Nos sistemas de produção de leite, a alimentação representa o principal custo de produção, chegando em muitos casos, a representar mais da metade do custo total (MATOS & PEDROSO, 2005). A fibra é um componente do alimento essencial para os ruminantes. Sua efetividade em promover a ruminação e salivação é fundamental para manutenção da saúde dos animais. Contudo, determinar a quantidade de fibra em uma dieta de forma que não limite a ingestão de matéria seca e que não cause efeitos colaterais à saúde animal é um desafio que acompanha os nutricionistas há bastante tempo, principalmente tratando-se de vacas leiteiras.
As características físicas dos alimentos, como o tamanho de partículas, afetam a digestão ruminal, taxa de passagem e a síntese de proteína microbiana, afetando com isso a digestibilidade total do alimento. A redução no tamanho médio de partículas de dietas de vacas leiteiras pode contribuir para aumentar o consumo de matéria seca (IMS) em função do aumento da taxa de passagem dos alimentos pelo trato digestivo. Contudo, nessa situação, os alimentos permanecem menos tempo no rúmen, de forma que a digestão ruminal, principalmente da fibra, pode ser reduzida causando redução na digestibilidade total dos alimentos.
Os primeiros passos para a determinação da FDN fisicamente efetiva foram baseados em resultados prévios que definiram o tamanho de partícula limiar para promover a ruminação em 1,18 mm, haja visto que menos de 5% das partículas que saíam do rúmen tinham diâmetro superior a este. Logo, para determinar a fração de FDNfe seria necessário considerar o percentual de FDN em partículas maiores que 1,18mm (MERTENS, 1997).
Na mesma época LAMMERS et al. (1996), buscaram desenvolver um método prático que quantificasse o tamanho médio de partículas. Nesse sentido, os pesquisadores desenvolverem o método Penn State Particle Separator (PSPS) que tem como objetivo avaliar os teores de fibra da dieta de vacas leiteiras através da avaliação da distribuição dos diferentes tamanhos de partículas da dieta, os valores de distribuição recomendados estão descritos na tabela 1.
A técnica consiste em coletar 500g de amostra de TMR, colocar na peneira superior e então fazer movimentos de vai e vem em uma superfície lisa, com comprimento de curso de aproximadamente 17 cm e velocidade de 1,1 ciclos por segundo, sendo cinco vezes cada lado em dois giros completos, finalizando assim 40 ciclos (BARRETTA et al., 2018). Após os dois giros completos são pesadas, separadamente (Figura 1), as amostras que ficaram retidas em cada peneira e então é feita uma “regra de três” para chegar à porcentagem de partículas retidas em cada uma das peneiras.
Porém, segundo os pesquisadores, esse modelo possui algumas limitações, principalmente para avaliar a dieta total, uma vez que na maioria dos casos a dieta contém uma grande proporção de concentrado, que facilmente passa pela peneira de 8,0 mm. O tamanho médio das partículas é o principal item que controla a taxa passagem do rúmen (Kd), taxa de degradação (Kp) e como consequência o tempo de permanência que este alimento ficará no rúmen, influenciando na ingestão e digestibilidade.
De acordo com BARRETA (2020) estudos mais recentes verificaram que o limiar crítico para a passagem de partículas pelo orifício retículo omasal é variável e maior que 1,18 mm, sendo de pelo 4 mm para vacas leiteiras de alta produção. Nesse sentido houve uma mudança da PSPS, em que ao invés de se utilizar as 4 peneiras, é necessário somente 3, com orifícios de 19 e 8 mm de diâmetro, sendo que a peneira de 1,18 mm foi substituída por uma com orifícios de 4 mm.
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A peneira com orifício maior mede a quantidade de partículas grandes que flutuariam no rúmen e promoveriam ruminação, assim favorecem a manutenção do pH pela salivação. As partículas retidas na peneira de 8 mm farão parte do mat ruminal, porém tendem a ser degradadas mais rapidamente pelos microrganismos do rúmen. Já a peneira de 4 mm são as partículas que são facilmente quebradas pela ruminação ou ação microbiana.
Além da análise ao tamanho de partícula, tanto em forragem como em TMR, o separador de partículas também pode ser utilizado para monitorizar a possibilidade da seleção do alimento no comedouro, pelas vacas, podendo ajudar na solução de problemas alimentares, metabólicos e/ou produtivos. A diferença entre o tamanho de partícula encontrado nos restos do comedouro e o tamanho de partícula quando é distribuído aos animais, não deve diferir mais de 3 a 5%. Se as vacas estiverem a selecionar a dieta ao longo do dia, o pH ruminal pode flutuar mais do que o esperado, afetando a ingestão, a fermentação ruminal e a digestão geral.
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Diante disso, determinar o tamanho médio das partículas da dieta é uma ferramenta muito importante e útil nas fazendas. Além de que, os valores obtidos podem ser tomados como auxiliares na tomada de decisão, e um ajuste mais preciso da dieta, levando em consideração diversos fatores como: estágio de lactação das vacas, presença de animais dominantes, efetividade da mistura de dieta e entre outros.
Referências:
VAN SOEST, P. J. et al. Methods for dietary fiber, neutral detergent fiber, and nonstarch polysaccharides in relation to animal nutrition. J Dairy Sci. 1991;74(10):3583-97.
MATTOS, W.; PEDROSO, A.M.; Como a dieta afeta a composição do leite, Artigos Técnicos. Reahagro, 2005.
MERTENS, D. R. Creating a system for meeting the fiber requirements of dairy cows. J Dairy Sci. 1997;80(7):1463–81.
LAMMERS, B.P. et al. A simple method for the analysis of particle sizes of forage and total mixed rations. Journal of Dairy Science, n.79, n.5, p.922-928, 1996.
BARRETA, D.A. et. al. A evolução do conjunto de peneiras chamado Penn State Particle Size Separator. Disponível em:<https://www.milkpoint.com.br/artigos/producao/a-evolucao-do-conjunto-de-peneiras-chamado-penn-state-particle-size-separator-210267/> Acesso em: 25 de fevereiro de 2022.
BARRETA, D. A. Tamanho médio de partícula da dieta: determinação, interpretação e efeitos para vacas leiteiras. 2020. Revista Acadêmica Ciência Animal, 18, 1–9. https://doi.org/10.7213/2596-2868.2020.18102.