Potencialidades do uso de probióticos para leitões desmamados

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A fase de desmame é um momento crucial da produção suinícola. Nesse período os leitões encaram diversos desafios como a separação da mãe, mudança de ambiente e alteração da dieta.

A alteração da dieta é brusca, passando de uma substância líquida altamente digestível – o leite materno, para uma sólida menos digestível – a ração (Dlamini et al., 2017). Além disso, atividades nunca antes desenvolvidas pelos animais como o acesso ao bebedouro e ao comedouro, bem como alimentar-se por si só, acompanham o desmame. Pode-se observar que diversos fatores se somam nessa fase, tornando-a um momento que demanda atenção por ser determinante para o sucesso do lote.

Diarreias pós-desmame

A fase de desmame pode resultar em distúrbios digestivos, gerando atrasos no desenvolvimento e baixo consumo alimentar (Dlamini et al., 2017). Uma desordem de caráter multifatorial, a diarreia pós-desmame pode ser caracterizada pela proliferação de microrganismos enteropatogênicos, como a bactéria Escherichia coli, no trato gastrointestinal dos leitões (Tang et al., 2009). O estresse do período pode tornar os animais mais suscetíveis a espécies enteropatogênicas, fator que se soma de maneira negativa a alteração da dieta. Essa, por sua vez, apresenta-se passível de manejo dentro da granja, possibilitando a redução das perdas produtivas e até da mortalidade inerentes ao período.

Tratando a diarreia pós-desmame: antibióticos

Amplamente utilizados no passado, os antibióticos – também chamados de promotores de crescimento – exerciam um papel importante como aditivos alimentares em diversas espécies de animais de produção. Os mesmos atuavam na redução da incidência de diarreias, além de melhorar parâmetros de desempenho como ganho de peso e conversão alimentar (Simon et al., 2005). Alguns de seus mecanismos de ação foram elucidados, propondo que sua ação benéfica poderia se dar a partir de interações com os tecidos intestinais, agindo inclusive sobre a resposta imune dos animais.

Leia também: Produção animal sem antibióticos, é viável ?

Em 2006, a União Europeia decidiu por banir o uso de antibióticos promotores de crescimento como aditivo alimentar na produção animal. O banimento se deu em função da presença de resíduos nos produtos de origem animal, além da possível resistência bacteriana ocasionada pelo amplo uso (Pluske et al., 2002), gerando “super bactérias”. A lacuna do aditivo alimentar promotor de crescimento abriu espaço para a busca por novas substâncias que pudessem exercer o mesmo papel dos antibióticos. Dentre essas substâncias estão os probióticos.

Fornecimento de probióticos no pós-desmame de leitões

Probióticos são microrganimos vivos não-tóxicos, podendo ser citados como “microrganismos do bem”. São comumente utilizados como probióticos bactérias ácidas láticas pertencentes aos gêneros Lactobacillus spp., Bifidobacterium spp. e Enterococcus spp. (Ljungh & Wadstrom, 2006). Seu mecanismo de ação ainda não foi completamente elucidado, porém os probióticos apresentam potencial de competir com microrganismos nocivos da flora intestinal, estimular o sistema imune dos animais e aumentar a resistência a agentes infecciosos – atuando como um promotor de crescimento (Kritas & Morrison, 2005).

Potencialidades do uso de probióticos

Estudos prévios demonstravam diversos benefícios do fornecimento de probióticos ao desmame de leitões. Conforme discutido na revisão de Barba-Vidal (2018), dentre os benefícios podem ser citados a redução dos escores de diarreia, modulação da microbiota intestinal, redução da mortalidade, melhoria de parâmetros de desempenho e redução da contagem bacteriana de Escherichia coli no trato gastrointestinal dos leitões.

Em contrapartida, na mesma revisão Barba-Vidal (2018) aponta que outros estudos não encontraram benefícios diretos a partir do uso de probióticos como aditivo alimentar para leitões desmamados. Da mesma forma, não foram relatados malefícios pelo uso do aditivo.

Carência de dados

A variabilidade entre os resultados pode se explicar devido a grande variação entre os gêneros de microrganismos utilizados nos tratamentos e suas combinações. Além disso, a dosagem e os níveis de inclusão nas dietas também apresentaram grande variação entre os estudos. Percebe-se a existência de uma lacuna e a demanda de estudos para levantamento de dados sobre o aditivo. Contudo, para a maioria dos estudos o uso de probióticos no desmame de leitões apresentou benefícios diretos, demonstrando grande potencial para atuar como um aditivo alimentar promotor de crescimento.

Apesar de não ser uma técnica amplamente utilizada no Brasil, o uso de probióticos pode apresentar-se como um forte aliado para a fase crítica pós-desmame, contribuindo para a redução de perdas, bem como para maior produtividade dos sistemas de criação de suínos.

Referências

Barba-Vidal, E., Martín-Orúe, S. M., & Castillejos, L. (2018). Review: Are we using probiotics correctly in post-weaning piglets? Animal, 1–10.

Dlamini, Z. C., Langa, R. L. S., Aiyegoro, O. A., & Okoh, A. I. (2017). Effects of probiotics on growth performance, blood parameters, and antibody stimulation in piglets. South African Journal of Animal Science, 47(6), 765.

Kritas, S. K., & Morrison, R. B. (2005). Evaluation of probiotics as a substitute for antibiotics in a large pig nursery. Veterinary Record-English Edition156(14), 447-447.

Ljungh, A., & Wadstrom, T. (2006). Lactic acid bacteria as probiotics. Current issues in intestinal microbiology, 7(2), 73-90.

Pluske, J. R., Pethick, D. W., Hopwood, D. E., & Hampson, D. J. (2002). Nutritional influences on some major enteric bacterial diseases of pig. Nutrition research reviews15(2), 333-371.

Simon, O., Vahjen, W., & Scharek, L. (2005). Micro-organisms as feed additives-probiotics. Advances in pork Production, 16(2), 161-167.

Tang, X., Tan, Y., Zhu, H., Zhao, K., & Shen, W. (2009). Microbial conversion of glycerol to 1, 3-propanediol by an engineered strain of Escherichia coli. Applied and environmental microbiology, 75(6), 1628-1634.

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