A microbiota intestinal é o conjunto de microorganismos, incluindo as bactérias benéficas (como Lactobacillus e Bifidobacterium), bactérias potencialmente patogênicas (como Escherichia coli e Clostridium perfringens), fungos, protozoários e vírus que possuem um papel fundamental no desenvolvimento e desempenho dos suínos, influenciando a digestão, a absorção de nutrientes, a saúde intestinal e o sistema imunológico.
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Composição e desenvolvimento da microbiota intestinal
- Nascimento: O intestino dos leitões é praticamente estéril ao nascer, sendo colonizado rapidamente por microrganismos provenientes do ambiente, leite materno e contato com a porca;
- Período neonatal: Durante as primeiras semanas de vida, ocorre o estabelecimento da microbiota inicial, com predomínio de bactérias fermentadoras de lactose e produtores de ácidos graxos voláteis (AGVs);
- Pós-desmame: Esta fase representa um dos maiores desafios, pois há uma drástica mudança alimentar, podendo levar a desequilíbrios da microbiota e maior incidência de diarreias pós-desmame.
Funções da microbiota intestinal
1 Digestão e absorção de nutrientes
- Bactérias fermentativas, como Lactobacillus e Bacteroides, auxiliam na digestão de carboidratos complexos (fibras e oligossacarídeos), produzindo ácidos graxos voláteis (AGVs), como ácido butírico, acético e propiônico, essenciais para a saúde intestinal e fonte de energia para os suínos;
- A microbiota também melhora a absorção de minerais essenciais, como cálcio, fósforo e ferro, modulando a expressão de transportadores intestinais.
2 Modulação do sistema imunológico
- A microbiota estimula o desenvolvimento das placas de Peyer e da imunidade de mucosa, aumentando a resistência contra patógenos;
- A presença de bactérias benéficas impede a colonização de microrganismos patogênicos por meio da exclusão competitiva, ocupando nichos ecológicos e competindo por nutrientes.
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3 Saúde intestinal e integridade da barreira epitelial
- A produção de ácidos graxos voláteis reduz o pH intestinal, dificultando a proliferação de bactérias patogênicas como Salmonella e E. coli;
- O ácido butírico fortalece as junções epiteliais, prevenindo a translocação bacteriana e reduzindo a inflamação intestinal.
Impacto no desempenho zootécnico
- Melhor conversão alimentar (redução da taxa de consumo de ração por quilo de ganho de peso);
- Maior ganho médio diário (GMD);
- Redução da incidência de diarreias e doenças entéricas;
- Menor necessidade de antibióticos, contribuindo para a redução da resistência antimicrobiana.
Fatores que afetam a microbiota intestinal dos suínos
1 Dieta e nutrição
- Fibras fermentáveis (polissacarídeos não amiláceos, como pectinas e β-glucanos) estimulam o crescimento de bactérias benéficas;
- Probióticos e pré-bióticos auxiliam na manutenção de uma microbiota saudável;
- Níveis elevados de proteína na dieta podem favorecer o crescimento de bactérias putrefativas, resultando na produção de metabólitos tóxicos.
2 Uso de antibióticos
- O uso indiscriminado de antibióticos pode levar à disbiose (desequilíbrio da microbiota) e resistência bacteriana. Alternativas como aditivos naturais e ácidos orgânicos são estratégias para substituir antibióticos promotores de crescimento (APCs).
3 Estresse e manejo
- O desmame precoce e o transporte são fatores de estresse que alteram a microbiota, favorecendo bactérias patogênicas e aumentando a incidência de diarreia.
Estratégias para o equilíbrio da microbiota intestinal
1 Uso de probióticos e pré-bióticos
- Probióticos: Contêm microrganismos benéficos vivos (Lactobacillus spp., Bifidobacterium spp., Bacillus spp.) que competem com patógenos e melhoram a digestão;
- Pré-bióticos: Compostos não digeríveis (fruto-oligossacarídeos, mananoligossacarídeos) que estimulam seletivamente o crescimento de bactérias benéficas.
2 Inclusão de ácidos orgânicos
- Ácidos como butírico, fumárico e lático reduzem o pH intestinal e inibem bactérias patogênicas;
- Melhoram a digestibilidade da ração e fortalecem a barreira intestinal.
3 Enriquecimento da dieta com fibra funcional
- Fibras solúveis (pectinas, β-glucanos) promovem a fermentação benéfica e a produção de AGVs;
- Fibras insolúveis (celulose, lignina) estimulam o peristaltismo e reduzem a colonização de patógenos.
4 Redução do estresse no manejo
- Um manejo adequado no desmame (transição gradual de dieta líquida para sólida) reduz o impacto negativo na microbiota intestinal;
- O transporte e a adaptação a novas instalações devem ser feitos de forma controlada para minimizar estresse e prevenir disbiose.
Conclusão
A microbiota intestinal desempenha um papel essencial no desenvolvimento, saúde e desempenho produtivo dos suínos. Estratégias nutricionais e de manejo são fundamentais para garantir um equilíbrio microbiano benéfico, melhorando a eficiência alimentar, fortalecendo a imunidade e reduzindo a necessidade do uso de antibióticos.
A aplicação dessas práticas na suinocultura moderna pode resultar em animais mais saudáveis, produtivos e com maior bem-estar.