Utilização de ácidos orgânicos na dieta de frangos de corte

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ácidos orgânicos

A retirada dos antibióticos promotores de crescimento (APCs) da dieta dos animais de produção é uma realidade. Desde o banimento do uso dos APCs em 2006 pela União Europeia, diversos estudos vêm sendo realizados na busca por compostos que possam contribuir para a manutenção da saúde intestinal dos animais de produção, vindo a ser substitutos aos APCs. Dentre os possíveis substitutos podem ser citados os pré e probióticos, aditivos fitogênicos e os ácidos orgânicos.

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Fonte: zootecnicainternational.com
Ácidos orgânicos

Ácidos orgânicos são, por definição, moléculas que apresentam uma ou mais carboxilas em sua composição. Quando se fala em ácidos orgânicos usualmente empregados na nutrição animal, fala-se em ácidos considerados fracos e de cadeia curta, resumidamente (DIBNET E BUTTIN, 2002).

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Os ácidos orgânicos apresentam propriedades antimicrobianas, e essas por sua vez podem contribuir para a redução de perdas ocasionadas por patógenos gastrointestinais na produção de frangos de corte (POLYCARPO et al., 2017). Devido às suas propriedades, os ácidos orgânicos foram utilizados durante décadas na produção animal visando a preservação dos alimentos destinados ao consumo animal.

Sua aplicabilidade, nesse caso, se dava basicamente pelo seu efeito inibidor ao desenvolvimento de microrganismos como fungos e bactérias. Um estudo da década de 90 (OLIVEIRA et al., 1996) abordou as diferentes funcionalidades dos ácidos orgânicos na inibição do crescimento microbiano em dietas de aves.

Após o banimento dos APCs pela União Europeia em 2006, e a crescente demanda por produções livres de antibióticos, os ácidos orgânicos vêm sendo comumente empregados em dietas de frangos de corte na busca por reduzir a população microbiana indesejável no trato gastrointestinal. Nesse sentido, esses compostos poderiam agir como promotores de crescimento – vindo a ser substitutos aos APCs.

Leia também: Perfil da microbiota de frangos de corte

De acordo com Adams (1999), as funções dos ácidos orgânicos são bastante amplas na produção animal, e nem todas estão relacionadas especificamente à nutrição em si. Esses compostos podem atuar diretamente como agentes antimicrobianos de contato – daí sua importância como conservadores de rações e ingredientes. Além disso, os ácidos orgânicos contribuem para uma manutenção e maior acidificação do pH intestinal, promovendo a produção de importantes enzimas digestivas que contribuem para a digestibilidade dos alimentos.

Ácidos orgânicos na acidificação da cama de aviário

Devido às propriedades antimicrobianas, os ácidos orgânicos podem ser utilizados na cama de aviário a fim de reduzir a proliferação de organismos indesejáveis. Algumas características como pH, temperatura, reduzida ventilação e umidade são favoráveis ao desenvolvimento bacteriano e aumento da população de Besouros Cascudinhos (Alphitobius diaperinus).

Um estudo de LINE (2002) relata alguns achados de que a acidificação da cama de aviário foi capaz de contribuir para a redução da contagem bacteriana do gênero Campylobacter, além de reduzir a transmissão horizontal de outros patógenos. Na mesma linha, porém se utilizando de um ácido inorgânico H2SO4 (ácido sulfúrico), MCWARD E TAYLOR (2000) observaram que a adição de um composto granulado de H2SO4 na cama de aviário resultou em incrementos no ganho de peso, melhoria da conversão alimentar e maior rendimento de carcaça. Também foi encontrada uma redução na população de besouros Cascudinhos.

A redução na população dos insetos pode ser ocorrida devido a redução no pH do ambiente em função da adição do composto ácido de H2SO4 . Além disso, uma menor população do Cascudinho pode ter contribuído para as melhores respostas produtivas dos animais no estudo. Mesmo que não seja uma avaliação comum, a acidificação da cama pode ser uma ferramenta de manejo e controle do ambiente, desfavorecendo o desenvolvimento de organismos nocivos às aves. O fornecimento de ácidos orgânicos via dieta poderia contribuir para maior excreção desses compostos, acidificando a cama de aviário e vindo a reduzir a população de microrganismos e insetos como o Cascudinho. Níveis deveriam ser estudados de maneira que a excreção fosse suficiente para a acidificação da cama, mas sem comprometer o desempenho produtivo dos animais.

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Alta infestação por Cascudinhos (larvas e adultos). Fonte: ourofinosaudeanimal.com
Ácidos orgânicos na dieta de frangos de corte

Frangos de corte apresentam uma variada e abundante quantidade de bactérias nas diferentes porções do seu trato gastrointestinal. Os diferentes gêneros e as quantidades variam de acordo com a região avaliada. Alguns fatores podem determinar e modificar a presença de diferentes gêneros no trato gastrointestinal, como a disponibilidade de oxigênio, a concentração de sais biliares, a presença de ácidos graxos voláteis e bacteriocinas e as alterações no pH intestinal (ITO et al., 2004).

Os ácidos orgânicos atuam, de maneira geral, na alteração do pH intestinal. Dentre os ácidos orgânicos mais utilizados na produção animal estão os ácidos benzóico, cítrico, propiônico, fórmico, acético, lático, málico, fumárico, ascórbico, dentre outros, além dos sais desses ácidos e suas combinações (blends de ácidos orgânicos).

Um estudo meta-analítico conduzido por Polycarpo et al. (2017) avaliou diferentes respostas produtivas de frangos de corte que receberam ácidos orgânicos – individualmente ou blends, na dieta. Mesmo que não tenham superado os antibióticos, os ácidos orgânicos apresentaram melhoria na conversão alimentar (5,67%) contra os antibióticos (13,40%), superando o tratamento controle sem fornecimento de nenhum aditivo (antibiótico ou ácido orgânico) para frangos de corte em condições de desafio sanitário.

Da mesma forma, o fornecimento de ácidos orgânicos na dieta contribuiu para melhor ganho de peso médio diário, sendo as melhores respostas observadas para os blends de ácidos orgânicos em comparação ao fornecimento individual. Como conclusões foi possível observar que os ácidos orgânicos apresentam potencial para atuar como promotores de crescimento nas dietas de frangos de corte. Os melhores resultados, segundo esse estudo, apontam para o fornecimento de blends de ácidos orgânicos. Ainda assim, os resultados não são tão expressivos quanto os resultados dos antibióticos sob condições de desafio sanitário.

Considerações finais

A demanda do mercado por produções livres de antibióticos, ou com menor quantidade de “químicos” em seus processos é uma realidade. Desde o banimento dos APCs na produção animal em 2006, diversos aditivos vêm sendo testados e têm demonstrado resultados promissores. Dentre eles os ácidos orgânicos na dieta de frangos de corte.

O estudo de POLYCARPO et al. (2017) apresenta resultados significativos e promissores ao uso dos ácidos orgânicos. Apesar de utilizados há algumas décadas na avicultura, seus efeitos benéficos ainda não foram suficientes – talvez – para que houvesse uma disseminação do seu uso na avicultura industrial. Avaliações econômicas devem ser consideradas na utilização dos ácidos orgânicos, bem como o uso de doses e/ou fontes que não venham a comprometer o desempenho produtivo das aves. Contudo, os resultados são promissores e esse aditivo se apresenta como uma alternativa para manutenção da saúde intestinal e promoção do crescimento em sistemas produtivos de frangos de corte.

Referências:

ADAMS, Clifford A. et al. Nutricines: food components in health and nutrition. Nottingham University Press, 1999.

DIBNER, J. J.; BUTTIN, P. Use of organic acids as a model to study the impact of gut microflora on nutrition and metabolism. Journal of Applied Poultry Research, v. 11, n. 4, p. 453-463, 2002.

ITO, N. M. K. et al. Saúde gastrointestinal, manejo e medidas para controlar as enfermidades gastrointestinais. Produção de frangos de corte, v. 1, p. 207-215, 2004.

LINE, J. E. Campylobacter and Salmonella populations associated with chickens raised on acidified litter. Poultry Science, v. 81, n. 10, p. 1473-1477, 2002.

MCWARD, G. W.; TAYLOR, D. R. Acidified clay litter amendment. Journal of Applied Poultry Research, v. 9, n. 4, p. 518-529, 2000.

OLIVEIRA, E. de; BERCHIERI JR, A. O uso de ácidos graxos de cadeia curta no controle de Salmonella em rações de aves. In: CONFERÊNCIA APINCO’96 DE CIÊNCIA E TECNOLOGIAS AVÍCOLAS. Curitiba: APINCO, 1996.

POLYCARPO, G. V. et al. Meta-analytic study of organic acids as an alternative performance-enhancing feed additive to antibiotics for broiler chickens. Poultry science, v. 96, n. 10, p. 3645-3653, 2017.

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