O consumo de matéria seca (CMS) é a principal via para o atendimento das exigências nutricionais dos ruminantes. Entender os fatores moduladores do apetite possibilita minimizar variações entre o CMS esperado e o que foi efetivamente consumido, o que é fundamental para a excelência na formulação de dietas. Isto permite maximizar o aproveitamento do potencial genético e aumentar a lucratividade na empresa pecuária.
O CMS é uma variável complexa, regulado por uma série de processos fisiológicos, ambientais, e a própria interação entre estes, o que dificulta o seu entendimento por muitos profissionais que dão assistência as fazendas. A partir desta postagem, serão discutidos os principais reguladores do CMS em bovinos de corte, com vistas a facilitar o entendimento e estimular o aprofundamento neste assunto, por estudantes e profissionais.
Do ponto de vista animal, a regulação do CMS pode ser afetada por fatores neuro-hormonais, psicogênicos, genéticos e a condição corporal. As adversidades climáticas (radiação solar, pluviosidade, umidade e etc.) e o manejo dos animais, em seus diversos sentidos, também competem para influenciar o CMS dos bovinos, promovendo ou não o máximo consumo, mas, serão detalhadas nas próximas postagens.
O fator neuro-hormonal diz respeito a comunicação que uma série de hormônios e neuropeptídios realizam entre os receptores do trato digestório e as regiões do cérebro responsáveis pela regulação do apetite. O organismo está sempre buscando o equilíbrio metabólico e, por isso, outros órgãos dão suporte nesse processo, como o pâncreas e o tecido adiposo. É por meio da interferência nestas vias hormonais, que os demais fatores reguladores de consumo, atuam.
O fator psicogênico representa a influência da percepção e da aprendizagem pelo animal no CMS. A percepção das características dos alimentos (textura, cheiro, sabor e etc.) e da interação social moldam hábitos de consumo. Isto culmina com a habilidade (aprendizado) de preferir certos alimentos em detrimento de outros (aceitabilidade), e na inibição do apetite quando houver a submissão a um animal hierarquicamente dominante.
Peso e condição corporal relacionam-se, mas devem ser cautelosamente avaliados. Sob diferentes dietas, animais podem ter pesos similares e bom escore corporal, mas composição corporal diferente (% de gordura corporal diferente). Com isso, apesar de o peso corporal possuir boa relação com o CMS, a maior percentagem de gordura corporal pode assumir o controle sobre o potencial de consumo graças a atuação da leptina, hormônio indutor da saciedade e que é sintetizado pelo tecido adiposo.
Apesar das fêmeas, em comparação com machos da mesma raça, tenderem a atingir mais cedo a maturidade fisiológica, iniciando a acumulação de gordura e liberação de leptina precocemente (levando ao efeito citado no parágrafo anterior), não há consenso na literatura quanto ao efeito da classe sexual sobre o CMS. Tais divergências resultam da dificuldade de quantificar o efeito isolado desse fator, havendo confusão com outras variáveis. Assim, fatores ambientais e genéticos parecem normalmente assumir maior relevância que a classe sexual em relação ao CMS.
Apesar de acima serem descritos apenas uma pequena parte da intrincada cadeia de eventos que culminam com o estímulo para consumir alimentos, nunca devemos esquecer que estes não agem isoladamente, e que a exposição aqui feita é meramente didática. É altamente recomendada a leitura de materiais, como o citado no fim do texto.
Esta é só a primeira parte de um conjunto de postagens sobre os “fatores reguladores do CMS”. Nas próximas partes discutirei sobre a importância dos fatores ambientais, principalmente, por sua importância para o estresse térmico. Após uma exposição geral, farei mais artigos, dessa vez abordando com detalhes cada um dos fatores que já foi apresentado.
*Esta revisão teve como referência o Capítulo 2 do BR Corte 2016, intitulado “Regulação e predição do consumo de matéria seca”, cujo link para acesso é: www.brcorte.com.br/br/livro2016/br