Qual a relação entre a dieta e a doença de casco (laminite) em bovinos?

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A claudicação em bovinos é de grande importância para a pecuária mundial. Em gado de leite, as perdas econômicas causadas pela claudicação estão em terceiro lugar, sendo precedidas pela mastite e problemas reprodutivos (GREENOUGH, 2007). Em rebanhos de corte, as lesões podais correspondem também ao terceiro maior problema de saúde enfrentado, precedido apenas pelo complexo da doença respiratória bovina e acidose ruminal (BARBOSA et al., 2020a).

Doenças podais são responsáveis por 90% dos casos de claudicação em bovinos, 92% nos membros pélvicos e de 8% em membros torácicos. Os 10% restantes englobam lesões como fraturas, luxações e artrites em outras áreas do sistema locomotor, excluindo os cascos (ALBUQUERQUE,2023). A laminite é responsável por 80% dos casos de claudicação, sendo a principal afecção nos cascos (FERREIRA, 2003; VERMUNT; GREENOUGH, 1994).

Leia também: Influência dos problemas de cascos na Reprodução de Bovinos

Sabemos que o alto consumo de carboidratos ainda é visto como um ponto crucial para o desenvolvimento de laminite por gerar acidose ruminal (BARBOSA et al, 2020a). A teoria mais aceita entre essa relação, consiste na associação entre o baixo pH ruminal e a inflamação das lâminas do casco. Assim, quando ocorre a redução do pH do rúmen (acidose), gera a morte das bactérias Gram-negativas, que liberam endotoxinas tóxicas conhecidas como LPS (lipossacarídeos), que posteriormente são liberadas na corrente sanguínea do animal. Além do LPS, diversas substâncias vasoativas, como histamina, tiramina, serotonina e ácido láctico são produzidas no trato gastrointestinal. Essas toxinas presentes na corrente sanguínea podem ocasionar um aumento na pressão sanguínea, e, inclusive na região dos cascos (ZHAO et al., 2018).

A laminite é ocasionada principalmente pelos carboidratos. Com o aumento da intensificação na produção de carne e leite, os animais começaram a receber quantidades mais elevadas de carboidratos facilmente fermentáveis para atender à crescente necessidade de energia.  

Uma das principais causas da acidose ruminal subclínica é a dieta rica em grãos, essa condição faz com o que o pH ruminal fique menor que 5,5 por longos períodos. Animais que não são previamente adaptados e que passam por mudanças repentinas na dieta são os mais susceptíveis a essa síndrome metabólica (VERMUNT; GREENOUGH, 1994).

A mudança de pH ruminal também é acompanhada por mudança na microbiota ruminal, fazendo com que as bactérias Gram-positivas (produtoras de ácido lático) se sobreponham sobre as bactérias Gram-negativas. O lactato e as toxinas produzidas por esses microrganismos são absorvidos pela circulação e chegam ao cório, causando lesão endotelial e consequente laminite. Dietas ricas em concentrados também aumentam as expressões de interleucinas e fator de necrose tumoral nas lamelas dos cascos, influenciando a migração de células de defesa e destruição lamelar (LANGOVA et al. 2020).

A relação concentrado:volumoso também apresenta influência na saúde dos cascos. Fibra efetiva é essencial para manter o equilíbrio ruminal, evitando que haja quedas de pH e desequilíbrio da microbiota do rúmen. Pelo menos um terço da ingestão total de matéria seca de uma vaca deve consistir em forragem com boa qualidade para garantir o bom funcionamento do rúmen (GREENOUGH, 1985). Uma partícula de 30 comprimento adequado também é necessária para garantir ruminação e fluxo de saliva para o rúmen.

Além disso, o uso de tampões e agentes neutralizantes na dieta, como por exemplo, bicarbonato de sódio, carbonato de magnésio, carbonato de cálcio, carbonato de potássio, óxido de magnésio, dentre outros. Promotores de crescimento, ionóforos, que auxiliam na prevenção de problemas digestivos e metabólicos, entretanto o uso indiscriminado pode trazer sérias consequências para o meio ambiente, como por exemplo, a resistência microbiana.

Elaboração de dieta de pré e pós-parto personalizadas, pois algumas mudanças fisiológicas que ocorrem nestes períodos podem estimular a perda de gordura e de colágeno na região dos cascos, o que desencadeia ou agrava o quadro de laminite. Utilização do escore de locomoção como forma de monitoramento da laminite e o casqueamento preventivo. Já que, com o casqueamento preventivo se corrige a postura do animal e ainda reduz a possibilidade de descarte dentro do rebanho, pois problemas podais são umas das principais causas de eliminação precoce de animais.

A utilização de pedilúvio que tem como objetivo desinfetar o casco e endurecê-lo e a manutenção diária dos pisos em confinamento, pois a falta de higiene faz com que o casco fique em contato constante com umidade e fezes. E a umidade favorece o amolecimento do casco e o piso de concreto pode causar lesões. Camas confortáveis são essenciais para o descanso, pois o repouso favorece a ruminação e a circulação sanguínea nas extremidades distais dos membros.

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Por fim, é necessário sempre buscar que os bovinos vivam em ambientes favoráveis para a sua sanidade, principalmente com nutrição balanceada, com níveis adequados de proteínas e carboidratos, suplementação mineral e com correta proporção entre volumoso e concentrado.

Além disso é importe observar que tipo de piso os animais se mantem a maior parte do tempo, a fim de evitar lesões traumáticas nos casos. Ao ter uma maior atenção à saúde dos cascos dos animais, o setor pecuário evita inúmeros prejuízos, além de garantir o bem-estar animal.

REFERÊNCIAS:

ALBUQUERQUE, L. B. Laminite em bovinos: o que sabemos e o que devemos saber?. 2023. 49f. Tese (Trabalho de Conclusão de Residência) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

BARBOSA, A. A. et al. Prepartum lameness on subsequent lactation in Holstein dairy cows. Ciência Rural, v. 50, 2020a.

FERREIRA, P.M. Enfermidades podais em rebanho leiteiro confinado. 2003. 79f. Tese (Doutorado em Ciência Animal) – Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

GREENOUGH, P. R. The sub clinical laminitis syndrome. The Bovine Practitioner, p.144-149, 1985.

GREENOUGH, P.R. Bovine laminitis and lameness: a hands-on approach. Elsevier Health Sciences, 2007.

LANGOVA, L. et al. Impact of nutrients on the hoof health in cattle. Animals, v. 10, n.10, p. 1824, 2020.

VERMUNT, J. J.; GREENOUGH, P. R. Predisposing factors of laminitis in cattle. British Veterinary Journal, v. 150, n. 2, p. 151-164, 1994.

ZHAO, C. et al. Inflammatory mechanism of Rumenitis in dairy cows with subacute ruminal acidosis. BMC Veterinary Research, v. 14, p. 1-8, 2018.

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