Bem-estar animal:
A pesquisadora brasileira Carla Forte Maiolino Molento (Doutora em Zootecnia), escreveu o artigo Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas – revisão, junto do pesquisador mundial Donald Broom (Biólogo). O artigo relata que para classificar bem-estar é preciso considerar os termos liberdade, felicidade, necessidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde, ou seja, todos esses fatores são necessários para um bom entendimento do significado de bem-estar. Relata também que o bem-estar pode variar até mesmo para indivíduos que residem no mesmo ambiente e que o termo pode ser aplicado para animais silvestres, em cativeiro (casa, laboratório e fazenda de produção) e também ao ser humano. Segundo Broom, o bem-estar do indivíduo é seu estado em suas tentativas de adaptar-se ao seu ambiente e isso se expressa na saúde física, emocional e psicológica do animal.
5 liberdades do animal:
- Livre de fome e sede;
- Livre de desconforto;
- Livre de dor, ferimento e doença;
- Livre para expressar o comportamento natural de sua espécie;
- Livre de medos e angústias.
Como avaliar o bem-estar animal de acordo com as 5 liberdades?
- Através dos 5 domínios, são eles:
- Nutrição;
- Ambiente;
- Saúde;
- Comportamento;
- Mental.
As 5 liberdades têm sido adotadas por profissionais como Biólogos, Veterinários e Zootecnistas influenciando na prática de manejo e bem-estar animal.
Enriquecimento Ambiental (EA):
Conceitos Fisiológicos: O cérebro em ambientes mais ricos possui maior frequência de sinapses e dendritos (célula nervosa) mais complexos, levando ao aumento da atividade cerebral. Com o aumento da atividade cerebral há uma melhor vascularização, neurônios se expandem e aumenta a neurogênese (formação de novos neurônios).
O EA é o enriquecimento das condições ambientais, e trata-se da criação de um ambiente interativo e complexo que permita ao animal cativo apresentar comportamentos naturais. Os objetivos da EA são:
- Aumentar a diversidade comportamental;
- Reduzir a frequência de comportamento anormal;
- Aumentar o alcance ou o número de padrões de comportamento normais, típicos da espécie;
- Aumentar a utilização positiva do ambiente;
- Aumentar a capacidade de lidar com os desafios de uma maneira mais normal.
A divisão do Enriquecimento Ambiental é composta por: alimentar, cognitivo, sensorial, físico, social e ocupacional.
Em um estudo do Neurocientista e Psicobiólogo Jaak Panksepp sobre o sistema emocional dos mamíferos, ele menciona que o animal que não possui o seu sistema SEEKING (BUSCA) ativo, sofre de depressão. Portanto, fornecer enriquecimentos para o animal, não humano e humano, na procura por comida e água, na socialização, na exploração de um novo ambiente, na resolução de um problema, o ajuda a ter uma vida mais saudável, mantendo o SEEKING ativo, evitando tédio, tristeza e consequentemente, a depressão.
Enriquecimento Ambiental Alimentar:
No livro “Antes de ter o seu cachorro”, do veterinário comportamentalista Ian Dunbar, ele diz que é um desperdício servir a comida do cachorro no pote, pois diminui a existência dele. Ou seja, não é maldade dificultar a alimentação do seu pet, é proporcionar uma melhor qualidade de vida, de acordo com as necessidades da sua espécie. O estudo da Juliana Damasceno sobre “Enriquecimento ambiental alimentar para gatos domésticos” afirma também que, os animais alojados em ambientes restritos sofrem de escassez de estímulos adequados para executar comportamentos exploratórios e isso faz com que tenham predisposição ao estresse e que tenham medo.
Enriquecimento Ambiental Cognitivo:
O lado cognitivo está presente em todas as atividades que ofertamos aos nossos animais cativos, como uma forma de desafio ou algo que o faça pensar, pois para tudo é necessário fazer um plano mental. O cognitivo é conhecido também como operacional, que são as atividades que envolvam a resolução de problemas seguidos por uma recompensa alimentar, afeto ou por brinquedo (Reforço Positivo). Enriquecimentos que estimulam a cognição podem reduzir os comportamentos agonísticos e aumentar as emoções positivas. Treinar animais através do condicionamento operante, pode ser considerado um tipo de enriquecimento cognitivo, então, treinos e atividades praticadas dentro de nossas casas fazem com que os nossos pets se sintam motivados cognitivamente.
Enriquecimento Ambiental Sensorial:
No ambiente selvagem os animais são submetidos a mudanças constantes dos estímulos sensoriais. O mesmo terreno pode sofrer inúmeras alterações e transformações no decorrer de poucos dias ou até horas. Portanto, animais mantidos em cativeiros e que não sofrem estímulos sensoriais sofrem danos fisiológicos e psíquicos por não poderem viver seus comportamentos naturais. Em um estudo com lobos guará, foi comprovado que os mesmos optaram por forragear a procura de alimento do que comer a comida disponível no cocho. Nossos sentidos sensoriais (olfato, paladar, tato, visão e audição) são as portas de entrada para conhecermos o mundo, então, é importante e necessário exercitarmos para termos uma boa qualidade de vida e oferecer o mesmo aos nosso pets.
Enriquecimento Ambiental Físico:
30 minutos de caminhada são suficientes para promover mais saúde para os nossos cãezinhos, pois promovem melhoria cardiovascular, emagrecimento, gasto de energia e outros benefícios. Atualmente os animais vivem em prédios e casas, não caçam e não se exercitam assim como quando tinham vida livre. A castração é outro fator de risco importante que gera obesidade em cães, pois muitos estudos sugerem a redução da taxa metabólica. A atividade física é a única que contribui para a neurogênese (formação de novos neurônios) e neurotrópicos (que a agem no sistema nervoso).
Enriquecimento Ambiental Social:
O EA Social visa oferecer oportunidades para que o animal possa interagir com os outros, tanto de sua espécie como de outras. É de extrema importância entender o estilo de vida do animal que está com você. Ele é um animal que na natureza viveria em grupo? Alguns animais raramente interagem entre si, até mesmo nos cuidados com os seus filhotes. O Lobo Cinzento (origem do cão doméstico) na natureza, vive em alcateia. Como são animais sociais, houve um impulso maior para criar um relacionamento dos cães com o ser humano, pois sua linguagem corporal é mais evidente. No entanto, a grande maioria dos felinos não vivem em grupo, incluindo a espécie que deu origem ao nosso gato doméstico, Gato Selvagem Africano. Para eles é mais difícil viver em grupo, mas não é impossível. Os biólogos chamam o momento entre a segunda e a sétima semana de vida deles de “período de socialização primária” e é nessa fase que o felino aprende a viver, não tendo medo do ser humano e do cotidiano doméstico. Aves que convivem somente com humanos (papagaios, psitacídeos) entram em depressão com agravante de transtornos obsessivos compulsivos. Mudanças no tamanho e na composição de grupos de animais, é uma forma de introduzir o enriquecimento ambiental social no cotidiano desses animais domesticados.
Qual o problema de não oferecer EA Social para um cão?
- Dificuldade para levar ao veterinário, problemas para dar banho, problemas para receber visitas em casa, ao receber crianças, problemas na hora do passeio, medo e agressividade, por essas razões é importante a socialização de nossos pets.
Referências:
- Podcast: Série Enriquecimento Ambiental (Meu Nome Não É Não)
- BROOM, D. ;MOLENTO, C.F. M. . Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas – revisão. Archives of Veterinary Science, Curitiba, v. 9, n.2, p. 1-11, 2004.
- 1964 Ruth Harrison – Animal Machines.
- CS GOULART. Enriquecimento ambiental, ansiedade, cognição e neurogênese hipocampal.
- Juliana Damasceno – Enriquecimento ambiental alimentar para gatos domésticos (Felis silvestris catus): aplicações para o bem-estar felino.
- Do animals have emotions? An introduction to Panksepp | Animated Series Ep 8
Respostas de 5
Muito bem explicadoooo!!! Adoreii, ótimo trabalho !!
Muito obrigada!
Ótimo trabalho, muito bem explicado!!