Os ácidos graxos de cadeia média (AGCM) são ácidos graxos saturados e de estrutura química particular. Esses ácidos ocorrem naturalmente na forma de triglicerídeos de cadeia média (TCM) na gordura do leite de mamíferos e em óleos de origem vegetal como os óleos de coco e de palma (MARTEN et al., 2006).
Tanto os AGCM quanto os TCM apresentam efeitos metabólicos e nutricionais específicos, como a rápida digestão e a absorção passiva. Além disso, ambos devem passar pela oxidação obrigatória no processo de digestão. Essas características somadas tornam esses compostos moléculas interessantes, em especial na nutrição de animais jovens (ODLE, 1997).
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Os ácidos graxos de cadeia curta (ácidos orgânicos) vêm sendo utilizados na nutrição animal para contribuir com o desempenho produtivo. Especialmente após as restrições de uso dos antibióticos promotores de crescimento. Os ácidos orgânicos são amplamente conhecidos devido ao seu poder acidificador e sua ação antimicrobiana, prevenindo desordens gastrointestinais em animais jovens (PARTANEN e MROZ, 1999).
Os AGCM, por sua vez, compõem um grupo distinto de ácidos orgânicos, e que também apresenta potencial para atuar como um agente antimicrobiano na produção animal. Segundo alguns autores, os AGCM apresentam uma grande capacidade antibacteriana (SKRIVANOVÁ et al., 2009).
Quem são os ácidos graxos de cadeia média
OS AGCM são caracterizados como ácidos graxos monocarboxílicos que contêm de 6 a 12 átomos de carbono (HANCZAKOWSKA et al., 2017). Essa categoria de ácidos graxos é composta basicamente pelos ácidos caprílico, cáprico, capróico e laúrico. Na nutrição animal, esses compostos são comumente fornecidos como trigliceróis de cadeia média (TCM), devido ao odor desagradável dos AGCM em sua forma pura.
No sistema gastrointestinal, os TCM sofrem hidrólise por ação das lipases pré-duodenais. Esse fato resulta em absorção parcial dos AGCM pela mucosa estomacal (HANCZAKOWSKA et al., 2011), diferentemente da absorção comum nos intestinos. Os TCM, nesse sentido, podem ser absorvidos de maneira intacta pelos enterócitos epiteliais intestinais e, então, hidrolisados pelas lipases (PLAYOUST e ISSELBACHER, 1964).
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Dessa forma, os AGCM e os TCM apresentam metabolismo um pouco diferenciado em relação aos demais ácidos graxos. Alguns autores discutiram que os TCM apresentam menor tendência para ser armazenados como gordura corporal devido aos rápidos transporte e oxidação – mais similares ao metabolismo dos carboidratos do que ao de outros ácidos graxos (LOH et al., 2013).
Uso de ácidos graxos de cadeia média na nutrição de leitões
O período do desmame se apresenta como uma época interessante para se observar os efeitos nutricionais e fisiológicos dos AGCM e dos TCM em leitões. Nessa fase do ciclo produtivo, há fatores críticos como a redução do consumo alimentar (levando a deficiência energética), além de alterações na morfologia intestinal – reduzindo a capacidade de absorção dos nutrientes.
Também, esse período é caracterizado por alterações nas funções da barreira intestinal – além da piora nas respostas imunes. Esses fatores podem estar relacionados à modificação do microbioma intestinal (PLUSKE et al., 1997; LALLÈS et al., 2007) pela mudança de ambiente e pela alteração da dieta.
Apesar de presentes na composição do leite de mamíferos, os AGCM se apresentam em maiores concentrações no leite de espécies como equinos, elefantes, coelhos e caprinos (HANCZAKOWSKA et al., 2011). Poucas concentrações desses ácidos graxos são encontradas no leite das porcas (DECUYPERE e DIERICK, 2003). Nesse caso, o período de amamentação dos leitões não contribuiria para a ingestão desses compostos via colostro.
Alguns estudos com suínos demonstraram que os AGCM e os TCM apresentaram bons resultados ao proteger a micro arquitetura intestinal dos animais em função dos seus poderes antimicrobianos (DIERICK et al., 2003), reduzindo a proliferação de microrganismos patogênicos. Estudos in vitro demonstraram que os ácidos caprílico e cáprico são capazes de inativar bactérias, vírus e parasitas (CABARA et al., 1972; SUN et al., 2002).
Experimentos com leitões demonstraram que os animais suplementados com AGCM apresentaram maior ganho de peso em comparação aos grupos não suplementados (HANCZAKOWSKA et al., 2011; LAI et al., 2014; YEN et al., 2015). Apesar das evidências desses compostos atuarem como fontes energéticas durante o processo de absorção, os autores atribuem essas melhorias no desempenho produtivo ao efeito antimicrobiano dos AGCM. Especialmente a ação desses compostos sobre microrganismos patogênicos como Escherichia coli e Salmonella sp. (DECUPYERE e DIERICK, 2003).
Adicionalmente, os AGCM desempenham influência indireta na saúde intestinal, favorecendo um bom desenvolvimento das criptas e das vilosidades devido a redução de populações microbianas indesejáveis. Com isso, há melhoria na capacidade de absorção, culminando em um melhor aproveitamento dos nutrientes. Esses fatores, quando somados, podem contribuir para as melhores respostas produtivas oriundas da suplementação de AGCM e TCM.
Referências:
DECUYPERE, J. A.; DIERICK, N. A. The combined use of triacylglycerols containing medium-chain fatty acids and exogenous lipolytic enzymes as an alternative to in-feed antibiotics in piglets: concept, possibilities and limitations. An overview. Nutrition Research Reviews, v. 16, n. 2, p. 193-210, 2003.
HANCZAKOWSKA, Ewa. The use of medium-chain fatty acids in piglet feeding–a review. Annals of animal science, v. 17, n. 4, p. 967-977, 2017.
Lalle`s JP, Bosi P, Smidt H and Stokes CR (2007). Weaning – a challenge to gut physiologists. Livestock Science 108: 82–93.
CHWEN, Loh Teck et al. Growth performance, plasma fatty acids, villous height and crypt depth of preweaning piglets fed with medium chain triacylglycerol. Asian-Australasian journal of animal sciences, v. 26, n. 5, p. 700, 2013.
MARTEN, Berit; PFEUFFER, Maria; SCHREZENMEIR, Jürgen. Medium-chain triglycerides. International Dairy Journal, v. 16, n. 11, p. 1374-1382, 2006.
ODLE, Jack. New insights into the utilization of medium-chain triglycerides by the neonate: observations from a piglet model. The Journal of nutrition, v. 127, n. 6, p. 1061-1067, 1997.
PARTANEN, Krisi H.; MROZ, Zdzislaw. Organic acids for performance enhancement in pig diets. Nutrition research reviews, v. 12, n. 1, p. 117-145, 1999.
PLAYOUST, Marc R. et al. Studies on the intestinal absorption and intramucosal lipolysis of a medium chain triglyceride. The Journal of Clinical Investigation, v. 43, n. 5, p. 878-885, 1964.
SKŘIVANOVÁ, Eva et al. Inhibitory activity of rabbit milk and medium-chain fatty acids against enteropathogenic Escherichia coli O128. Veterinary microbiology, v. 135, n. 3-4, p. 358-362, 2009.