Olá, meus amigos, mais um ano se inicia e novas expectativas vêm com ele. Seguimos fortes e firmes passando pelas intempéries e indo a diante. Por falar em ambientes difíceis e ventos fortes, mas com seu lugar conquistado ao sol, neste mês trago a raça Galloway.
Originária da região de colinas de Galloway e Dumfries, no sudoeste da Escócia, constituída pelos condados de Dumfries, Kirkcudbright e Wigton, a raça Galloway é considerada uma das mais antigas raças bovinas existentes – descende do gado celta indígena que vivia nessa região. Do início do século XVII até finais do século XVIII, animais Galloway eram enviados todos os anos para serem engordados em pastos ingleses e depois vendidos no mercado de Smithfield. Pelos idos de 1780, a raça se assemelhava ao gado Highland, de igual rusticidade e antiguidade, mas sem os chifres, menos hirsutos com pelagem variada.
De uma região de clima muito rigoroso, os animais possuem frame pequeno e dupla pelagem como adaptações evolutivas aos gélidos ventos do Mar do Norte que assolam as colinas. A pelagem dupla é composta de uma camada de pelos grossos por cima, que é perdida nas estações quentes, e de uma pelagem fina e sedosa por baixo.
A Galloway é mocha assim como a Aberdeen Angus, mas difere da segunda pelo menor tamanho, maior rusticidade e menor exigência quanto ao ambiente de criação, manejo e alimentação. Raça maternal com excelentes atributos de facilidade de parto, rusticidade e vigor do bezerro, detém o mérito de vacas muito longevas; essas características levaram William McCombie, criador escocês pioneiro nas raças Aberdeen Angus e Shorthorn, a dizer certa vez: “O Galloway, indubitavelmente, tem muitas grandes qualidades. Em terras pobres ele não tem rivais, mesmo os nossos Aberdeens não seriam capazes de sobreviver. Não há outra raça que tenha maior valor por quilo de peso que o Galloway.”
De diferenças muito sutis em relação ao Aberdeen Angus, o Galloway apresenta duas características simples de se observar, que podem separá-lo do primeiro: o formato da cabeça e a pelagem. Marcante na conformação do crânio, o Galloway possui a parte superior do osso occipital (marrafa) plana e ligeiramente fendida em sua parte média, o Aberdeen apresenta um nimbure bem saliente. A pelagem normalmente preta com um tom acastanhado lembra um Angus mais terroso, mas além do preto o Galloway apresenta outras pelagens. Dentre as raças britânicas é das que possui uma das maiores variedades de pelagens. Primando pelo negro, ainda temos a pelagem parda (Dun) e a vermelha como pelagens sólidas, a pelagem riggit (equivalente ao nosso jaguané), a branco com orelhas, focinho e patas negras ou vermelhas, e a cintada (Belted).
A variedade cintada, Belted Galloway, é com grande convicção a mais famosa dentre os Galloway’s. A origem da pelagem cintada possui duas teses. A primeira, e mais difundida, defende que a cinta é proveniente do cruzamento entre o Galloway negro e o Lakenvelder (Dutch Belted), raça leiteira dos Países Baixos. A segunda teoria, mais recente e oriunda de estudos mais aprofundados, indica que o padrão cintado de pelagem ocorre naturalmente, por mutação, em bovinos. O Belted Galloway é de maior tamanho e de vacas mais leiteiras que as demais variedades.
A raça Galloway tem sido amplamente utilizada em cruzamentos na Escócia, principalmente com Shorthorn, Aberdeen Angus e raças continentais. Na fronteira Escócia-Inglaterra é muito comum encontrar animais da raça Blue Grey, resultado do cruzamento de vacas Galloway negras com touros Shorthorn brancos. Foi a única raça a ser exportada para a Islândia em tempos modernos.
A variedade cintada é a que mais se difundiu pelo exterior, está presente em vários países como Uruguai, Argentina, EUA, Canadá, Austrália e Brasil, entre outros. No Brasil, a raça se encontra desde 1951 e até hoje mantém um registro muito modesto, mas ainda ativo.
A esta altura, já quase encerrando a crônica, cabe a seguinte pergunta: por que esse nome para o conto? A palavra Galloway deriva de um termo gaélico (língua celta da Escócia e Irlanda) que significa literalmente “GAEL ESTRANGEIRO”, sendo gael o falante de gaélico. Essa designação se referia à uma população de etnia mista escandinavo-gaélica que habitava a região na Idade Média.
Bem, meus amigos, vamos chegando ao fim de mais uma de nossas histórias e de mais um dos muitos passeios que teremos pelas Ilhas Britânicas. O Galloway mesmo sendo uma raça rústica das colinas, que nunca foi intensamente melhorada, gradualmente adquiriu sua conformação frigorífica e conseguiu seu modesto lugar em meio às modernas raças de corte. Desse conto tiramos a lição de que mesmo em condições difíceis e rigorosas é possível a melhora. Um abraço e até outra hora!