Na década de 50 a indústria de galinhas poedeiras era composta por produtores que possuíam pequenos rebanhos criados de maneira livre e com alimentação baseada em pastejo. Com o passar dos anos, a indústria da produção de ovos comerciais tornou-se um dos mais intensivos sistemas de criação da produção animal. Esse fato que contribuiu para crescimento da produção, transformando os ovos em uma das principais fontes de proteína da alimentação humana.
A produção de ovos comerciais passou a basear-se em sistemas intensivos nos quais os animais passaram a ser alojados em baterias de gaiolas, possibilitando o controle da luminosidade, da ventilação e da alimentação. Contudo, esses sistemas de criação fornecem um espaço limitado aos animais, muitas vezes não permitindo a expressão de comportamentos naturais como banhos de areia ou movimentos de bater as asas (VAN HORNE, 2008).
Diversos sistemas de produção de ovos são adotados mundialmente. Os sistemas convencionais, nos quais as aves são alojadas em gaiolas, são os mais adotados (WEEKS et al., 2016). Contudo, nos anos 2000 foram propostos e estudados diversos outros sistemas de alojamento alternativos, considerando a proibição da criação de poedeiras em gaiolas em propriedades com plantéis acima de 350 aves (EUROPEAN COMMUNITIES, 1999). Medidas como essa passaram a ser discutidas devido a questões de bem estar animal nos sistemas de criação.
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O bem estar animal e as modificações nos sistemas de criação de galinhas poedeiras (e de outros animais) passaram a ser, nas últimas décadas, norteadas pelo mercado consumidor, que se demonstra cada vez mais interessado em conhecer as condições nas quais os animais são criados nos ambientes produtivos. Os consumidores têm buscado, em resumo, consumir alimentos que tenham sido produzidos de maneira sustentável e que seguem boas práticas de manejo (PIRES et al., 2021).
Apesar do questionamento quanto ao bem estar animal, a utilização de gaiolas na produção de aves poedeiras trouxe vantagens como a possibilidade de um melhor controle sanitário, facilidade na distribuição de ração e de água (inclusive, favorecendo a automatização desses processos), aplicação de medicamentos e menor contato dos ovos com a excreta das aves, melhorando a sua higiene (HUNTON, 1995).
Diversos fatores estão relacionados a qualidade dos ovos, como o status nutricional da galinha, sua idade, desordens metabólicas, manejo, sistema de alojamento, dentre outros. Nesse sentido, sabe-se que os sistemas convencionais em gaiolas proporcionam maior qualidade dos ovos devido a melhores condições de higiene. Entretanto, o sistema de alojamento é capaz de influenciar na qualidade dos ovos?
Principais sistemas de alojamento (BOTHERAS et al., 2006)
a) baterias de gaiolas (sistema convencional): gaiolas pequenas com piso de arame soldado e malha inclinada
b) gaiolas enriquecidas: gaiolas convencionais com enriquecimento ambiental. Contam com a presença de poleiros e ninhos, além de área para ciscar (não é aplicada em todos os casos)
c) sistema de celeiros (aviários): aves mentidas sobre a cama de aviário e com liberdade para movimentar-se
d) sistema de pastejo livre: semelhante ao sistema de celeiros, contudo as aves têm acesso a uma área externa onde podem pastejar
A influência do sistema de criação sobre a qualidade dos ovos
De acordo com BARBOSA (2008), a qualidade dos ovos pode ser definida como um conjunto de características internas e externas que influenciam na aceitação do produto pelo mercado consumidor. A qualidade externa dos ovos está relacionada às características da casca – considerando sua conformação, resistência e higiene. A qualidade interna dos ovos se relacionada com os aspectos do albúmen, gema, cor, odor e sabor (PIRES et al., 2021).
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Dentro dessa discussão, BLOKHUIS et al. (2007) avaliaram a qualidade dos ovos de variados países da União Europeia, concluindo que a qualidade dos ovos de galinhas alojadas em sistemas livres é pior do que a qualidade dos ovos de galinhas alojadas em gaiolas.
Avaliando a qualidade nutricional de ovos em diferentes sistemas de criação, Anderson (2011) observou que ovos produzidos por galinhas que pastejam têm maior conteúdo de gorduras totais em comparação àqueles produzidos em gaiolas – porém, os níveis de colesterol não diferiram entre os sistemas produtivos.
No mesmo estudo, foi observado que há maior presença de carotenóides em ovos de pastejo, contribuindo para uma maior pigmentação da gema. Entretanto, os ovos das galinhas criadas em ambos sistemas não apresentaram diferenças nutricionais entre si.
Qualidades interna e externa sob diferentes sistemas de criação
Alguns autores encontraram que uma melhor qualidade do albúmen foi observada em ovos de galinhas criadas em gaiolas em comparação a sistemas de pastejo livre (HIDALGO et al., 2008). Isso pode ser explicado porque ovos produzidos em sistemas alternativos são expostos a maiores teores de amônia, o que reduz a qualidade do albúmen (ROBERT, 2004).
Outros autores observaram um menor peso dos ovos de galinhas alojadas em gaiolas em comparação ao sistema livre (LEYENDECKER et al., 2001). Esse fato pode se relacionar com uma maior produção de ovos, característica dos sistemas convencionais, quando há maior produção de ovos e menor peso dos mesmos (DIKMEN et al., 2017).
A qualidade externa está basicamente relacionada a qualidade da casca dos ovos. Nesse sentido, HAMILTON e BRYDEN (2021) estimaram que cerca de 3% dos ovos de galinhas criadas em gaiolas apresentam problemas de casca – como casca quebradiças.
No mesmo estudo, foi observado um aumento de 1% nessa percentagem para ovos oriundos de gaiolas enriquecidas ou sistemas livres, e um aumento de 1-2% para aqueles ovos oriundos de aviários. Portanto, as percentagens de cascas quebradiças foram de 3%, 4% e 4-5% para sistemas convencionais, livres ou aviários, respectivamente.
Referências:
ANDERSON, Kenneth E. Comparison of fatty acid, cholesterol, and vitamin A and E composition in eggs from hens housed in conventional cage and range production facilities. Poultry science, v. 90, n. 7, p. 1600-1608, 2011.
BLOKHUIS, H. J. et al. The LayWel project: welfare implications of changes in production systems for laying hens. World’s Poultry Science Journal, v. 63, n. 1, p. 101-114, 2007.
BOTHERAS, N.; HEMSWORTH, P.; COLEMAN, G.; BARNETT, J. Animal welfare as related to egg production systems: cage and non-cage/alternative systems (Barns, Aviaries, Free-Range). Extension FactSheet, AS-16-06, 2006.
COMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES. Method validation and quality control procedures for pesticide residues analysis in food and feed. 3. ed. Bruxelas, 2007. 42p. (Document n. SANCO, 3131).
DA SILVA PIRES, Paula Gabriela et al. The relationship between egg quality and hen housing systems-A systematic review. Livestock Science, v. 250, p. 104597, 2021.
HAMILTON, R. M. G.; BRYDEN, W. L. Relationship between egg shell breakage and laying hen housing systems–an overview. World’s Poultry Science Journal, v. 77, n. 2, p. 249-266, 2021.
HIDALGO, A. et al. A market study on the quality characteristics of eggs from different housing systems. Food chemistry, v. 106, n. 3, p. 1031-1038, 2008.
HUNTON, Peter. Understanding the architecture of the egg shell. World’s Poultry Science Journal, v. 51, n. 2, p. 141-147, 1995.
ROBERTS, Juliet R. Factors affecting egg internal quality and egg shell quality in laying hens. The Journal of Poultry Science, v. 41, n. 3, p. 161-177, 2004.
VAN HORNE, P. L. M.; ACHTERBOSCH, T. J. Animal welfare in poultry production systems: impact of EU standards on world trade. World’s poultry science journal, v. 64, n. 1, p. 40-52, 2008.
WEEKS, Claire A.; LAMBTON, Sarah L.; WILLIAMS, Adrian G. Implications for welfare, productivity and sustainability of the variation in reported levels of mortality for laying hen flocks kept in different housing systems: a meta-analysis of ten studies. PLoS One, v. 11, n. 1, p. e0146394, 2016.
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