Você sabe quais são os coprodutos da produção de algodão utilizados na nutrição de bovinos de corte?

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Não é segredo para ninguém que a agricultura e a pecuária andam lado a lado, onde uma depende da outra. Nesse sentido, precisamos da lavoura para que possamos alimentar nossos animais, assim, buscamos alternativas de como utilizar esses alimentos.

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Atualmente, com a evolução dos sistemas de produção, grande parte dos ingredientes utilizados na suplementação animal são oriundos do processamento de produtos da agricultura. Resíduos que não tem mais utilização após esse processamento, como é o caso do beneficiamento do algodão.

Você sabe quais são os coprodutos da produção de algodão utilizados na nutrição de bovinos de corte?

A produção de algodão gera diversos coprodutos que podem ser utilizados na alimentação de bovinos, contribuindo para a sustentabilidade e economia do setor agropecuário. Aqui estão os principais coprodutos do algodão que podem ser incorporados na dieta de bovinos:

1. Caroço de algodão:

O caroço de alogodão é um subproduto obtido a partir da retirada das fibras da pluma, compreendendo o grão e a casca do algodão. As fibras curtas que ficam retidas junto ao caroço são denominadas de línter e são fonte de fibra facilmente digestível para ruminantes. A quantidade de línter presente no caroço pode variar de 4 a 8%, em que o caroço integral tem cerca de 18% de gordura e 20% de proteína bruta na MS. (CARDOSO, 1998).

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O caroço de algodão é um coproduto valioso na alimentação de gado de corte devido aos seus benefícios nutricionais, onde possui uma ótima fonte de proteínas essenciais para o crescimento e desenvolvimento dos bovinos. Além de conter um alto teor de óleo, fornecendo energia aos animais (cerca de 96% de NDT), principalmente na fase de terminação, onde também é rico em fibras, o que auxilia na digestão e na saúde ruminal.

Benefícios do caroço de algodão:

  1. Aumento no ganho de peso:
    • Alto Valor Energético: O caroço de algodão contém um alto teor de óleo (cerca de 20%), fornecendo uma fonte concentrada de energia que pode aumentar significativamente o ganho de peso dos animais. Essa energia extra é crucial durante fases de crescimento intensivo e engorda.
    • Proteínas de Qualidade: Com um teor de proteína bruta que pode chegar a 23%, o caroço de algodão ajuda a suprir as necessidades proteicas dos bovinos, essencial para o crescimento muscular e desenvolvimento saudável.
  2. Custo-Benefício
    • Economia de Alimentação: Comparado a outros alimentos concentrados, como farelos de soja e milho, o caroço de algodão pode ser uma alternativa mais econômica, reduzindo os custos de alimentação sem comprometer a qualidade nutricional.
    • Disponibilidade: Em regiões produtoras de algodão, o caroço é um coproduto abundante, o que pode facilitar o acesso e reduzir os custos de transporte e aquisição.
  3. Melhoria da Saúde Ruminal
    • Fibra Eficaz: A presença de fibras no caroço de algodão (cerca de 28%) contribui para a saúde do rúmen, promovendo a fermentação adequada e ajudando a manter um ambiente ruminal estável.
    • Estimulação da Mastigação: A fibra promove a mastigação e a produção de saliva, essencial para a neutralização dos ácidos ruminais e prevenção de problemas digestivos como a acidose ruminal.
  4. Flexibilidade na Formulação de Rações
    • Versatilidade: Pode ser utilizado em diversas formulações de ração, adaptando-se a diferentes fases de produção e necessidades nutricionais dos animais.
    • Complementaridade: Funciona bem como complemento a outras fontes de alimentos, equilibrando a dieta e suprindo deficiências nutricionais.
  5. Contribuição para a Sustentabilidade
    • Uso de Coprodutos: A utilização de caroço de algodão na alimentação animal contribui para a sustentabilidade ao aproveitar coprodutos que de outra forma poderiam ser desperdiçados.
    • Redução de Impactos Ambientais: A substituição parcial de grãos por caroço de algodão pode reduzir a pressão sobre a produção de culturas alimentares destinadas exclusivamente ao consumo humano, ajudando a balancear a demanda agrícola.

2. Farelo de algodão

O farelo de algodão é um sub produto obtido após a separação da casca (deslintamento) e extração do óleo do caroço de algodão por pressão hidráulica ou solvente. O grão é obtido após a remoção da pluma, abrindo-se o caroço e liberando o grão. Após a extração do óleo, podem ser produzidos dois tipos de farelos.

O farelo de algodão produzido por extração mecânica do óleo (esmagamento) tem menores teores de proteína (46,1% de PB) e maior quantidade de energia, devido ao óleo residual (cerca de 5%). Já o farelo resultante da extração do óleo com solvente tem menor teor de óleo residual (no máximo 2%) e relativamente maior teor proteíco (47,6% de PB). (CARDOSO, 1998)

3. Capulho de algodão

O capulho de algodão é a cápsula que envolve as sementes de algodão e que, após a colheita, pode ser utilizada na alimentação de bovinos. Este coproduto do algodão por ser uma opção viável de volumoso, sendo uma alternativa econômica na dieta dos ruminantes, fornecendo fibras e outros nutrientes essenciais.

O capulho é o fruto do algodoeiro (maças abertas e secas), sendo reríduo da produção de fibra do algodão, obtido a partir do processo de beneficiamento para extração do algodão no momento do descaroçamento (BUAINAIN et al., 2007).

Este pode ser uma alternativa interessante de ser trabalhada na dieta de bovinos confinados ou para animais suplementados a pasto, quando há baixa disponibilidade de forragem, onde o mesmo possui fonte de fibra fisicamente efetiva.

Como todos os subprodutos, o valor nutritivo do capulho de algodão pode variar, dependendo do processo de descaroçamento e dos componentes restantes. Em média, o capulho é um volumoso seco com aproximadamente 93% de matéria seca (MS), 7 a 12% de proteína bruta (PB) e 55 a 65% de fibra em detergente neutro (FDN). Devido ao seu alto teor de MS, pode ser necessário adicionar água em dietas de confinamento quando o capulho é utilizado como única fonte de volumoso. No entanto, quando utilizado a pasto, seja de forma exclusiva ou como complemento a rações ou suplementações, não há necessidade de inclusão de água.

4. Torta de algodão

A torta de algodão é um subproduto resultante da extração do óleo das sementes de algodão. Ela é rica em nutrientes e amplamente utilizada na alimentação de bovinos. A torta de algodão (TA) é um coproduto rico fibra em detergente neutro (FDN), o que permite sua utilização como fonte de fibra em dietas sem forragem para animais ruminantes (ARCANJO, 2023).

A torta de algodão tem sido utilizado na alimentação de ruminantes como concentrado proteico, divido aos teores de proteína bruta e proteína não degradada no rúmen (COUTO et al. 2012); como fonte de gordura protegida (BARDUCCI et al. 2016); e devido aos seus níveis de fibra, tem potencial para ser usada como volumoso em dietas isentas de forragem (PAULINO et al., 2013). Sua utilização em dietas de alto concentrado ou em dietas isentas de forragem, inclui concentrações de fibra necessária para estimular a ruminação e manter o ambiente ruminal saudável (GOULART et al., 2020b), além de facilitar as operações de mistura e fornecimento da dieta.


Atenção ao Gossipol!

O gossipol é um composto fenólico presente naturalmente nas sementes de algodão e em seus coprodutos, como a torta e o farelo de algodão. Embora tenha propriedades benéficas, como atividades antimicrobianas e antiparasitárias, o gossipol pode ser tóxico para animais, incluindo bovinos, se ingerido em grandes quantidades. A seguir, são detalhados os principais aspectos e considerações sobre o gossipol na alimentação de bovinos.

Efeitos Tóxicos do Gossipol

  1. Toxicidade em Bovinos
    • Absorção e Acumulação: Quando ingerido, o gossipol pode ser absorvido pelo trato gastrointestinal dos bovinos e acumulado nos tecidos, especialmente no fígado e nos músculos.
    • Sintomas de Toxicidade: Os sintomas de intoxicação por gossipol incluem anorexia, redução do ganho de peso, dispneia (dificuldade para respirar), fraqueza, apatia e, em casos graves, morte.
    • Impacto na Reprodução: Em bovinos machos, o gossipol pode afetar a produção e a qualidade do sêmen, enquanto em fêmeas pode causar irregularidades no ciclo estral e problemas reprodutivos.
  2. Limites Seguros de Ingestão
    • Níveis Toleráveis: Estudos sugerem que a ingestão de até 100 ppm (partes por milhão) de gossipol livre na dieta é segura para bovinos adultos. Para bezerros e animais jovens, os níveis toleráveis são ainda menores.
    • Monitoramento da Dieta: É essencial monitorar a dieta dos bovinos para garantir que os níveis de gossipol estejam dentro dos limites seguros, especialmente quando a torta ou o farelo de algodão são utilizados como fontes de proteína.

Estratégias para Reduzir o Risco de Toxicidade

  1. Processamento Adequado
    • Descaroçamento e Tratamento Térmico: Processos como o descaroçamento e o tratamento térmico das sementes de algodão podem reduzir significativamente os níveis de gossipol livre, tornando os coprodutos mais seguros para a alimentação animal.
    • Uso de Aditivos: Aditivos como ferro e cálcio podem ser adicionados à dieta para se ligarem ao gossipol e reduzir sua absorção no trato digestivo.
  2. Incorporação Gradual na Dieta
    • Adaptação dos Animais: Introduzir a torta ou o farelo de algodão de forma gradual na dieta dos bovinos pode ajudar os animais a se adaptarem e reduzir o risco de toxicidade.
    • Mistura com Outros Ingredientes: Misturar os coprodutos de algodão com outros ingredientes da ração pode diluir os níveis de gossipol e balancear a dieta.
  3. Monitoramento e Avaliação Contínua
    • Acompanhamento Veterinário: É importante realizar um acompanhamento veterinário regular para monitorar a saúde dos animais e detectar precocemente qualquer sinal de intoxicação.
    • Análises Laboratoriais: Realizar análises laboratoriais periódicas dos coprodutos de algodão e da dieta total dos bovinos para garantir que os níveis de gossipol estejam dentro dos limites seguros.

Conclusão

Os coprodutos do algodão, como caroço de algodão, farelo de algodão, torta de algodão e capulho de algodão, representam recursos valiosos na nutrição de ruminantes. Esses subprodutos oferecem uma fonte rica e econômica de proteínas, fibras e energia, contribuindo significativamente para o crescimento, desenvolvimento e saúde dos bovinos. Além disso, a utilização desses coprodutos promove a sustentabilidade ao aproveitar resíduos agrícolas, reduzindo o desperdício e o impacto ambiental.

No entanto, o uso de coprodutos do algodão na alimentação de ruminantes deve ser realizado com cuidado devido à presença de gossipol, uma substância que pode ser tóxica em grandes quantidades. Estratégias como o processamento adequado, a inclusão gradual na dieta e o monitoramento contínuo dos níveis de gossipol são essenciais para garantir a segurança e o bem-estar dos animais.

Com a orientação de um nutricionista animal e a implementação de boas práticas de manejo, os coprodutos do algodão podem ser incorporados de forma eficiente e segura na dieta dos ruminantes, maximizando os benefícios nutricionais e econômicos. Dessa forma, esses subprodutos não apenas melhoram o desempenho e a saúde dos bovinos, mas também contribuem para uma produção pecuária mais sustentável e responsável.

Referências bibliográficas:

https://rehagro.com.br/blog/coprodutos-da-industria-do-algodao-para-pecuaria-de-corte

https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/241161/1/14265.pdf

https://repositorio.ufms.br/retrieve/04218222-22d5-4d62-a1a7-d4503fc7fe58/Tese%20-%20Angelo%20H.%20M.%20Arcanjo.pdf

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