Programação fetal – Sua importância e impactos futuros

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programação fetal

A maioria dos sistemas de produção extensiva de bovinos são programados para que os animais recebam a maioria dos seus nutrientes através de forragens. Devido a grande diversificação de biomas e regiões do Brasil, principalmente em relação as diferentes pastagens de cada região, tais como as tropicais e temperadas, apresentam características nutricionais diferentes.

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Reis et al. (2009) destacaram que as pastagens brasileiras não conseguem fornecer um aporte total nutricional em todas as estações do ano, especialmente no verão e inverno, devido à sazonalidade na sua produção, fazendo-se necessário o uso de suplementação, com o objetivo de garantir a nutrição adequada tanto para o feto quanto para a matriz, assegurando o crescimento, prenhez e lactação.

O termo “programação fetal” surgiu com o professor David Barker (1997) com estudos feitos em seres humanos. A partir daí, pesquisadores puderem perceber que as crianças nascidas de mães que sofreram algum tipo de restrição alimentar durante o período gestacional, apresentaram crescimento inadequado e doenças na vida futura, como a diabetes. Baseado nisso, o conceito foi transferido para a produção animal. Para GODFREY e BARKER (2000), o conceito trata que qualquer evento ocorrido durante a gestação da matriz, ou seja, no ambiente uterino, pode afetar o desenvolvimento do feto e por consequência a produção e o desempenho dos bezerros no futuro.

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No início da gestação, entre o primeiro e o quinto mês, sabe-se que ocorre o desenvolvimento fetal e a formação dos órgãos, como o coração, rúmen e a formação da placenta, órgão responsável pela transferência dos nutrientes da mãe para o feto. E ainda, há a formação das primeiras fibras musculares, ou seja, há um aumento no número de células musculares (hiperplasia) e ainda ganho de peso do feto no terço final da gestação. Após a formação das fibras musculares, do quinto mês até o final da gestação temos uma nova hiperplasia muscular com a formação das fibras musculares secundárias. Durante o segundo terço de gestação ocorre a hiperplasia muscular do feto, após esse período não há aumento no número de células musculares, havendo apenas aumento das fibras musculares (hipertrofia). (Figura 1)

programação fetal

Portanto, se houver restrições nutricionais durante esse período ou se a matriz passar por condições de subnutrição, terá limitações nutricionais, impedindo o feto de absorver os nutrientes nas quantidades necessárias e oxigenação para seu desenvolvimento. (REYNOLDS e REDMER, 1995). Além disso, ZHU et al. (2006) relataram que se acontecer problemas na miogênese primária e secundária, podem causar problemas irreversíveis, pois resultam em animais com menor número de fibras musculares. Ressaltando ainda que após o nascimento não há aumento no número de fibras musculares, somente hipertrofia muscular.

Ressalta-se ainda que a formação de gordura intramuscular, ou seja, o marmoreio é fundamental para aumentar a palatabilidade da carne, pois contribuem para o sabor e suculência.  (TONG et al., 2008). A quantidade de gordura intramuscular é determinada pelo número e tamanho de adipócitos intramusculares. Durante a fase fetal, células de músculo esquelético e adipócitos são derivados do mesmo conjunto de células, que são conhecidas como células satélites, as quais possuem características multipotentes, ou seja, pequenas porções destas células de músculo esquelético fetal diferenciam-se e tornam-se adipócitos para formar a gordura intramuscular que produzem o marmoreio. (KUANG et al., 2008). Dessa forma, se houver uma restrição de nutrientes no terço final de gestação, pode prejudicar a formação dos adipócitos, bem como o marmoreio da carne, reduzindo também, a hipertrofia muscular (DU et al., 2010).

Na bovinocultura de corte é fundamental a produção de carne com quantidade e qualidade, para isso é importante o conhecimento da formação do tecido muscular, visando aumentar o número de fibras musculares e o teor de gordura entremeada. Porém, não podemos esquecer que as vacas leite gestantes, principalmente as que secam no início de gestão, as vezes são mantidas em pastos de baixa qualidade e que não atende suas exigências.  

A formação do tecido muscular é importante para a produção de carne ao mesmo que é fundamental que as exigências maternas sejam atendidas, pois impactará na produção de carne.  Principalmente porque as variações sentidas durante a gestação impactarão no desenvolvimento futuro do feto, já que nos períodos iniciais de gestação ocorre a formação das fibras musculares. Portanto, a suplementação materna deve atender as exigências da mãe para que chegue ao feto a quantidade ideal de nutrientes para seu desenvolvimento.

Da mesma forma a deposição de tecido adiposo entre as fibras musculares é influenciado pela nutrição maternal. Para melhorar a qualidade da carne é necessário que haja formação desses tecidos adiposos, pois o marmoreio aumenta a suculência da carne.

Referências:

REIS, R. A.; RUGGIERI, A. C.; CASAGRANDE, D.R.; PÁSCOA, A.G. Suplementação da dieta de bovinos de corte como estratégia do manejo das pastagens. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, p.147-159, 2009 (suplemento especial).

GODFREY, K.M.; BARKER, D.J.P. Fetal nutrition and adult disease. Am. J. Clin. Nutr. Suppl. 71:1344S-1352S. 2000.

REYNOLDS, L.P.; REDMER, D.A. Utero-placental vascular development and placental function. Journal of Animal Science, v.73, n. 6, p.1839-1851, 1995.

ZHU, M. J., et al. Maternal nutrient restriction affects properties of skeletal muscle in offspring. The Journal of Physiology. v. 575, n. Pt 1, p. 241-250, 2006.

TONG, J., ZHU, M. J., UNDERWOOD, K. R., HESS, B. W., FORD, S. P., & DU, M. AMPactivated protein kinase and adipogenesis in sheep fetal skeletal muscle and 3T3-L1 cells. Journal of Animal Science, 86(6), 1296–1305, 2008.

KUANG, S.; GILLESPIE, M. A.; RUDNICKI, M. A. Niche regulation of muscle satellite cell self-renewal and differentiation. Cell Stem Cell Review, v. 2, p.22–31, 2008.

DU, M.; TONG, J.; ZHAO, J.; UNDERWOOD, K. R.; ZHU, M.; FORD, S. P.; NATHANIELSZ, P. W. Fetal programming of skeletal muscle development in ruminant animals. Journal of Animal Science, Champaign, v. 88 (E. Suppl.), p. E5-E60, 2010.

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