
Um dos principais problemas enfrentados pelos produtores no Brasil está relacionado ao ambiente em que os animais estão alojados. Na suinocultura as instalações destinadas à maternidade são as que exigem maior atenção, pois há duas categorias distintas que devem ser atendidas em termos de conforto térmico-ambiental.
Dessa forma, a fase da maternidade é crucial na criação de suínos, exigindo que as necessidades dos leitões e das matrizes sejam atendidas em um único ambiente. Para as matrizes, a faixa de conforto térmico varia entre 16°C e 21°C (FERREIRA, 2019).
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Por outro lado, leitões recém-nascidos, que apresentam temperatura retal em torno de 39,3°C (temperatura interna do útero da porca), são expostos a um ambiente significativamente mais frio ao nascer. A temperatura corporal normal dos suínos ao nascimento é de 39°C; contudo, se estiverem em um ambiente inadequado, essa temperatura pode cair de 2°C a 5°C nas primeiras 35 horas após o parto, devido às condições ambientais desfavoráveis.
Cuidados com os leitões
Os leitões recém-nascidos têm menor capacidade de manter a temperatura corporal, pois possuem menor isolamento térmico dos tecidos, menos pelos, e uma maior razão entre área de superfície e massa corporal. Essas características facilitam a perda de calor corporal, tornando-os menos tolerantes ao frio. A hipotermia neonatal é uma preocupação, pois pode reduzir a atividade motora e a ingestão de colostro (de 17,2g para 12,3g por mamada), aumentando a incidência de doenças e o risco de esmagamento pelos próprios animais.
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Ao nascer, os leitões possuem baixas reservas de energia, com apenas 1% a 2% de gordura corporal, suficiente para sustentar o animal por 15 a 20 horas, se utilizada de forma eficiente. Embora possuam tecido adiposo marrom, a quantidade não é suficiente para aquecer o corpo nas primeiras horas de vida. Durante esse período, os leitões experimentam vasoconstrição periférica, calafrios e aumento da taxa metabólica, mas essas reservas se esgotam nas primeiras 12 horas de vida. Um estudo de Ferreira et al. (2007) com leitões recém-nascidos, geneticamente selecionados para deposição de tecido magro, revelou que os animais tentam regular a temperatura corporal a partir da nona hora de vida (FERREIRA, 2019).
A tolerância ao frio está positivamente correlacionada com o peso ao nascer, sendo que leitões mais pesados tendem a ser mais tolerantes ao frio (FERREIRA, 2019). Estima-se que a temperatura de conforto dos leitões recém-nascidos possa ser reduzida em 1°C a 4°C nas primeiras 24 a 48 horas após o nascimento, à medida que adquirem a capacidade de produzir calor a partir dos alimentos e do colostro.
Como prevenir a hipotermia?
Para prevenir a hipotermia, é fundamental um manejo adequado, incluindo o fornecimento de fontes de calor adicionais. Essas fontes devem ser ativadas antes do parto e devem fornecer aquecimento localizado no microambiente dos leitões, sem afetar a temperatura do ambiente da porca. Um escamoteador, que pode ser uma caixa de madeira ou alvenaria, é usado para controlar esse microambiente.
Nas primeiras horas de vida, os leitões instintivamente buscam o úbere da porca, que, se não houver um escamoteador, é a principal fonte de calor na maternidade, especialmente devido à atividade das glândulas mamárias na produção de leite. No entanto, essa proximidade aumenta o risco de esmagamento. O uso do escamoteador ajuda a reduzir a mortalidade por esmagamento e, para que os leitões se acostumem a utilizá-lo, é necessário treiná-los, mantendo-os no escamoteador logo após o nascimento, soltando-os apenas para mamar.
Adote práticas de manejo!
A adoção de práticas de manejo adequadas, como o controle do microambiente térmico e o uso de escamoteadores, são essenciais para garantir o bem-estar dos animais e otimizar os índices de produtividade. Dessa forma, o sucesso na criação de suínos depende diretamente de um ambiente de maternidade bem planejado e executado, que atenda às necessidades específicas tanto das matrizes quanto dos leitões.
REFERÊNCIAS
SILVA, Hellen Lopes et al. MANEJO TÉRMICO NAS FASES DE MATERNIDADE E CRECHE NA SUINOCULTURA. In: Anais Colóquio Estadual de Pesquisa Multidisciplinar (ISSN-2527-2500) & Congresso Nacional de Pesquisa Multidisciplinar. 2019.
SILVA, Layssa Oliveira da. Tipos de maternidade na suinocultura: adequações visando o bem-estar de matrizes. 2021.
FERREIRA, R. A. Maior Produção com Melhor ambiente: Para aves, suínos e bovinos. 3. ed. Viçosa Mg: Aprenda Facil, 2019. 528 p.
SCHELL, D. R.; DE OLIVIERA, M. M.; DE OLIVEIRA, P. A. V. Influência de sistemas de aquecimento na ambiência de escamoteadores. 2017.
FERREIRA,Italo. Cuidados essenciais na suinocultura durante a fase da maternidade. BTA Aditivos, 2021. Disponível em: btaaditivos.com.br
FERREIRA, Rony Antonio et al. Comportamento e parâmetros fisiológicos de leitões nas primeiras 24 horas de vida. Ciência e Agrotecnologia, v. 31, p. 1845-1849, 2007.