Regime luminoso na produção de poedeiras e matrizes de frangos de corte

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Muitos fatores estão associados ao sucesso da avicultura, em especial no manejo das aves reprodutoras (matrizes) ou poedeiras comerciais (ovos). O sucesso da produção está condicionado a importantes variáveis, como a genética, bem-estar, nutrição, ambiência e manejo. No contexto da ambiência, os programas de iluminação desempenham um importante papel ao controlar as funções biológicas das aves (Araújo et al., 2011).

Os primeiros trabalhos avaliando a influência da luz sobre as aves foi realizado por Waldorf (1920). Nesse estudo, foram fornecidas às aves 16,5 horas de luz visando reproduzir os dias longos da primavera em pleno inverno. Como resultados teve-se que as aves colocaram ovos mesmo no alto inverno, e com temperaturas abaixo de zero. A partir dessa descoberta, pode-se inferir que as aves respondiam mais a duração do dia do que a temperatura para colocar os ovos. Além disso, a descoberta abriu caminho para diversos estudos que visaram compreender a influência do fotoperíodo sobre as variáveis fisiológicas das aves.

As respostas biológicas às alterações do fotoperíodo (ou duração do dia) são alguns dos fatores determinantes para que as aves migrem – aves num geral, um bando de andorinhas, por exemplo. Estas migrações ocorrem buscando ambientes mais favoráveis – talvez de fotoperíodo maior -, sendo denominada como “estação de monta”. Esse é o período no qual as fêmeas estão aptas a se reproduzirem (Campos, 2000).

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Fonte: australianeggs.org.au

Sensibilidade das aves à luz

As aves apresentam a capacidade de distinguir dias curtos de dias longos. Esse é um dos principais motivos associados a migração. De acordo com Freitas (2003), entre os solstícios (de inverno e verão) o fotoperíodo tem luminosidade crescente, estimando a maturidade sexual das galinhas. Da mesma forma, a partir do solstício de verão (dezembro no hemisfério sul), o fotoperíodo reduz e os dias se tornam mais curtos: isso inibe o ciclo reprodutivo das galinhas.

De maneira geral, pode-se dizer que a luz desempenha dupla ação sobre as aves: estima a função sexual, estabelecendo o ciclo reprodutivo. Adicionalmente, a alternância entre dia e noite é capaz de sincronizar os animais, estabelecendo um ritmo biológico diário – o ritmo circadiano (Cotta, 2014).

O ritmo circadiano

Desde microrganismos – como bactérias, até os grandes mamíferos exibem um certo ritmo atuando sobre seus processos biológicos. Esse ritmo pode variar de acordo com a estação do ano (resposta ao fotoperíodo) ou a hora do dia. De acordo com Sousa et al. (2008), esses ritmos podem ter origem em fatores externos ou mecanismos e estruturas particulares a cada ser vivo que apresente capacidade de desenvolver um ritmo fisiológico próprio.

Nesse sentido, o fotoperíodo atua sobre o ritmo circadiano das aves. A intensidade e a duração da luminosidade são importantes especialmente por regular o ritmo e desempenho reprodutivo desses animais, considerando que a intensidade e a duração da luz alteram a produção de fatores liberadores de hormônios reprodutivos.

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Fonte: zootecnicainternational.com

Ação da luz nas aves

Especialmente para as categorias poedeiras comerciais e reprodutoras, a ação da luz está relacionada a fins reprodutivos, ou seja, a postura de ovos. Nesses animais, a ovulação ocorre de acordo com a hierarquia folicular no ovário das fêmeas, sendo denominada ciclo de ovulação. Esses ciclos ovulatórios que ocorrem ao longo de toda a vida reprodutiva das galinhas está relacionado ao ritmo circadiano, mais especificamente ao fotoperíodo e a intensidade luminosa. Essa sincronização permite um controle neuhormonoral que controla as funções reprodutivas, caracterizando as ovulações periódicas ao longo da vida produtiva das aves (Boni e Paes, 1999).

De acordo com Cotta (2002), frangas nascidas no inverno e criadas em condições de iluminação natural – fotoperíodo crescente, tendem a ser mais precoces quanto à maturidade sexual, mas apresentam menores pesos de ovos. Da mesma forma, as frangas nascidas no começo da primavera apresentam maturidade sexual mais tardia em relação as outras, mas peso de ovos maior.

Leia também: Impactos da presença de Cascudinhos (Alphitobius diaperinus) em sistemas de produção de aves

Dessa forma, as frangas apresentam maior precocidade quanto maior for o fotoperíodo. De acordo com Sauveur (1988), em condições experimentais aplicando um programa de iluminação de 6 a 22 horas de luz/dia, nas 0 as 18 semanas de vida, geram avanço na maturidade sexual em 18 dias em relação ás frangas criadas em regime luminoso constante de 6 horas/dia. Da mesma forma, reduzindo a luminosidade de 22 para 6 horas/dia, no período de crescimento, há um atraso na maturidade sexual em 36 dias.

Contudo, a precocidade sexual atenuada está relacionada a fatores indesejáveis para a avicultura: o aumento de anomalias nos ovos (ausência de casca ou dupla gema). Isso ocorre por falhas na hierarquia folicular regulada pelo ritmo circadiano (Cotta, 2014). Dessa forma, o manejo do período de luminosidade nos sistemas de produção é importante, de maneira a contribuir para a precocidade sexual moderada, mas também para a qualidade da produção.

Intensidade e tipo de luz

Considerando a sensibilidade das aves à luz, deve-se também atentar para a intensidade luminosa da fonte de luz (nível de brilho aos olhos das aves) e ao tipo de luz (incandescente ou florescente). A escolha do tipo de luz deve levar em consideração fatores relacionados ao custo, intensidade luminosa e durabilidade. Contudo, as lâmpadas incandescentes tendem a apresentar menor eficiência luminosa em comparação às fluorescentes.

Tabela 1. Efeito da intensidade luminosa sobre a idade de maturidade sexual e características ovarianas de poedeiras comerciais

Intensidade de luz (lux)Idade 1º ovo (dias)Peso do ovário (g)Peso total dos folículos amarelos (g)Folículos amarelos (n)
1152,726,9b23,50b5,50b
5153,631,901b28,30ab6,56ab
50149,436,1a32,20a7,31a
500149,637,4a33,40a7,50a
Fonte: Campos (2000).

Tabela 2 – Luz fluorescente x Luz incandescente: efeitos sobre o desempenho de reprodutoras pesadas

VariávelIncandescentesFluorescentes
Ovos incubáveis (%)87,5888,07
Fertilidade (%)85,7482,42
Eclosão (%)72,7472,84
Peso do ovo (g)70,9671,46
Fonte: Campos (2000).

Matrizes pesadas: luminosidade diferenciada

As matrizes pesadas são uma categoria diferenciada na avicultura. Nesse sentido, busca-se animais de maior conformação corporal, primando pelo desenvolvimento ao invés da reprodução precoce.  Assim, utiliza-se programas de luminosidade diferenciados, quando as aves são criadas em um sistema semiescuro durante a fase de recria, visando contribuir para o seu desenvolvimento, mas que não entrem em estádio reprodutivo.

Linkedin: Zootecnia Brasil

Referências:

ARAÚJO, W.A.G.; ALBINO, L.F.T.; TAVERNARI, F.C.; GODOY, M.J.S. Programa de luz na avicultura de postura. Revista CFMV– Brasilia/DF, Ano XVII, nº 52, 2011.

BONI, I. J.; PAES, A. O. S. Programa de luz para matrizes: machos e fêmeas. In: SIMPÓSIO TÉCNICO SOBRE MATRIZES DE FRANGOS DE CORTE, 2., 1999, Chapecó. Anais … Chapecó: Embrapa, 1999. p.17-39.

CAMPOS, E; J. Avicultura (razões, fatos e divergências). Belo Horizonte. Editora FEP-MVZ, 2000.

COTTA, J.T. de B. Galinha: produção de ovos. Viçosa: Aprenda Fácil, Viçosa, Brasil. 2002. 191 p.

Cotta, T. Galinha: produção de ovos. 2.ed. Aprenda Fácil Editora, Viçosa, Brasil. 2014.250 p.

FREITAS, J; H. Avaliação de programas de iluminação para poedeiras leves e semipesadas. Lavras, MG: Universidade Federal de Lavras, 2003. 99p. Dissertação (Doutorado em Produção Animal) – Universidade Federal de Lavras, 2003.

Sauveur B. Reproduction des volailles et production d’oeufs. Quae; 1988.

SOUSA, C. E. C.; CRUZ-MACHADO, S. S.; TAMURA, E. K. Os ritmos circadianos e a reprodução em mamíferos. Boletim do Centro de Biologia da Reprodução. Juiz de Fora, v. 27 , (n. 1/2), p. 15-20, 2008.

WALDORF, E. C. Ten eggs per week per hen and how it was done. In: CURTIS, G.M. Use of Artificial Light to Increase Winter Egg Production. Reliable Poultry Journal, Quincy, Illinois, p. 19–20, 1920.

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