Será que o sistema de identificação adotado pode afetar o bem-estar animal de suínos?

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A identificação individual é uma das práticas de manejo zootécnico mais comuns dentro dos sistemas de produção animal (CAJA et al., 2004). Dentre as principais razões para o uso de um sistema de identificação individual de suínos há o registro de desempenho zootécnico, uso de identificação individual dentro para permitir sistemas de acasalamento controlados, programas de melhoramento genético e a viabilização um mecanismo de rastreabilidade de animais.

Leia também: Sistema Australiano de identificação de suínos

Na produção de suínos, os suinocultores são constantemente desafiados a reduzir seus custos de produção e a produzir atendendo as premissas de bem-estar animal. Nesse sentido, dentre as práticas substitutivas ao uso da mossa destacam-se: tatuagem, brinco visual e brinco eletrônico (transponder) (DA SILVA; DIAS; MANTECA, 2015), já utilizados para outras espécies animais, como bovinos de corte, em substituição a manejos mais dolorosos de identificação (OLIVEIRA, 2022).

Na suinocultura, os brincos eletrônicos são pouco usados, em função do seu custo elevado, sendo mais utilizados como identificação individual de suínos reprodutores uma vez que requerem um maior controle e monitoramento (THÖLKE; WOLF, 2022), devido ao seu valor genético. Apesar da identificação eletrônica ser o método mais utilizado e aceito por países da União Europeia, há uma lacuna de estudos que elucidem o impacto da utilização desse método sobre o bem-estar de animais principalmente na fase de maternidade.

A dimensão da orelha desses animais na fase inicial da vida é em média de 4,5 cm (altura) x 5,5 cm (largura) pesando entre 15 a 30 g, podendo haver pequenas variações de acordo com o tamanho do leitão, enquanto um brinco eletrônico pesa aproximadamente 10 g (macho + fêmea). Isso significa que um animal que tem a orelha com peso de 15 g quando identificado com um brinco eletrônico sustenta 66% a mais do peso da sua orelha, o que pode causar dor e desconforto. Além disso, a identificação eletrônica pode se apresentar ineficaz por diferentes motivos, como danos ao dispositivo, em função do alto contato que os suínos estabelecem entre si ou ainda serem arrancados pelos próprios animais (AHRENDT et al., 2011).

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A utilização de métodos de identificação que causem dor ou gerem incômodo pode comprometer a vitalidade do leitão que por sua vez é dependente de vários fatores, dentre eles: genética materna (qualidade e quantidade de leite), tamanho da ninhada, dificuldades no parto e de vários efeitos ambientais (p. ex., temperatura do ar e práticas de manejo), ou ainda qualquer outro fator que possa influenciar na ingestão de colostro (KNOL et al., 2016; ROEHE et al., 2010).

Dessa forma, é necessária a implementação de um sistema de identificação mais eficaz e, assim, fortalecer a confiança dos consumidores (“da granja à mesa”), além de atender as premissas de bem-estar animal (FENG et al., 2013). Ademais, é fundamental gerar e adaptar as tecnologias e manejos que favoreçam o bem-estar animal para realidade de cada sistema de produção e, dessa forma, tornar a suinocultura brasileira mais sustentável (PELLENZ et al., 2022). Nesse contexto, é imprescindível procurar por métodos de identificação que atendam as premissas de bem-estar animal e que sejam eficientes do ponto de vista produtivo e econômico, como por exemplo: brincos mais leves, anatômicos e resistentes direcionados a fase específica, uma grande oportunidade de mercado para as empresas de identificação se antenarem!

Referências:

CAJA G, GHIRARDI JJ, HERNÁNDEZ-JOVER M, GARÍN D (2004). Diversity of animal identification techniques: From “fire age” to “electronic age”. In. PAUW, R.; MACK, S.; MAKI-HOKKONEN, J. (Eds). ICAR Technical Series 2004, n. 9, p. 21-39.

DA SILVA CA, DIAS CP, MANTECA X (2015). Práticas de manejo com leitões lactentes: revisão e perspectivas vinculadas ao bem-estar animal. Science and Animal Health, v. 3, n. 1, p. 113. https://doi.org/10.15210/sah.v3i1.4618

AHRENDT P, GREGERSEN T, KARSTOFT H (2011). Development of a real-time computer vision system for tracking loose-housed pigs. Computers and Electronics in Agriculture, v. 76, n. 2, p. 169-174, 2011. https://doi.org/10.1016/j.compag.2011.01.011.

FENG J, FU Z, WANG Z, XU M, ZHANG X (2013). Development and evaluation on a RFID-based traceability system for cattle/beef quality safety in China. Food Control, v. 31, n. 2, p. 314–325. https://doi.org/10.1016/j.foodcont.2012.10.016

PELLENZ JP, OELKE CA, FAUCITANO L (2002). Os Avanços do bem-estar animal na suinocultura brasileira: uma revisão teórica. In. OELKE, C. A.; MORAES, G. F. de; GALATI, R. L. (Eds.) Zootecnia: Pesquisa e Práticas Contemporâneas, Volume 3. (1a Ed) São Paulo: Editora Científica Digital, 2022. p. 120–135. E-book.

THÖLKE H, WOLF P (2022). Economic advantages of individual animal identification in fattening pigs. Agriculture, v. 12, n. 2, p 126. http://doi.org/10.3390/agriculture12020126

KNOL EF, NIELSEN B, KNAP PW (2016). Genomic selection in commercial pig breeding. Animal Frontiers, v. 6, p. 15–22. https://doi.org/10.2527/af.2016-0003

ROEHE R, SHRESTHA NP, MEKKAWY W, BAXTER EM, KNAP PW, SMURTHWAITE KM, JARVIS S, LAWRENCE AB, EDWARDS SA (2010). Genetic parameters of piglet survival and birth weight from a two-generation crossbreeding experiment under outdoor conditions designed to disentangle direct and maternal effects. Journal of Animal Science, v. 88, p. 1276–1285. https://doi.org/10.2527/jas.2009-2287.

identificação

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