A busca por alternativas sustentáveis para a produção de proteínas tem levado pesquisadores a explorar campos inovadores. A entomocultura zootécnica, que se refere ao cultivo e criação de insetos com fins zootécnicos, surge como uma solução promissora. Nesta prática, os insetos são criados para uso em agricultura, pecuária ou mesmo para consumo humano, proporcionando uma abordagem mais sustentável e eficiente para a produção de proteínas.
Perspectivas para uma produção sustentável
A crescente pressão sobre os recursos naturais e a necessidade de reduzir a pegada de carbono na produção de alimentos estão impulsionando a pesquisa e o desenvolvimento na entomocultura zootécnica. Os insetos, por sua natureza, oferecem uma forma eficiente de converter matéria orgânica em biomassa, muitas vezes com uma eficiência superior à dos animais de criação tradicionais. Essa característica os torna uma alternativa atraente em um mundo onde a sustentabilidade é cada vez mais valorizada.
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Vantagens da Entomocultura Zootécnica
Existem várias vantagens em relação à entomocultura zootécnica que a tornam uma opção interessante para produtores e consumidores preocupados com a sustentabilidade:
- Alta Eficiência de Conversão Alimentar: Insetos como grilos, larvas de mosca-soldado-negra e tenébrios (besouros) têm uma capacidade impressionante de converter alimento em biomassa. Eles precisam de menos alimento para crescer, reduzindo a necessidade de recursos
- Menor Espaço para Criação: A entomocultura pode ser realizada em espaços compactos, como armazéns ou edifícios urbanos, permitindo uma produção mais intensiva sem o mesmo impacto ambiental de outras formas de criação
- Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa: Os insetos emitem significativamente menos gases de efeito estufa em comparação com os animais de criação tradicionais, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas
- Uso de Resíduos Orgânicos como Alimento: Muitas espécies de insetos podem ser alimentadas com resíduos orgânicos, como restos de alimentos ou resíduos agrícolas. Isso transforma um problema de desperdício em uma oportunidade para produção de proteína
Espécies utilizadas e composição química
Diversas espécies de insetos estão sendo cultivadas na entomocultura zootécnica, cada uma com características únicas.
Besouros (Tenébrio – Tenebrio molitor): Os tenébrios são amplamente usados na entomocultura zootécnica por sua alta eficiência de conversão alimentar, facilidade de criação e versatilidade. Com cerca de 50% de proteína em peso seco, eles são uma ótima fonte de proteína para ração animal, especialmente para aves, peixes e outros animais. Os tenébrios também são usados em alimentos para consumo humano, como farinhas de insetos e snacks proteicos.
Grilos (Acheta domesticus): Os grilos são uma das opções mais populares na entomocultura zootécnica devido à sua alta eficiência na produção de proteína, com cerca de 60% de proteína em peso seco. Eles têm um ciclo de vida relativamente curto e podem ser criados em espaços compactos, tornando-os ideais para rações animais e para alimentos humanos, como barras proteicas e farinhas de grilo.
Baratas (Barata-Cinerea – Blaptica dubia, Barata-de-Madagascar – Gromphadorhina portentosa): A barata-cinerea e a barata-de-Madagascar são algumas das espécies de baratas mais utilizadas na entomocultura zootécnica. Elas são conhecidas por sua capacidade de reprodução e facilidade de manejo. A barata-cinerea é frequentemente usada para alimentar animais exóticos, enquanto a barata-de-Madagascar é comum em rações para répteis e outros animais. Ambas as espécies têm uma boa proporção de proteína, mas sua utilização para consumo humano é menos comum devido ao estigma associado a baratas.
Moscas (Mosca-Soldado-Negra – Hermetia illucens): As larvas da mosca-soldado-negra são amplamente utilizadas para conversão de resíduos orgânicos em biomassa rica em proteína e gordura. Elas têm aplicações em rações animais e biorremediação, pois podem ser alimentadas com resíduos alimentares e outros detritos orgânicos.
A composição química dos insetos pode variar, mas geralmente inclui altos níveis de proteínas, aminoácidos essenciais, ácidos graxos, vitaminas e minerais. Esses nutrientes tornam a entomocultura zootécnica uma opção viável para a produção de ração animal, substituindo ingredientes tradicionais como soja ou farinha de peixe.
Potencial de utilização na alimentação animal
O potencial da entomocultura zootécnica na alimentação animal é imenso. Os insetos podem ser usados como ingrediente em rações para aves, suínos, peixes e até mesmo para animais de estimação. Além de fornecer uma fonte de proteína de alta qualidade, essa prática reduz a dependência de ingredientes como soja, cuja produção pode ter impactos ambientais significativos.
Também oferece oportunidades para melhorar a saúde animal, pois os insetos contêm compostos bioativos que podem ter efeitos benéficos. Por exemplo, a quitina, um componente estrutural de muitos insetos, tem sido associada a melhorias na saúde intestinal de animais.
Considerações
A entomocultura zootécnica representa uma revolução sustentável na produção de proteínas para uso animal. Com vantagens claras em termos de eficiência, sustentabilidade e potencial de utilização, ela se destaca como uma solução promissora para os desafios globais de produção de alimentos. Embora ainda existam obstáculos a serem superados, como a aceitação do público e a regulamentação, o futuro da entomocultura zootécnica tem grande potencial e oportunidades.
Links úteis:
Matérias-primas aprovadas pelo MAPA para uso na alimentação animal.
Farinha de inseto como alimento nutracêutico para animais: revisão de literatura.