A alimentação dos animais deve ser constituída de uma porção volumosa (que é oferecida a vontade) e outra concentrada (com fornecimento limitado, e dependendo dos objetivos do produtor, determina-se qual a participação do concentrado na ração total).
O volumoso na maioria dos casos é o ingrediente mais barato da ração total, pois seu uso é maximizado. Já nos concentrados, os grãos muitas vezes estão acima de 50% e são os que mais oneram a mistura concentrada, principalmente no Brasil, onde a relação preço do grão/preço do leite apresenta-se de forma desvantajosa.
Dentre as alternativas para a redução do custo de produção estão os subprodutos da agroindústria, que tem se mostrado como opção importante na formulação de dietas para bovinos leiteiros, tendo como inclusão a dependência de fatores, como:
- disponibilidade
- composição química
- preço
- custo do transporte
- facilidade no armazenamento
- presença de compostos tóxicos/antinutricionais
Seja qual for o motivo da inclusão desses produtos na dieta dos animais, o principal fator avaliado é uma possível vantagem econômica, podendo ser por redução direta no custo da alimentação e até mesmo visando o melhor desempenho animal, resultante de melhor eficiência alimentar. Outra vantagem a ser considerada é uma maior flexibilidade na formulação, em função da maior diversidade dos alimentos. Também há a possibilidade do uso de subprodutos com alto teor de fibras para substituir forragens, quando essas têm disponibilidade baixa ou preço elevado.
Algodão
Os subprodutos provenientes da semente de algodoeiro representam a segunda maior fonte proteica disponível para a produção animal, ultrapassada somente pela soja. Podendo ser classificados como alimentos concentrados proteicos ou proteico/energéticos.
De todos os possíveis subprodutos do algodão, o farelo é o mais conhecido e, consequentemente, o mais utilizado. O farelo de algodão é resultante da remoção do óleo, que pode ser feito de duas formas:
- extração mecânica: é o que apresenta menor teor de proteína, e recebe o nome de “torta gorda”, “torta” ou “resíduo”
- extração química: apresenta maior valor proteico, porém, tem menor valor energético (por conter menor óleo residual, quando comparado com o anterior)
Do ponto de vista de degradabilidade ruminal, o farelo de algodão é o melhor suplemento de proteína; como alternativa para diminuir a degradação ruminal e aumentar a digestibilidade intestinal deste produto, temos o tratamento de calor sendo utilizado.
- Caroço de algodão
O caroço de algodão apresenta em média 20% de extrato etéreo, sendo considerado fonte energética relativamente rica em proteína (24% PB), podendo ser fornecido em até 15% de matéria seca( MS) da dieta, respeitando o nível máximo de extrato etéreo de 5% na MS total.
Para alguns autores, o caroço de algodão não necessita de nenhum tipo de processamento. Contudo, estudos mostram que sementes de algodão que não apresentam línter tem maior digestibilidade no trato gastrointestinal do que as que possuem.
Observação: As sementes de certas variedades de algodoeiros, após separação das fibras por debulha, apresentam-se ainda revestidas de uma penugem fina formada por fibras muito curtas (de comprimento geralmente inferior a 5 mm). Dá-se a essas fibras, após terem sido separadas das sementes, o nome de línteres de algodão.
Vacas de alta produção requerem maior demanda por energia, surgindo então o caroço de algodão como fonte lipídica. Por apresentar considerável teor de gordura, é classificado como alimento de alto valor energético, em especial no período em que as vacas estão no início da lactação, período de balanço energético negativo, podendo resultar no aumento da produção e no teor de gordura do leite. Ainda há a possibilidade de mostrar um lado desvantajoso, em situações em que a fibra da ração é de qualidade inferior ou até mesmo em quantidade insuficiente, quando fornecido o caroço de algodão pode ocorrer uma queda no teor de proteína do leite.
Há estudos que mostram que, o tipo de forragem utilizada pode influenciar a resposta à suplementação de gordura. Smith et al. (1993) relatam que a produção de leite, gordura e LCG foram inferiores para as vacas que receberam dietas com caroço de algodão inteiro e silagem de milho, quando comparadas às que receberam caroço de algodão inteiro e feno de alfafa.
- Farelo de algodão
Na maiorias das vezes, o farelo de algodão é muito fornecido na suplementação de dietas baseadas em cana-de-açúcar e ureia, visando o fornecimento de energia e proteína.
O nível de tolerância no uso deste produto para vacas é de 9.000 mg/kg, e para bezerros acima de quatro meses de idade até 200 mg/kg.
Soja
Com o crescimento de indústrias moageiras, a pecuária começou a contar com um subproduto de grande importância: o farelo de soja. É a principal fonte proteica utilizada nas rações para ruminantes e monogástricos. Pode ser fornecida de diversas maneiras, como:
- grão integral
- grão aquecido
- farelo de soja
- farinha de soja
- proteína concentrada de soja
- torta de soja tostada
- farinha de soja descascada
- resíduo da soja
- casquinha de soja
- farelo centrifugado
Mandioca
O uso da mandioca e seus subprodutos vem se destacando ao longo dos anos, tanto por apresentar facilidade no seu cultivo, quanto em relação a possibilidade na utilização de seus resíduos culturais (folhas e caule), e de seus subprodutos industriais, podendo destacar:
- casca
- farinha de varredura
- fécula
A mandioca e seus subprodutos são considerados excelente alternativa para a alimentação de ruminantes, podendo substituir outros alimentos sem que isso comprometa no desempenho animal.
Resíduo Úmido de Cervejaria
Pode ser considerado um alimento volumoso com alto teor proteico, por apresentar acima de 25% na MS. Apresentam PNDR de 65,59% da PB, característica desejada quando se trata de nutrição de vacas leiteiras, pois possuem metabolismo acelerado e requerem alta exigência de energia e proteína.
Apesar de ter características desejáveis, possui um entrave quanto ao alto conteúdo de umidade (70 a 80%), o que dificulta no transporte e armazenamento desse material.
Estudos apontam que a inclusão deste resíduo na alimentação de vacas lactantes aumentou cerca de 6% na produção de leite por dia.
Fatores Antinutricionais
Vale ressaltar que, qualquer que seja o produto utilizado, o produtor deve ficar atento se há a presença de fatores antinutricionais que podem acabar comprometendo na saúde e, consequentemente, desempenho do animal.
Referências:
Livro: Bovinocultura leiteira: informações técnicas e de gestão. / Acácio Sânzio de Brito; Fernando Viana Nobre; José Ronil Rodrigues Fonseca (Orgs.). – Natal: SEBRAE/RN, 2009.
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