., 2015). Nesse contexto, sabe-se que os ovos podem ser enriquecidos com nutrientes através da manipulação da dieta das aves poedeiras, adicionando ou incrementando os teores de nutrientes do produto.
Devido à capacidade das aves em depositar nutrientes nos ovos, é possível produzir ovos enriquecidos com nutrientes e que atendam as demandas do mercado consumidor. Além do enriquecimento nutricional, incrementos nos teores nutricionais dos ovos também se apresentam como uma oportunidade ao produtor para agregar valor ao seu produto final.
Enriquecimento de ovos com ômega-3
Os benefícios do consumo de ácidos graxos poliinsaturados, como os ômega-3, para a saúde humana e dos animais de produção já são conhecidos. Esses compostos atuam no desenvolvimento, na manutenção da saúde e na resposta imune (LEE et al., 2019). Os ômega-3 percentem ao grupo dos ácidos graxos poliinsaturados e são divididos em 3 grupos: ácido docosahexaenoico (DHA), ácido eicosapentaenoico (EPA) e o o ácido alfa-linolênico (ALA).
Esses ácidos graxos são considerados essenciais, levando em consideração que mamíferos e aves não são capazes de sintetiza-los (HORNSTRA, 2001). Dessa forma, esses nutrientes devem ser consumidos na dieta.
Os ômega-3 estão relacionados aos mais diversos processos no corpo humano, como a prevenção de diversas doenças como a diabetes, a obesidade e o câncer. Além disso, os ômega-3 atuam no desenvolvimento de tecidos de diversos órgãos humanos, demonstrando sua importância para a manutenção da saúde de maneira geral.
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As principais fontes de ômega-3 são o óleo de peixe e a linhaça. Alguns autores discutiram que o consumo desses alimentos pode não ser tão comum na alimentação humana. Portanto, enriquecer ovos comerciais com ômega-3 poderia ser uma alternativa interessante para aumentar o consumo desses ácidos graxos na dieta humana (HARGIS e VAN ELSWYK, 1993).
Alguns autores incluíram óleo de linhaça solúvel na dieta de galinhas poedeiras durante 4 semanas. Após o período experimental, foi observado um incremento no conteúdo de ômega-3 da gema dos ovos (LEE et al., 2021). Adicionalmente, os autores observaram que a inclusão do óleo de linhaça não afetou os teores de colesterol e triglicerídeos dos ovos das galinhas suplementadas.
No mesmo sentido, VLAICU et al. (2021) testaram diferentes fontes de ácidos graxos e antioxidantes em poedeiras de ovos comerciais. Em comparação à dieta controle, os autores observaram que houve um aumento nos teores de ácidos graxos da gema quando as aves receberam tratamentos com suplementação com os mesmos.
No mesmo estudo, foi observado um aumento da capacidade antioxidante dos ovos quando as poedeiras foram suplementadas com fontes de ácidos graxos. No contexto do trabalho, os tratamentos demonstraram potencial para enriquecer os ovos com nutrientes (ácidos graxos poliinsaturados), além de melhorar a capacidade antioxidante dos mesmos – podendo prolongar a vida de prateleira.
Enriquecimento de ovos com vitamina E
A vitamina E pertence ao grupo das vitaminas lipossolúveis e é um nutriente essencial na nutrição de aves (ATTIA et al., 2016) e também na nutrição humana. No metabolismo dos seres vivos, a vitamina E desempenha um importante papel ao atuar como um antioxidante natural, além de regular a secreção de diversos hormônios (ATTIA et al., 2018). Adicionalmente, a vitamina E atua sobre os radicais livres liberados durante o metabolismo celular, protegendo seres humanos e animais das ações nocivas ocasionadas pelo estresse oxidativo (PANDA e CHERIAN, 2014).
Nesse cenário, alguns autores testaram diferentes níveis de vitamina E de selênio em um experimento com galinhas poedeiras (SCHEIDELER et al., 2010). A suplementação com a vitamina E foi capaz de contribuir para a manutenção da produção de ovos quando em condições de estresse térmico por calor. Além disso, foi observado um aumento linear dos conteúdos de vitamina E na gema das aves em resposta à suplementação com a vitamina.
Enriquecimento de ovos com selênio
O selênio apresenta importância na saúde humana e dos animais devido às suas propriedades antioxidantes. Essas propriedades vêm sendo estudadas nas últimas décadas devido a proteção contra a ação de radicais livres, além da proteção contra fatores cancerígenos (KIELISZEK e BLAZEJAK, 2013). Alguns autores discutiram que alimentos enriquecidos com selênio, como carnes, leite e ovos, podem ser consumidos a fim de aumentar os teores do micromineral no organismo (KIELISZEK e BLAZEJAK, 2016).
Na indústria animal, especialmente na produção de ovos comerciais, é possível realizar a suplementação de selênio via dieta para que se aumentem seus teores na carne e nos ovos das poedeiras. LU et al. (2020) realizaram um experimento com aves poedeiras testando duas fontes distintas de selênio na dieta. Os autores se utilizaram da fonte usual inorgânica selenito de sódio e da fonte orgânica levedura enriquecida com selênio. No final do experimento, os animais observaram aumento nas concentrações de selênio na carne e nos ovos das aves em comparação ao grupo não suplementado. Contudo, o grupo que recebeu levedura enriquecida apresenteou maiores teores do micromineral na gema dos ovos. Esse estudo comprovou que a suplementação com selênio, seja orgânico ou inorgânico, é capaz de aumentar os teores do nutriente na gema dos ovos das aves. Adicionalmente, foi comprovado que fontes orgânicas do micromineral contribuem para maior enriquecimento nutricional dos ovos em comparação às inorgânicas.
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Referências
ATTIA, Youssef A. et al. Fatty acid and cholesterol profiles and hypocholesterolemic, atherogenic, and thrombogenic indices of table eggs in the retail market. Lipids in Health and Disease, v. 14, n. 1, p. 1-8, 2015.
ATTIA, Youssef A. et al. Laying performance, digestibility and plasma hormones in laying hens exposed to chronic heat stress as affected by betaine, vitamin C, and/or vitamin E supplementation. SpringerPlus, v. 5, n. 1, p. 1-12, 2016.
ATTIA, Y. A. et al. Effect of betaine, vitamin C and vitamin E on egg quality, hatchability, and markers of liver and renal functions in dual-purpose breeding hens exposed to chronic heat stress. European Poultry Science, v. 82, 2018.
HARGIS, Pamela S.; VAN ELSWYK, Mary E. Manipulating the fatty acid composition of poultry meat and eggs for the health conscious consumer. World’s Poultry Science Journal, v. 49, n. 3, p. 251-264, 1993.
KRALIK, Gordana et al. Enrichment of table eggs with functional ingredients. Journal of Central European Agriculture, v. 19, n. 1, p. 72-82, 2018.
LEE, Sophie A.; WHENHAM, Natasha; BEDFORD, Michael R. Review on docosahexaenoic acid in poultry and swine nutrition: Consequence of enriched animal products on performance and health characteristics. Animal Nutrition, v. 5, n. 1, p. 11-21, 2019.
LEE, Sang Hyeok et al. Dietary soluble flaxseed oils as a source of omega-3 polyunsaturated fatty acids for laying hens. Poultry Science, v. 100, n. 8, p. 101276, 2021.
LU, J. et al. Efficacy evaluation of selenium-enriched yeast in laying hens: Effects on performance, egg quality, organ development, and selenium deposition. Poultry science, v. 99, n. 11, p. 6267-6277, 2020.
SCHEIDELER, S. E.; WEBER, P.; MONSALVE, D. Supplemental vitamin E and selenium effects on egg production, egg quality, and egg deposition of α-tocopherol and selenium. Journal of Applied Poultry Research, v. 19, n. 4, p. 354-360, 2010.
VLAICU, Petru Alexandru; PANAITE, Tatiana Dumitra; TURCU, Raluca Paula. Enriching laying hens eggs by feeding diets with different fatty acid composition and antioxidants. Scientific Reports, v. 11, n. 1, p. 1-12, 2021.
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