O ovo, desde a sua formação, está sujeito a diversos fatores intrínsecos à poedeira. Dentre esses fatores estão a genética, a idade e as condições tanto sanitária quanto nutricional da ave (Oliveria e Oliveira, 2013). Quando se fala nas linhagens atuais de galinhas poedeiras, fala-se em incremento no desempenho produtivo. Esse aumento na produtividade se deu a partir do melhoramento genético. Esse fato originou animais mais exigentes nutricionalmente. Portanto, esses animais tendem a ser mais sensíveis a variações nutricionais da dieta: especialmente quando há deficiência de nutrientes.
Idade na qualidade dos ovos
A qualidade da casca e o tamanho dos ovos são diretamente afetados pela idade da poedeira (Roberts, 2004). Poedeiras mais velhas tendem a colocar ovos maiores e mais pesados. Contudo, esse incremento em dimensões não é acompanhado por incrementos no peso da casca, por exemplo. Nesse cenário, aves mais velhas tendem a colocar ovos com cascas mais finas e frágeis (Albatshan et al., 1994).
Leia também: Regime luminoso na produção de poedeiras e matrizes de frangos de corte
Um estudo mais antigo, porém de temática muito atual, estimou que perdas relacionadas a qualidade da casca na produção de ovos englobam cerca de 7,5% da produção total (Roland, 1998). Assim, as poedeiras mais velhas tendem a colocar ovos com menor qualidade de casca, fato que pode acarretar perdas produtivas bastante significativas para a indústria.
Variáveis produtivas de poedeiras ao longo do ciclo produtivo. Fonte: Guia de Manejo de Poedeiras Brancas Hy-line W-80
Saúde do aparelho reprodutor e metabolismo
Com o passar da idade, as aves poedeiras passam por um processo de deterioração natural. Isso se soma ao longo período ao qual os animais permanecem nos sistemas produtivos, podendo durar até as 80 semanas de idade. Além disso, aves mais velhas apresentam uma queda no metabolismo, em especial apresentando menor capacidade nos mecanismos de regulação do cálcio. Com a idade, é observada a redução da capacidade de homeostase e absorção de cálcio pelo trato gastrointestinal (Monlar et al., 2018).
Se a ave passa a apresentar limitações nesses processos, menos cálcio será destinado a formação da casca. Também, poedeiras mais velhas podem apresentar reduzida mobilização do cálcio, inclusive, para os ossos.
Outro fator importante é que a qualidade do ovo, em especial da casca, que reflete a saúde do aparelho reprodutor dessas fêmeas. Alguns autores discutiram que a produção de ovos prolongada destrói a integridade do endométrio uterino, influenciando negativamente na qualidade da postura (Jiang et al., 2021).
Além da qualidade da casca e da produtividade
Além da redução na qualidade da casca e da produção de ovos, poedeiras longevas marrons tendem a colocar ovos menos pigmentados. De acordo com um estudo de Samiullah et al. (2014), a idade afetou a pigmentação dos ovos em poedeiras marrons. No trabalho discutiu-se que a produção de pigmentos para a casca possivelmente não acompanha o aumento em dimensões do ovo (que ocorre com o avançar da idade). Também, Yang et al. (2009) observaram uma correlação significativa entre a pigmentação dos ovos e a rigidez da casca em seu experimento. Ovos menores apresentavam cascas mais duras e pigmentadas, e os maiores cascas mais finas e menos pigmentadas.
Acesse também nosso LinkedIn: Zootecnia Brasil
Outro fator impactado negativamente pela idade é a qualidade interna dos ovos. Poedeiras mais velhas tendem a por ovos de albúmen mais liquefeito, o que reduz sua capacidade de formação de espuma. Esse atributo é interessante especialmente para fins culinários e industriais. Outros autores discutiram que a idade das poedeiras reduz importantes atributos da qualidade interna do ovo como valores da Unidade Haugh (HU), índice de gema e altura do albúmen (Oliveira et al., 2020). Dessa forma, o fator idade também pode implicar em piora da qualidade interna dos ovos, além da externa (casca).
Fornecimento de Cálcio para poedeiras longevas
Alguns autores realizaram experimentos com poedeiras longevas de 46 a 70 semanas de idade, a fim de determinar a influência dos níveis de inclusão de cálcio na dieta sobre a qualidade da casca, produtividade, dentre outras variáveis (Bar et al., 2002; Nárvarez-Solarte et al., 2006; An et al., 2016).
De acordo com as recomendações do NRC (1994), a inclusão de cálcio na dieta de poedeiras deve estar entre 3,25 e 3,6 g/dia (ou algo próximo de 3,75% de inclusão). Nos experimentos desses autores, os animais apresentaram melhores respostas produtivas quanto receberam cerca de 4 g/dia de cálcio na dieta, chegando até a níveis de 4,7% de inclusão (An et al., 2016).
Nesse sentido, os níveis de inclusão podem não fornecer informações precisas considerando que a % de cálcio varia de acordo com a fonte utilizada. A quantidade de cálcio a ser ingerida em g/dia fornece uma informação mais precisa da necessidade nutricional.
Bar et al. (2002) observaram que 4 g/dia de Ca geraram as melhores respostas produtivas para poedeiras de 56 a 84 semanas, aumentando a produção de ovos e a espessura da casca (um fator fortemente relacionado a idade). Também, observaram que a partir dos 4 g/dia, não foram observadas diferenças para aumento na quantidade de cálcio fornecida, podendo explicar um platô quanto aos níveis de suplementação de cálcio.
Considerações finais
Poedeiras longevas apresentam limitações produtivas inerentes a sua idade. Quando se trata da qualidade da casca dos ovos, a adequação dos níveis de cálcio na dieta pode se apresentar como uma alternativa para mitigar o problema. Contudo, é possível observar que os animais tendem a apresentar um platô de respostas à inclusão de um nutriente na dieta, conforme observado por (Bar et al., 2002). Assim, a inclusão de altos níveis de cálcio pode contribuir para melhoria da qualidade externa dos ovos, mas até um determinado limite fisiológico da ave. Nos experimentos acima citados, as poedeiras, mesmo em idade avançada, respondem a interferências na dieta. Contudo, a viabilidade econômica e o bem-estar animal, além da produtividade, devem ser considerados quando busca-se maximizar respostas em animais que se encontram em estágio produtivo de idade avançada.
Referências:
AN, S. H.; KIM, D. W.; AN, B. K. Effects of Dietary Calcium Levels on Productive Performance, Eggshell Quality and Overall Calcium Status in Aged Laying Hens. Asian-Australasian Journal of Animal Sciences, v. 29, n. 10, p. 1477–1482, 18 jan. 2016.
BAR, A.; RAZAPHKOVSKY, V.; VAX, E. Re-evaluation of calcium and phosphorus requirements in aged laying hens. British Poultry Science, v. 43, n. 2, p. 261–269, maio 2002.
JIANG, Q. et al. Hydroxychloride trace elements improved eggshell quality partly by modulating uterus histological structure and inflammatory cytokines expression in aged laying hens. Poultry Science, p. 101453, ago. 2021.
MOLNÁR, A. et al. Effect of different split-feeding treatments on performance, egg quality, and bone quality of individually housed aged laying hens. Poultry Science, v. 97, n. 1, p. 88–101, jan. 2018.
NARVÁEZ-SOLARTE, William et al. Nutritional requirement of calcium in white laying hens from 46 to 62 wk of age. International Journal of Poultry Science, v. 5, n. 2, p. 181-184, 2006.
OLIVEIRA, H. F. DE et al. Fatores intrínsecos a poedeiras comerciais que afetam a qualidade físico-química dos ovos. Pubvet, v. 14, n. 3, p. 1–11, abr. 2020.
ROBERTS, Juliet R. Factors affecting egg internal quality and egg shell quality in laying hens. The Journal of Poultry Science, v. 41, n. 3, p. 161-177, 2004. SANDILANDS, V. Achieving sustainable production of eggs, volume 2: animal welfare and sustainability. British Poultry Science, v. 59, n. 3, p. 357–357, 4 maio 2018.