Os efeitos das fibras dietéticas irão variar de acordo com suas características físico-químicas. Fibras solúveis desempenham um papel importante no metabolismo energético, o que influencia positivamente no estado de saciedade dos animais não ruminantes. A fibra alimentar, particularmente a fração insolúvel, aumenta o preenchimento do conteúdo estomacal devido a sua expansividade, distendendo a parede do estômago. Além disso, pode aumentar o tempo de retenção no estômago, retardando o esvaziamento gástrico, promovendo a sensação de saciedade por mais tempo (Jarrett e Ashworth, 2018).
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O estado de saciedade apresenta impactos diretos sob o comportamento das fêmeas suínas gestantes (Lagoda et al., 2022). Sun et al. (2015) demonstraram que fêmeas suínas alimentadas com dieta suplementada com farinha de konjac (Amorphophallus konjac) em 1,2% ou 2,2% dedicaram menos tempo ao comportamento oral não alimentar (comportamento estereotipado) do que as fêmeas alimentadas com a dieta controle. Oh et al. (2024) ao avaliarem a suplementação de fêmeas suínas sob estresse térmico com fibras solúveis e insolúveis encontraram um aumento sob os comportamentos das fêmeas associados ao conforto, como se deitar e sentar, e reduziu os indicadores de estresse, sugerindo que a saciedade tem influência sob o estado de estresses desse animais.
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Bernardino et al. (2021) encontraram resultados semelhantes ao suplementar fêmeas suínas gestantes com dieta rica em fibras (2,53% de fibra bruta vs 12,86% fibra de casca de soja), durante a gestação, houve uma redução no comportamento estereotipado dos animais, uma vez que esses passaram a apresentar muito mais comportamento de repouso após a alimentação, independente do tratamento. Em um estudo realizado em camundongos, foi testado o uso de diferentes níveis (0,1%, 0,3% e 0,5%) de amido resistente recristalizado por encapsulamento com glucomanano konjac.
Desta forma, a inclusão de fibra nas dietas de gestação tem a capacidade de prolongar a saciedade pós-prandial como consequência do atraso no esvaziamento gástrico, enchimento intestinal, e influência nos metabólitos e hormônios plasmáticos (Jensen et al., 2015; Huang et al., 2020). Sobre o comportamento alimentar especificamente, a inclusão da fibra pode aumentar o tempo gasto comendo, nesse cenário o uso da fibra permite que o animal realize mais comportamentos relacionados à alimentação, auxiliando na regulação do comportamento alimentar motivado, evitando o desenvolvimento de estereotipias (Bergeron et al., 2000; Souza Da Silva et al., 2012; Bernardino et al., 2021).
Referências:
Bergeron R, Bolduc J, Ramonet Y, Meunier-Salaün MC and Robert S 2000.Feeding motivation and stereotypies in pregnant sows fed increasing levels of fibre and/or food. Applied Animal Behaviour Science 70, 27–40.
Bernardino T, Tatemoto P, De Moraes JE, Morrone B and Zanella AJ 2021. High fiber diet reduces stereotypic behavior of gilts but does not affect offspring performance. Applied Animal Behaviour Science 243, 105433.
Huang S, Wei J, Yu H, Hao X, Zuo J, Tan C and Deng J 2020. Effects of Dietary Fiber Sources during Gestation on Stress Status, Abnormal Behaviors and Reproductive Performance of Sows. Animals 10, 141.
Jarrett S and Ashworth CJ 2018. The role of dietary fibre in pig production, with a particular emphasis on reproduction. Journal of Animal Science and Biotechnology 9, 59.
Jensen MB, Pedersen LJ, Theil PK and Bach Knudsen KE 2015. Hunger in pregnant sows: Effects of a fibrous diet and free access to straw. Applied Animal Behaviour Science 171, 81–87.
Lagoda ME, Marchewka J, O’Driscoll K and Boyle LA 2022. Risk Factors for Chronic Stress in Sows Housed in Groups, and Associated Risks of Prenatal Stress in Their Offspring. Frontiers in Veterinary Science 9, 883154.
Oh SM, Hosseindoust A, Ha SH, Mun JY, Moturi J, Tajudeen H, Choi YH, Lee SH and Kim JS 2024. Importance of dietary supplementation of soluble and insoluble fibers to sows subjected to high ambient temperatures during late gestation and effects on lactation performance. Animal Nutrition 16, 73–83.